quarta-feira, 30 de março de 2011

O início de uma rivalidade histórica: Andanças de Ciganos e Sem Compromisso


No centro da foto, o gente fina Antonio Carriço, falecido em dezembro do ano passado, em um dos carnavais em que desfilou pela Vitória Régia

Em 1976, no mesmo ano em que o Andanças de Ciganos estava desfilando pela primeira vez, um grupo de moradores da rua Comendador Clementino, no centro de Manaus, fundou o bloco “Unidos da Comendador”.

Entre os fundadores estavam Antonio José Requeijo Carriço, Jacomo Lobo, Raimundo Mauro Negreiro, José Lobo Filho (aka “Lobinho”), Getúlio Lobo, Américo Chã, Luiz Sálvio, Luso Ramos, Rinaldo Buzaglo, Celito Chaves, Clóvis Rodrigues, Otílio Lázaro Tomé, Deoson Negreiro, Fortunato Mauro Teixeira, Gilfrânio Napoleão, Carlos Alberto de Lima Seabra, Paulo Roberto da Silva, Vidal José Lobo, Auzier da Rocha Nina, Luiz Mário da Silva, Álvaro Francisco Neves, Francisco de Assis Mourão, Júlio Rocha, Aureliano Rodrigues, Paulo Marinho, Carlos Alberto (aka “Kiru”), Ricardo Marinho, Esmeralda Lobo Fontes, Paulo Soares Neves, João Barros Carlos, Luiz Carlos (aka “Lula”), Clemilton, Aércio Gusmão, Rui Barbosa, Leni da Rocha Nina, Margareth Marinho Chã, Almir Barros Carlos e Carlos Alberto Ramalhosa.

A ideia da moçada era apenas se divertir durante o desfile e nada mais.

Três anos depois, no dia 24 de dezembro de 1979, surgiu, entre eles, a ideia de criar um bloco de carnaval verdadeiramente competitivo, para desbancar o então hegemônico bloco Andanças de Ciganos e colocar um pouco mais de pimenta na disputa, já que o bloco da Cachoeirinha não tinha concorrente.

Da conversa entre os brincantes, surgiu o nome “Sem Compromisso”, sugerido pelo músico Assis Mourão, que sinalizava para uma postura mais livre, leve e solta, mais “descompromissada”, digamos assim, com a rigidez dos blocos de enredo.

As cores (amarelo e preto) adotadas pelo bloco, eram uma homenagem ao encontro das águas, sendo o preto, o rio Negro, e o amarelo, o rio Solimões.

Como símbolo do bloco foi escolhido o tucano, por ser um pássaro da fauna amazonense e ter como cores predominantes em sua plumagem o amarelo e o negro.


O cantor Pedrinho Ribeiro e o músico Assis Mourão, durante uma apresentação no bar Chefão

Em 1980, com o enredo “Jurupari – O Encanto da Selva”, o bloco Sem Compromisso desfila pela primeira vez na avenida.

Apesar das fantasias e alegorias bem elaboradas, o bloco conquista apenas o terceiro lugar.

Em vez de chorar sobre o leite derramado, o Sem Compromisso não perde tempo para ir à forra no ano seguinte.

Olheiros foram despachados para o Rio de Janeiro, com o intuito de saber as novidades que estavam rolando nas escolas de samba – e não nos blocos, como seria de se esperar.

Vários carnavalescos, aderecistas e figurinistas foram contratados a peso de ouro e se mudaram de malas e cuias para Manaus.

O bloco estava disposto a revolucionar o carnaval de rua amazonense. Conseguiu.

No ano seguinte, o Sem Compromisso trouxe como enredo “O Mundo Encantado das Crianças”, onde homenageava o dramaturgo Américo Alvarez (mais conhecido como “Vovô Branco”), um dos baluartes do teatro infantil em nosso Estado.


As fantasias riquíssimas, os carros alegóricos fantásticos, as alegorias de extremo bom gosto, e as mulheres, de uma beleza deslumbrante, iluminaram a avenida.

O bloco também apresentou em seu desfile os mais conhecidos personagens infantis das histórias em quadrinhos de Walt Disney, além de personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, genial criação do escritor Monteiro Lobato.

O cantor Américo Madrugada, acompanhado de Rinaldo Buzaglo, Macca e Celito, defendeu o samba-enredo no gogó e levantou a galera nas arquibancadas. Foi um massacre.

O desfile do Sem Compromisso foi tão apoteótico, que o então governador do Estado, José Lindoso, praticamente intimou o bloco a repetir a dose na abertura do desfile das escolas de samba, que passara a acontecer na terça-feira gorda.

O bloco Andanças de Ciganos, que havia feito um bonito desfile, com o enredo “Saravá, Vinicius de Moraes!”, onde homenageava um dos melhores poetas de nossa língua, ficou inconformado com o segundo lugar.

– Não perdi o hexacampeonato para um bloco, mas sim para uma escola de samba disfarçada de bloco! – desabafou Mário Adolfo. “O Sem Compromisso fez um belo carnaval, mas na categoria de escola de samba, não na categoria de bloco”, explicou. “A comissão julgadora deixou se envolver pelo excesso de carros alegóricos, esquecendo que bloco se faz com samba no pé e no gogó”.

O ano de 1982 ficou sub-repticiamente acordado para ser a data do grande tira-teima entre os dois maiores blocos de enredo da cidade.

O bloco Andanças de Ciganos apresentou logo suas armas: “Amado Jorge Amado”, em que homenageava o escritor baiano pelo cinquentenário de seu livro “No País do Carnaval”.


Os artistas plásticos Jorge Palheta e Marius Bell ficaram encarregados de transformar os principais personagens dos romances de Jorge Amado em alegorias hiper-realistas e deram conta do recado.

Composto por Mário Adolfo, Armando, Marivaldo e Felica, o samba-enredo era uma pequena obra-prima, que rapidamente passou a fazer parte do repertório dos sambistas locais:

“Meu Senhor do Bomfim/ Chegou a hora quero homenagear/ Um de seus maiores filhos/ De talento e muito brilho/ Na avenida vou cantar/ Nos acordes de um violão/ Falar de um homem/ Que me toca o coração/ Chega Xangô/ Orixá contra o mal/ Salve o escritor/ Do País do Carnaval/ Seu nome é Jorge/ Como o Santo Guerreiro/ Só que este é mensageiro/ Da cultura popular/ Foi dando amor/ Que virou Jorge Amado/ Hoje é lembrado e consagrado/ No celeiro universal/ O seu berço é a Bahia/ Do cacau e acarajé/ Berimbau e capoeira/ Do folclore e candomblé/ Este é o reino dourado/ Do amado Jorge Amado/ Que fez da vida um romance/ De ternura e de pecado/ Ôôôôôô/ Quero ser o terceiro marido/ de Dona Flor”.

O bloco também resolveu se armar igual a uma escola de samba, com Comissão de Frente, 600 brincantes distribuídos em dez alas (“Passistas”, “Dona Flor”, “Gabriela”, “Baianas” etc.), cinco carros alegóricos, quatro destaques com fantasia de luxo em tripés, 120 ritmistas e o conhecido Carlinhos de Pilares, intérprete oficial da Caprichosos de Pilares (RJ), como puxador de samba.


Mestre Carioca comandando uma rodada de samba no Barraka's Drinks, ao lado de Sici Pirangy, Kleber Fernandes e Marivaldo

A certeza de que o título daquele ano estava garantido começou a se transformar em convicção depois que Edir Pedro Batista (aka “Mestre Carioca”), ex-chefe de bateria dos Ciganos e então destaque da ala de Passistas, conquistou o prêmio “Cidadão Samba-82”, no concurso da Emamtur.

O título de “Imperatriz do Samba-82” ficou com Esmeralda Pereira dos Santos, presidente e fundadora do Cordão das Lavadeiras.

Ainda curtindo as glórias pelo desfile apoteótico do ano anterior, o bloco Sem Compromisso preferiu ficar sonegando informações sobre o que iria mostrar no carnaval daquele ano.

Escondeu quanto pôde seu enredo (“Paraíso Tropical – Uma viagem ao coração do Brasil”) e ninguém tomou conhecimento do samba-enredo, que era cantado timidamente na quadra da escola.

Tudo não passava de uma autêntica cortina de fumaça armada pelo estrategista Antonio Carriço, dono do famoso Bar Amoricana, ali na rua Jonathas Pedrosa, na Praça 14, e uma espécie de patrono do bloco.

Quando o Sem Compromisso entrou na avenida, os piores pesadelos dos Ciganos estavam de volta.


Enquanto isso, muito em surdina, os integrantes do bloco Reino Unido da Liberdade estavam trabalhando arduamente para fazer um carnaval impecável e colocar água no chope dos dois blocos arquirrivais, logo em seu desfile de estreia.

A ideia deles era chegar de mansinho e comer o título pelas beiradas.

Para isso, Bosco Saraiva e Jairo Beira-mar haviam reforçado o bloco com novos sambistas: Ismar Machado (aka “Cara de Pandeiro”), Caubi, Shazan, Donalber Machado (aka “Fiscal”), Alberlane Passos (aka “Baré”), Abaête Palha, Chiquinha, Roberta, Marilza, Ivan de Oliveira, Niceias Magalhães, Clodoaldo Santos, Francisco Bambolê, Freitas, Lenira, Wilson Cruz, João Marinho, Ricardo Cabral, Gilsinho Poeta, Osmir Medeiros, Eldo Coelho, Roberto Aragão, José Reis, Pedrão e Fausto, entre outros.

O bloco escolheu como tema “Espanha 82 – Brasil Tetracampeão”, que era o sonho de todos os brasileiros.

O artista plástico, escultor e músico Pepe Fonan assumiu o papel de carnavalesco e desenhou as fantasias, alegorias de mão e os quatro carros alegóricos.

O consulado da Espanha municiou os brincantes com informações culturais, dados estatísticos e curiosidades típicas do país. A comunidade começou a participar ativamente dos ensaios.

Cerca de 400 brincantes se escalaram para participar do desfile.

A bateria contava, então, com 80 ritmistas da melhor qualidade.

Composto por Bosco Saraiva, o samba-enredo misturava as duas paixões do brasileiro (“futebol e carnaval”) e tinha um ritmo bastante empolgante:

“Hoje só quero alegria/ Quero cor e fantasia/ Num vendaval de euforia/ Que revela um povo campeão/ Quero ver toda gente/ Sambando contente por toda a nação/ E a torcida unida, feliz da vida cantando o refrão/ De pé em pé, que sensação/ Olé, Olé, Brasil tetracampeão/ A ginga, o passe, a beleza/ Do nosso time, que esplendor/ É luxo, é arte, é riqueza/ É futebol, é amor/ Risos, calor e delírio/ Contagia o Reino Unido e o povão/ Festeja com alegria, o tetra de nossa seleção”.


Naquele ano, a Emamtur havia criado novas regras para o desfile e dividido as agremiações em quatro categorias.

O grupo A era formado pelas escolas de samba (Em Cima da Hora, Barelândia, Aparecida, Uirapuru, Vitória Régia, Unidos da Raiz e Unidos de São Jorge).

O grupo B era formado pelas batucadas e blocos de enredo (Andanças de Ciganos, Sem Compromisso, Reino Unido da Liberdade, Acadêmicos do Rio Negro, Balaku-Blaku, Império da Cidade Nova, Batucada Nacional na Folia, Mocidade da Alvorada, Cordão das Lavadeiras etc.).

O grupo C era formado pelos blocos de embalo com mais de cem brincantes (Belezas Naturais, Carnavalescos de Santa Luzia, O Boi e o Burro a Caminho do Carnaval, Jovens Livres na Folia, Caxangá na Folia, Taboca, Kadê o Mé?, Mocidade da Ipixuna, Império de São Jorge, Rabo Fino na Folia etc.).

O grupo D era formado pelos blocos de embalo com menos de cem brincantes (Manda Brasa na Folia, Águia Branca, Cabana do Pai João, Seringueiros, Olha Nós Aí, Pássaro Japiim, Os Assumidos, Piratas na Folia etc.).

Os blocos desfilavam no domingo e na segunda-feira, de acordo com um sorteio. As escolas de samba desfilavam na terça-feira.

Pelo sorteio, o bloco Andanças de Ciganos foi o quarto bloco a desfilar no domingo, depois do Águia Branca e antes do Império da Cidade Nova.

O Reino Unido da Liberdade foi o sétimo bloco a desfilar na segunda-feira, depois do Belezas Naturais e antes do Sem Compromisso, que seria seguido pelo Acadêmicos da Cidade Alta.

Ninguém tinha dúvidas de aquela seria uma guerra de foice no escuro, com resultados imprevisíveis. A batata quente estava nas mãos dos jurados.


No desfile de domingo, o Andanças de Ciganos surpreendeu ao mostrar na avenida um carnaval original, criativo e com muita alegria.

A Comissão de Frente, com malandros estilizados alusivos ao personagem Vadinho, do livro Dona Flor e seus dois maridos, arrancou gargalhadas e muitos aplausos da plateia.

O samba-enredo funcionou muito bem, garantindo, junto com a bateria, uma evolução empolgante.

Aliás, a bateria do Mestre Louro, vestido com traje de gala, foi a única a manter o ritmo de batimentos do início ao fim do desfile, numa apresentação que lhe garantiu o Estandarte de Ouro, de A Crítica, de melhor bateria.

Destaque para a originalidade do fechamento do desfile, com a última ala inspirada no carnaval de 1931, ano de lançamento do livro No País do Carnaval, simulando um desfile com fantasias alusivas a óperas.

Nunca a expressão “o carnaval é uma ópera de rua” foi tão bem representada.


No desfile da segunda-feira, para quem estava desfilando pela primeira vez, a agremiação do Morro da Liberdade fez um carnaval tecnicamente perfeito, faltando, no entanto, um bom enredo.

O destaque ficou por conta da garra da escola, que impressionou a plateia, com todos os componentes cantando e dançando, dando um verdadeiro show em evolução e harmonia, fazendo um excelente e emocionante desfile.

O samba-enredo também funcionou muito bem. O carnavalesco Pepê Fonan mostrou na avenida fantasias e alegorias que, além da beleza, estabeleceram uma excelente comunicação com o público.

A bateria foi um destaque à parte, tendo sido aplaudida de pé durante o desfile.

O diabo é que o Sem Compromisso não estava pra brincadeira.


O bloco não veio apenas com o dobro do número de brincantes do Andanças de Ciganos (1.500 pessoas em 15 alas), mas levou para avenida seis carros alegóricos deslumbrantes, que não fariam feio nem no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Além disso, o enredo também foi muito bem representado, com uma leitura fácil e proporcionando momentos de grande emoção (basta lembrar que uma única ala alusiva à Copa do Mundo, na Espanha, continha todo o enredo do Reino Unido).

Somem-se a isso as fantasias e alegorias de apurado bom gosto e aí estava a receita para ganhar o carnaval.

Aliás, quem acreditava que a empolgação do bloco fosse prejudicada pelo excesso de alas também quebrou a cara.

O Sem Compromisso realizou um desfile empolgante, irrepreensível, marcado pela impecável cadência do Mestre Cabeça e acabou proporcionando um dos desfiles mais bonitos da avenida.

Ganhou o título com méritos, porque foi deslumbrante na avenida.

O Andanças de Ciganos amargou novamente um segundo lugar, mas o estreante Reino Unido da Liberdade começou com pé direito e obteve a terceira colocação.

A partir de 1983, por determinação da Emamtur, tanto o Sem Compromisso quanto o Andanças de Ciganos se transformaram em escolas de samba do grupo especial.

Para o bloco Reino Unido aquilo foi um presente dos deuses.

Agora que os “cachorros grandes” haviam sido removidos do caminho, os meninos do Morro não iam deixar passar a oportunidade de se consagrar como o maior “bloco de embalo do país”, apesar de ainda estarem competindo como bloco de enredo.


Nesses 28 anos de competição no grupo especial, o GRES Sem Compromisso ganhou dois títulos e o GRES Andanças de Ciganos, um título e um vice-campeonato.

Muito pouco para aqueles que foram os dois maiores blocos de embalo da história do carnaval amazonense.

Há uns três anos, Antonio José Carriço encontrou o Mário Adolfo em um evento e cantou a pedra:

– Porra, Mário Adolfo, a maior cagada que a gente fez foi deixar a Emamtur transformar nossos blocos de enredo em escolas de samba. A gente não tinha talento pra armar escolas de samba, nossa praia eram os blocos de enredo.

– Também acho! – devolveu Mário Adolfo. “O Andanças de Ciganos e o Sem Compromisso nem precisavam disputar mais nada, seriam hors concours. A gente ia ter a mesma importância que os blocos Cacique de Ramos e Bafo de Onça têm no carnaval do Rio de Janeiro. Eles não concorrem em nenhuma categoria, mas cada um atrai no seu desfile quase 5 mil brincantes!”

Os dois pretendiam discutir essas idéias nas respectivas comunidades, após o carnaval de 2011.

Com a morte prematura de Antonio Carriço, o sonho acabou!


No dia 28 de fevereiro de 2011, o portal D24AM publicou a matéria “Jornalista lança livro contando a história da Andanças de Ciganos”:

Para entrar no clima de carnaval, as Lojas Bemol vão fazer o relançamento do livro “Meu Bloco na Rua”, de autoria do jornalista amazonense Mário Adolfo.

A obra conta a trajetória vitoriosa da agremiação do bairro de Cachoeirinha que, coincidentemente, retorna este ano ao Desfile Especial das escolas de Samba de Manaus.

O lançamento acontecerá no dia 01 de março (terça-feira), às18h30, na Bemol do Amazonas Shopping.

O lançamento acontecerá num bom momento. Primeiro, versa sobre a história de uma escola de samba, G.R.E.S. Andanças de Ciganos, depois ocorre em pleno período momesco e, terceiro, coincidentemente, a escola está retornando ao Grupo Especial das Escolas de Samba de Manaus. Quer melhor momento que este? - comentou o autor.

Lenda do carnavalesco

No período de 1976 a 1980, o bloco carnavalesco Andanças de Ciganos conquistou o título inédito de Penta-campeão do carnaval de Rua do Amazonas, de forma consecutiva.

Em 81 e 82 foi vice, até se transformar em Escola de Samba por sugestão da Empresa Amazonense de Turismo (Emamtur).

Essa história, marcada por acontecimento pitorescos e fatos que mudariam por rumos do carnaval amazonense está sendo contada no livro “Meu Bloco na Rua” de autoria do jornalista e cartunista Mário Adolfo, um de seus fundadores.

O livro, que tem prefácio do escritor Simão Pessoa, foi lançado dia 05 de fevereiro de 2010, na quadra do G.R.E.S Andanças de Ciganos, à Rua Borba.

Em 300 páginas, Mário desenvolve uma narrativa traçando um paralelo entre a trajetória do bloco criado por um grupo de universitários, em 1976, e a própria história do bairro da Cachoeirinha, seus personagens, logradouros e prédios históricos, como o Palácio Rodoviário, o famoso Cine Ypiranga e o grupo Escolar carvalho Leal, onde o jornalista estudou na infância.

“Meu Bloco na Rua” também revela a forma ousada como o Andanças de Ciganos mudou a história do carnaval de rua amazonense, que na década de 70 ainda era um movimento de “mascarados” de porre atirando talco e lança-perfume uns nos outros.


Para mudar essa postura, Mário Adolfo, Simone Pessoa, Sérgio Mubarac, Rui Assunção, Antídio Weil, Simão Pessoa, Wilson Fernandes, Sici Pirangy e outros fundadores colocaram na rua um bloco recheado de universitários, belas garotas, crianças em companhia dos pais, fantasias de fino acabamento e enredos politicamente corretos, como “Grito da Selva”, contra a venda da Floresta Amazônica; “Demarcação – Em Defesa das Terras Indígenas”; “O Mundo Encanto de Charlie Chaplin”, que homenageou o comediante no ano de sua morte; “Saravá Poeta”, em memória do poeta Vinícius de Moraes; e “Amado Jorge Amado”, homenageando os 50 anos do livro “O País do Carnaval”, do escritor baiano.

“Esse enredo valeu uma carta de Jorge Amado endereçada a mim, que até hoje está num quadro, no meu ateliê de desenho”, conta o autor do livro.

Na ocasião do enredo, Mário escreveu uma carta convidando Jorge a vir desfilar nos Ciganos e ainda anexou uma fita cassete com a gravação do samba que compôs em parceria com Armando e Felisberto Felica.

Acontece que o escritor e a mulher, escritora Zélia Gatai estavam de viagem marcada para os Estados Unidos, o que impossibilitou a vinda a Manaus.

Simpático, Jorge resolver escrever assim mesmo, agradecendo a homenagem e pedindo fotografias e matérias jornalísticas do desfile.

Mário Adolfo é formado em jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), está na área há 33 anos, onde já exerceu cargos de repórter especial, editor assistente, diretor executivo e diretor de redação.

Ganhou dois Prêmios Esso de jornalismo. Em 1985 (A Crítica), 1997 (Em Tempo) e o Prêmio Caixa Econômica de 1995 (Em Tempo), além do Ecologia 2000.

O jornalista também é o criador do personagem Curumim, o último herói da Amazônia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário