segunda-feira, 7 de março de 2011

A gênese do Baile do Havaí, do Olímpico Clube


No início dos anos 70, os chamados clubes da elite local (Ideal, Rio Negro, Bosque, Olímpico e Cheik) eram frequentados exclusivamente pelos sócios e seus familiares, e por um ou outro convidado da diretoria.

Os tais clubes eram verdadeiras fortalezas medievais inexpugnáveis aos mortais comuns, leia-se populacho, arraia miúda, moçada suburbana, trabalhadores, estudantes, gente da periferia e arredores.

Naquela época, as festas-bailes mais badaladas da cidade eram a “Papinha”, que rolava aos domingos, na boate Moranguinho, do Ideal Clube, e o “Mingau”, realizado aos sábados, no Cheik Clube.

Era nesses dois exclusivíssimos hot points que a juventude dourada ia brilhar, porque ali o populacho não entrava.


Em março de 1972, o advogado Almério Botelho, pai do atual presidente do Olímpico Clube, Almerinho Botelho (aí na foto, vestido com as roupas de Jorge), e que na época também exercia a presidência do clube, havia iniciado a construção do Parque Aquático da agremiação, por conta de um vultoso empréstimo da Caixa Econômica Federal.

Para honrar o pagamento do empréstimo, o Olímpico Clube começou a realizar uma festa-baile às sextas-feiras e sábados, que passou a ser conhecida como “Rum & Coca-Cola”, aberta ao público.

Quem pagava ingresso, entrava – independente de cor, raça, credo ou status social.

O nome do baile era uma alusão ao drinque “cuba libre”, o mais consumido pela juventude proletária.

Para a elitista sociedade amazonense, aquilo soou como uma heresia: onde já se viu deixar a turma da senzala frequentar os salões da casa grande?

O Olímpico Clube passou a ser considerado a ovelha negra da família.

Ocorre que os sócios do Olímpico Clube, na sua grande maioria, não freqüentavam o clube e nem pagavam a mensalidade.

Como a Caixa Econômica Federal estava pouco se lixando para esses detalhes técnicos, os diretores do charmoso “Clube dos Cinco Aros” não deram a mínima para os beicinhos de desaprovação da galera do nariz empinado e começaram a desenvolver novas estratégias para atrair público e novos associados e, consequentemente, fazer caixa para pagar o empréstimo.


O colunista Gil e o jornalista Umberto Calderaro

O colunista Gil, que nessa época era o mais famoso colunista de Manaus, nunca havia freqüentado um baile de carnaval no Olímpico Clube.

O advogado Ary de Castro Filho era o diretor responsável pelo carnaval. Era ele que contratava a orquestra, definia o preço da mesa e dos ingressos, e inventava tudo o que fosse possível para fazer dinheiro.

Em 1976, os diretores Luís Carlos (“Cacau”) e Afonso Botelho, irmão do Almério, estavam vendendo as mesas para o baile “Chegada da Kamélia”, numa área externa que ficava próxima à escada que levava ao salão reservado pra diretoria.

Quando Ary estava descendo a escada, ele viu o colunista Gil comprando uma mesa para a festa.

Gesticulando sem que o colunista percebesse, Ary mandou Cacau, que era seu irmão, aplicar o estratégico “Plano A”.

Assim que Gil escolheu a mesa e pagou, Cacau pegou o cheque do colunista e começou a rasgar, deixando Gil à beira de um ataque de nervos.

Qualé? Aquele clube metido a besta estava achando que seu cheque não tinha fundos e lhe fazendo uma desfeita daquele quilate? Eles iam ver uma coisa...

Antes que Gil subisse no salto e começasse a rodar a baiana, Ary já estava abraçando ele, efusivamente, com um sorriso exuberante:

– Meu querido amigo Gil, eu mandei o Luís Carlos rasgar o seu cheque porque já deixei uma mesa pra você na portaria do jornal. Você é nosso convidado de honra e vai se sentar junto com a Diretoria! –, derreteu-se o advogado.

Retirando o marcador do local do mapa que Gil havia escolhido, Cacau entregou-lhe os ingressos da festa.

Pedindo mil desculpas por haver feito a entrega da mesa de forma inadequada, Ary acompanhou o colunista até seu (dele) carro e Gil, feliz da vida, foi pra redação do jornal.

À noite, Gil compareceu ao clube e como os demais diretores estavam em mesas próximas da sua de propósito, eles ficaram pajeando o colunista e se derretendo em amabilidades.

Numa determinada hora, quando o calor senegalês no interior do clube já estava provocando insolação, Gil indagou a Ary se podia tirar a camisa para resfriar um pouco o corpo.


O advogado nem titubeou. Se o colunista que ditava as normas de etiqueta do grand monde baré entendia que era perfeitamente normal tirar a camisa durante um baile de carnaval, não seria ele que iria discordar, apesar da presepada nunca ter sido feita antes em clube algum.

Não havia se passado nem 10 minutos, quando surgiu no local um sargento, acompanhado de dois meganhas, determinando que o colunista vestisse a camisa imediatamente sob pena de ser retirado do clube por “violento atentado ao pudor, à moral e aos bons costumes”.

Ele ponderou amigavelmente com o sargento sobre as inclementes questões anormais de pressão e temperatura ali naquele recinto, informando delicadamente que o diretor Ary de Castro Filho o havia autorizado a tirar a camisa, mas o sargento estava irredutível.

Ary entrou na quizumba, enquadrando o sargento:

– Escuta aqui, meu chapa, quem autorizou ele a ficar assim fui eu! Ele é meu convidado e não vai vestir a camisa nem vai ser colocado pra fora porque o responsável pela festa sou eu! Entendeu? Quem manda aqui sou eu!

Pra mostrar que estava falando sério, Ary tirou a sua própria camisa e ficou de peito desnudo, encarando os meganhas.

No mesmo instante, o velho João Ricardo, sócio fundador do clube, também tirou a camisa dele e todos os diretores que se encontravam nas proximidades da mesa do colunista foram tirando as camisas.

Os meganhas ensaiaram um tímido pedido de desculpas, colocaram os rabinhos entre as pernas e foram embora.

Devido ao calor excruciante, o frágil e franzino Gil acabou passando mal e foi levado pelo médico Agostinho Masullo para a secretaria que servia de departamento médico, onde foi medicado.

Assim que se recuperou do mal estar, Gil foi embora.

A atitude de Ary, de ter se solidarizado com o colunista no suposto “atentado ao pudor, à moral e aos bons costumes”, foi duramente criticada na reunião da Diretoria, que ocorreu logo após a festa.

Passado o carnaval, exatamente na quarta-feira de cinzas, Gil fez rasgados elogios sobre a festa do Olímpico, dedicando a página inteira de sua coluna para falar sobre o baile “Chegada da Kamélia”, tendo se transformado em torcedor do Olímpico desde criancinha.


A partir dali, todas as promoções do “Clube dos Cinco Aros” eram amplamente divulgadas na coluna social mais lida de Manaus.

Em julho daquele ano, Almério Botelho, sem tempo para cuidar de seus próprios interesses particulares, resolveu abrir mão da presidência do clube após um mandato memorável de quase seis anos.

Ele informou aos demais membros do Conselho Deliberativo que havia convidado o economista Ruy Alberto Costa Lins para ocupar seu lugar e que este havia aceitado.

Economista da primeira turma da Faculdade de Ciências Econômicas da UA, Ruy Lins havia imposto algumas condições para aceitar a presidência do Olímpico: queria carta branca para agir e o próprio Ruy Lins escolheria a sua própria Diretoria formado por pessoas de sua estrita confiança.

Em outras palavras, Ruy Lins queria uma diretoria sem a participação das pessoas que estavam na diretoria do Almério Botelho, procurando, com isso, sinalizar que iria mudar totalmente a forma de administrar o clube.

Mesmo sendo colocados compulsoriamente para escanteio, os diretores concordaram.


Uma semana antes da eleição formal que lhe daria posse, Ruy Lins desistiu da presidência do clube dos cinco aros: ele acabara de ser convidado pelo ministro do Interior Mário Andreazza para assumir um cargo federal (dois anos depois, Ruy Lins estaria assumindo a superintendência da Suframa).

O então presidente Almério Botelho convocou uma reunião extraordinária do Conselho Deliberativo para discutir o problema e encontrar uma nova solução.

Na hora em que ele perguntou se algum dos diretores ali presentes aceitava o cargo, os 35 diretores, como se treinassem nado sincronizado, se abaixaram ao mesmo tempo para amarrar os cadarços dos sapatos.

O único que permaneceu sentado do mesmo jeito foi o advogado Ary de Castro Filho, porque estava usando mocassim e não havia escutado a pergunta direito.

Na mesma hora, ele foi nomeado presidente do clube para o período 1977-1979, sendo depois reeleito para o biênio 1980-1981.

Antes de Almerio Botelho deixar a Presidência do clube, foi feito um churrasco de confraternização na área onde hoje funciona a Academia do Olímpico para mostrar o andamento das obras.


As piscinas já estavam azulejadas, o que permitia a utilização provisória do Parque Aquático.

Ary de Castro Filho começou a exigir a presença dos diretores no local, aos sábados e domingos, para participarem de churrascos (durante muito tempo, a churrasqueira era feita de um barril de ferro cortado ao meio) e rodas de pagode improvisadas.

Foi nessas rodas de pagode que nasceu o grupo Pró-Álcool, de Mário Toledo, Cid Sete Cordas, Arnaldo Fimose, Helinho do Parque, Manuel Batera, Paulo Peruka, Cledson Cléclé, George Jucá, Ary de Castro Filho e tantos outros.

O Parque Aquático foi inaugurado oficialmente no réveillon daquele ano, mas ainda precisava de acabamento em vários setores.

Era necessário achar novas fontes de financiamento para a obra.


As comemorações oficiais do carnaval de Manaus começavam com a chegada da boneca Kamélia, no Porto de Manaus, que recebia as chaves da cidade do prefeito, simbolizando que a partir dali a cidade estava sob o comando do Rei Momo.

Do Porto, a boneca Kamélia saía em carreata pelas principais ruas e avenidas de Manaus até a sede do Olímpico, para comandar o baile daquela noite.

O Olímpico mantinha a tradição de realizar dois bailes carnavalescos para adultos (“Chegada da Kamélia” e “Despedida da Kamélia”) e dois bailes carnavalescos infantis.

O baile “Chegada da Kamélia” era sempre realizado no sábado magro, enquanto “A Despedida da Kamélia” ocorria na segunda-feira gorda, junto com o “Baile de Gala” do Atlético Rio Negro Clube, que exigia traje passeio completo ou fantasia.

A partir de 1973, entretanto, o Ideal Clube começou a realizar o “Baile da Cidade”, no sábado gordo, que, supostamente, marcava o início oficial do carnaval de Manaus.


Um dos objetivos do “Baile da Cidade” era reviver o esplendor dos grandes e glamourosos eventos carnavalescos da belle époque, com as mulheres usando vestidos longos, máscaras e arranjos na cabeça, e os homens, de black-tie, com chapéus panamá ou outros adereços na linha coronéis de barrancos.

Desde a adolescência, o advogado Ary de Castro Filho achava uma tremenda bobagem alguém vestir smoking para pular carnaval dentro de clubes em que a temperatura ambiente se aproximava dos 50ºC.

Em 1978, o baile “Despedida da Kamélia”, seria realizado na segunda-feira gorda, dia 7 de fevereiro.


Completamente obcecado pela necessidade de fazer caixa para honrar os compromissos financeiros do clube, Ary convocou a sua diretoria e anunciou a novidade: ele resolvera fazer um terceiro baile de carnaval adulto, dessa vez na área externa do recém-inaugurado Parque Aquático e totalmente ambientado nos mares do sul.

Estava nascendo o “Baile do Havaí”, que seria realizado na sexta-feira gorda, dia 4 de fevereiro de 1978, exatamente na véspera do glamouroso “Baile da Cidade”, do Ideal Clube, para marcar a diferença entre as duas propostas.


Traje sugerido para os homens: bermudas, chinelos e camisas brancas ou estampadas.

Para as mulheres: sarongues, pareôs florais usados com top de biquíni ou vestidos modelo frente-única com maxi flores estilo havaiano. Mais despojado, impossível.


O primeiro problema a ser contornado pelo presidente era a famosa “confusão das mesas”.

Naquela época, as pessoas compravam mesas no clube e ficavam em casa enchendo a cara para não gastar dinheiro com a bebida, supostamente mais cara, vendida no clube.

Quando chegavam ao clube, por volta da meia noite, o baile já estava pegando fogo e, evidentemente, também encontravam as suas mesas ocupadas por outras pessoas.

Era um “pára pra acertar” da muléstia, com discussões e ânimos exaltados de parte a parte, o que, convenhamos, tirava os diretores (e os seguranças) do sério.

Para evitar esse problema, cada mesa adquirida para o “Baile do Havaí” daria direito a quatro medalhões de Filé Tropical, quatro belas flores naturais (hibiscos, que davam bem o tom do baile havaiano) para serem usadas nos cabelos, quatro colares de flores e uma garrafa de uísque Passport, também conhecido como “General”, porque a garrafa era verde, quadrada e cheia de medalhas...


Para cobrir os custos da bebida de graça, colares, flores naturais e medalhões de filé para as quatro pessoas das mesas, seria necessário a venda de no mínimo 80% das mesas.

Na base da propaganda boca a boca, os diretores conseguiram uma venda antecipada, em forma de reserva a confirmar, de quase 100% das mesas.

No começo da semana do baile, exatamente no domingo, o clima de Maneaux City enlouqueceu de vez e passou a chover todo santo dia.

Verdadeiros dilúvios tropicais se abatiam sobre a cidade a partir do meio dia se prolongando, às vezes, até a meia noite.

Mesmo enfrentando diariamente a fúria de São Pedro, os diretores trabalhavam duro para transformar o Parque Aquático em um cenário digno de um luau em Maui, seja enchendo as jardineiras com terra preta, seja plantando coqueiros já adultos, seja localizando plantas aquáticas para embelezarem as piscinas.


Ary Castro e João Martins, presidente do Conselho Deliberativo

E, conforme o temporal diário continuava, as pessoas iam disciplinadamente desistindo das mesas já reservadas. Um baile a céu aberto debaixo do maior temporal? Nem com beijinho na boca...

Desesperado, Ary de Castro Filho fazia todo tipo de simpatia para acabar com o aguaceiro: cruzava garfos e facas no terreiro, colocava sal grosso dentro de caixa de fósforos, jogava gato preto dentro de cacimba, enterrava cabeça de galinha picota em pé de bananeira, batia tambores em louvor de Iansã, derramava marafo nas encruzilhadas em louvor a Xangô...

Tudo inútil. O dilúvio continuava. O esperado baile estava mesmo indo para o vinagre.


Na quinta-feira, ele falou para o jornalista Paulo José, diretor de Marketing da Brahma, que se ocorresse mais um cancelamento de mesa o baile seria suspenso.

Nesse mesmo dia, o colunista Gil apareceu na sala da secretaria com a alegria de sempre e, depois de cumprimentar todo mundo, quis saber como estavam os preparativos para o aguardado baile.

O colunista havia ficado tão ligado ao clube, que tudo que acontecia lá dentro agora também lhe dizia respeito.

Ary e Paulo José levaram o colunista para um local mais reservado e o informaram sobre o provável cancelamento do baile por conta das desistências das mesas.

Depois de ouvir o presidente do clube, Gil foi peremptório:

– Meu amigo, não é porque hoje eu estou escrevendo no Jornal do Comercio (ele havia saído do jornal A Critica em outubro de 1977) que eu deixei de ser o Gil. A festa não vai ser cancelada. Vamos trabalhar! Só me diz quanto custa cada mesa e deixa uma pessoa colada em um telefone aqui na secretaria. O resto é comigo!

Dito isso, Gil se despediu de Ary e Paulo José e foi embora.

Dali a pouco, a cada 15 minutos ele telefonava para uma atendente na secretaria do Olímpico, informando o nome e o endereço da pessoa a ser procurada.

Aí, era só levar a mesa e receber o dinheiro na hora. Mais fácil do que pescar em bilha!

O colunista fez a festa praticamente sozinho, pois vendeu mais de 50 mesas e o clube, que até então era olhado com desdém pelas socialites, ficou repleto delas.

E seu santo era tão forte que na sexta-feira, de uma hora pra outra, parou de chover e uma lua esplendorosa reluziu no céu.

Daí em diante, era o saudoso colunista Gil Barbosa quem fazia a cabeça das pessoas criando o clima das festas do Baile do Havaí.


O certo é que os pequenos mimos oferecidos no “pacote” fizeram com que os foliões chegassem ao clube por volta das 10h da noite, ocupassem suas mesas civilizadamente, desfrutassem dos medalhões de filé e do uísque e só então caíssem na gandaia.

No jornal A Notícia, o colunista Carlos Aguiar não poupou confetes sobre o baile, conforme transcrição abaixo:


No painel, alguns lances do sensacional Baile do Hawaí, acontecido sexta-feira, nas dependências aquáticas do Olímpico Clube.

Para receber os quase dois mil foliões, a diretoria do clube dos Cinco Aros idealizou um décor dos mais fantásticos, onde palmeiras por todos os cantos, as nossas vitórias-régias e outras flores aquáticas brilhavam nas águas azuis das piscinas, que refletiam a euforia dos foliões, quase todos envergando bermudas ou calças brancas com camisas floridas e outras fantasias estilizadas. Enfim, foi uma noitada Nota Dez.


Antônio José de Mattos Areosa e Tônia Seixas não pararam um só minuto (foto 1)


Já a Mara Oliveira e o Firmino Bastos às vezes ficavam estáticos e diziam: “é uma loucura, minha gente!” (foto 2)


O mesmo acontecendo com a estonteante Norminha Esteves (foto 3)


Outra figura que esbanjava simpatia era a Lulú Lindoso, que queria ficat até o sol raiar, mas seu marido, o empresário Betuel Lindoso, já estava um pouco cansado e queria ir embora mais cedo. Ele é irmão do futuro governador José Lindoso (foto 4).


Com a garrafa de cerveja na mão e o sorriso aberto no rosto, Carlinhos Vasques, acompanhado de sua bonita mulher Maely, esqueceram os pedidos de reserva em seu Hotel Amazonas e caíram na folia (foto 5)


Com um decote generoso, Silvinha Brasil ouriçou as mesas com um samba cadenciado nos pés. Aqui ela faz uma pausa para ser fotografada (foto 6)


Quase esmagada ficou a charmosa Lígia Fraxe, ao ser abraçada por duas amizades: Renatinho Simões e Jorginho Vasques. Mas tudo é carnaval (foto 7)


Quem não estava nem aí com a animação era a Aury Rocha (foto 8


Ricardo Pereira não sabia se sambava ou dava apoio para a Socorro Leite, pois as pernas da cadeira estavam bambas (foto 9)


Braga Netto parece que estava dançando preocupadíssimo. Vejam seu olhar (foto 10)


Lígia Fraxe realmente foi a mais solicitada. Aqui o Lindolfo Nogueira ampara a belíssima mulher (foto 11)


Renatinho Fradera tentando convencer a gatinha a cair na folia. Será que ela aceitou o convite? (foto 12)


João Caram Filho sempre bem acompanhado (foto 13)

O Olímpico Clube ainda tinha estacionamento próprio para uns 300 carros, cujo pedágio ficava para o Departamento de Natação.

Por conta dessa grana, os nadadores do Olímpico, quase todos também praticantes de judô e jiu-jitsu, eram responsáveis pela segurança do estacionamento e, nos anos 80, formariam a temida posse “Os Peixes”.

Dentro dos carros, valia tudo em termos de tiração de sarro: a boca naquilo, aquilo na boca, aquilo naquilo, a mão naquilo, aquilo na mão e outras variações possíveis.

Os foliões só não podiam sair do veiculo em trajes menores ou completamente pelados.


E isso em se tratando de um baile em que o traje preferencial era o sarongue e o pareô, e a mulherada estava pagando peitinho geral...

No Baile do Havaí também foi montando pela primeira vez na cidade um departamento médico para atendimento exclusivo dos foliões.

Comandado por dois médicos, Quiroga e Agostinho Masullo, ambos sócios e diretores do clube, com direito a balão de oxigênio e o apoio de duas belíssimas enfermeiras, qualquer folião que passasse mal era prontamente atendido pelo departamento médico.

A grande sacanagem dos dois médicos era aplicar injeções de thiaminose ou gluconergan nos foliões que já estavam mais desmantelados do que galope de vaca.

Resultado: depois de 15 minutos, o sujeito estava completamente careta em um local onde todo mundo estava pra lá de Marrakesh.


Ary Castro e Ricardo Monteiro de Paula

Mas as novidades não pararam por aí.

Em janeiro daquele ano, Ary de Castro Filho estava tomando um chope no térreo do edifício Maximino Corrêa, próximo da loja de discos “Ponto”, do radialista Joaquim Marinho, quando Messias Lima, diretor financeiro da Moto Honda da Amazônia, estacionou um ônibus em frente ao boteco.

Messias Lima havia montado um grupo de pagode só com funcionários da empresa, que batizara de Sambarca Show, e queria saber se o advogado poderia indicá-los para tocar em algum bar da cidade porque a moçada era muito boa.

Ary foi apresentado aos cerca de 20 batuqueiros, muito deles oriundos do Rio de Janeiro, e, na mesma hora teve um estalo de Vieira: convidou o Sambarca Show para se apresentar no Baile do Havaí, na primeira semana de fevereiro.

No dia do baile, ninguém sabia de nada.

Quando estava para terminar a primeira hora da orquestra, os membros da bateria, que estavam todos com a camisa da Moto Honda, de calças e tênis brancos, foram subindo para o palco, disciplinadamente, e se posicionando em seus lugares.

Foi uma cena antológica, porque ninguém sabia o que estava acontecendo.

Bailes de carnavais eram feitos exclusivamente com instrumentos de sopros.

O que qui aquela galera de percussionistas e, ainda por cima, formada por operários do Distrito Industrial, estava fazendo ali?...

Quando a bateria estava completa, foi dado um corte na orquestra e o Sambarca Show começou a tocar os sambas de enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro, misturado com o autêntico samba de raiz (pagode, partido alto, jongo, caxambu).

Depois de uma hora de apresentação, eles foram substituídos pela orquestra para retornar uma hora depois, e os dois grupos ficaram se revezando no baile até o final da festa, já com o sábado gordo amanhecendo.


Vitória Dantas e Tander Verçosa

Os foliões foram a loucura. Pela primeira vez era possível conciliar marchinhas carnavalescas com sambas de enredo e sambas de raiz, a mesma fórmula adotada pela BICA uma década depois.

A partir daquele baile, o Sambarca Show se tornou presença obrigatória nas festas do Olímpico.

E diante do sucesso do baile, todos os outros clubes de Manaus, daquela data em diante, não puderam mais fazer carnaval sem colocar uma bateria tocando sambas de enredo e sambas de raiz junto com a tradicional orquestra de sopros.

Com o lucro obtido nos três bailes de carnaval adultos, Ary de Castro Filho começou a quitar o empréstimo da Caixa Econômica Federal e acelerou a conclusão do Parque Aquático, que teria suas obras concluídas definitivamente em 1981.

Assim nascem as lendas.

3 comentários:

  1. Sensacional essas reminiscências de um passado não tão distante... como diria o gil: manô de mil contrastes...
    Jorge Vasques

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  2. Maravilhoso! E o Olímpico continua crescendo e inovando nas mãos do presidente Almerinho Botelho. O Butiquim da Kamélia caiu nas graças da população e rescata o bom samba de raíz, todos os sábados, no Pavilhão São Jorge, a partir das 17 horas. Quem ainda não foi, confira. É demais!
    Kenir Góes

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  3. MUITO BOM RECORDAÇÕES DE VELHOS CARNAVAIS, SEMPRE NA CADENCIA E NA GINGA DO SAMBA.

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