O Salgueiro foi campeão em 1969 com o enredo Bahia de Todos os Deuses, sem dúvida uma das grandes vitórias da escola pela ousadia de suas concepções e a coragem de arriscar em conceitos nada ortodoxos. Naquele desfile houve duas criações memoráveis, uma Iemanjá prateada concebida por Arlindo Rodrigues e os adereços usados pelos componentes, imaginados e executados por Joãozinho Trinta, ex-bailarino do Teatro Municipal e habilidoso criador artesanal.
Até então anônimo, João começou a se destacar graças ao seu talento sempre incentivado por Fernando Pamplona e Arlindo. Alguns anos mais tarde, com a saída deste dois do Salgueiro, Joãozinho assumiu a função de carnavalesco e fez enredos tão memoráveis quanto discutidos: As Minas do Rei Salomão (1974) e Rei da França na Ilha da Assombração (1975).
Foi a ida de Joãozinho Trinta e Viriato Ferreira para a Beija-flor que deu a grande virada nesta escola. Profundo conhecedor do carnaval e de sólida cultura popular, João realizou com o tricampeonato da azul e branco de Nilópolis uns dos mais belos desfiles de toda a história das escolas de samba.
É na rua Teodoro da Silva, onde o compositor Noel Rosa nasceu e morreu, que ensaia o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel. Única no bairro tido e havido como um dos redutos do samba urbano, a Vila congrega os moradores do local, além de muitos do Grajaú, Andaraí e Tijuca, que desfilam ou simplesmente torcem pelas cores azul e branco.
O seu fundador foi Antonio Fernandes da Silveira, o China, que veio do morro do Salgueiro, onde pertencia à escola verde e branco. Com a sua experiência e capacidade de arregimentação, não foi difícil criar as bases de uma nova escola, que seria fundada no dia 4 de abril de 1946 com o nome do novo bairro que ele tinha adotado. Como sempre, os primeiros elementos provinham de um bloco, célula primeira de todas as escolas de samba, e nesse caso particular foi o Azul e Branco, que brincava no Boulevard 28 de Setembro e ruas adjacentes.
Com cerca de 200 componentes, a Unidos de Vila Isabel desfilou pela primeira vez na Praça Onze, em 1947, com o enredo Escrava Rainha. Na bateria iam uns 30 ritmistas, quantidade que na época já dava para impressionar um pouquinho. O prêmio oferecido pela Prefeitura do então Distrito Federal era de trezentos cruzeiros, mas isto para a Vila não teve a menor importância, porque ela foi classificada em 13º lugar. Mas não desistiu.
De 1946 para cá a Vila começou uma trajetória nem sempre muito fácil ou brilhante. Em 49 consegui o 6º lugar com o enredo Iracema, em 1950 subia para o 4º posto com o enredo Baía de Guanabara. Em 1951 o tema escolhido foi Liberdade do Trabalho, em homenagem ao Presidente Getúlio Vargas, mas no dia do desfile caiu um aguaceiro daqueles e os carros alegóricos não conseguiram chegar à cidade, fato que prejudicou a escola, que voltou para o nono lugar.
Em escala descendente, a partir daí, a Vila baixando, baixando, até atingir o 18º lugar em 1954, com o enredo Último Baile da Ilha Fiscal, e quase foi mesmo... Mas o ânimo do pessoal não arrefeceu, o lema era o verso do poeta Noel:
A vila não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também!
A escola só voltou a conhecer o gosto da vitória em 1960, quando conseguiu o primeiro lugar na Praça Onze com o enredo Poeta dos Escravos. Entre idas e vindas pelos grupos que compõem os desfiles oficiais, a Vila nunca obteve o primeiro lugar entre as supercampeãs, mas já fez carnavais de grande beleza, como em 1977, quando Arlindo Rodrigues apresentou o tema Ai, Que Saudades Que eu Tenho!
Assim como a Unidos de Vila Isabel, outras escolas ainda não conheceram a alegria de uma vitória consagradora, não obstante os bons enredos e os belos sambas levados à Avenida. É o caso da Unidos de São Carlos, da Em Cima da Hora, da União da Ilha do Governador, da Mocidade Independente de Padre Miguel e da Imperatriz Leopoldinense. Mas todas, nos seus esforços, contribuem para o momento grandioso que é um desfile das escolas de samba.
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