Por conta do rebuceteio criado no ano passado, quando fomos acusados injustamente de estar ficando milionários a custa da BICA, eu convenci Mário Adolfo, Edu do Banjo e Mestre Pinheiro a ficar de fora do carnaval deste ano.
O meu velho brother Francisco Cruz, atual procurador-geral do Ministério Público do Amazonas e um dos diretores mais animados da BICA, bem que me ligou diversas vezes cobrando uma marchinha da banda.
Expliquei a ele, didaticamente, a nossa decisão – e que não teve nada a ver com um suposto estremecimento de minha amizade com o velho Armando e a querida Lourdes Soeiro.
Pelo contrário. Eu me encontrei com o simpático casal de portugueses durante a posse do Chicão no Ministério Público, em outubro do ano passado, e conversamos animadamente sobre as últimas quizumbas, tiramos fotografias juntos e nos despedimos com votos de amizade eterna.
Antes, em julho, quando soube que o Armando estava internado no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), fui visitá-lo e levei comigo o médico Julio Reciños, líder da banda Conexão Latina.
Depois de examiná-lo, ler seu prontuário e conversar demoradamente com os enfermeiros e médicos que cuidavam do Armando, Julio Reciños praticamente obrigou o português a ir pra casa e terminar o tratamento junto aos seus familiares pra não correr o risco de adquirir uma infecção hospitalar.
A filha do comerciante, Ana Cláudia, é testemunha ocular dessa história, já que nos agradeceu muito por termos elevado a auto-estima do português e interrompido no grito uma internação que já durava quase três semanas.
Portanto, não foi por conta de desavenças com o Armando que deixamos de fazer a marchinha deste ano.
Ocorre que nossos planos para 2011 eram muito ambiciosos.
Somente com a parte que me coube na divisão da grana de direitos autorais das marchinhas da BICA arrecadada no ano passado (cerca de 250 mil dólares), eu comprei uma mansão em Ibiza, mais precisamente na praia de Ku, local que gosto muito de frequentar, e comecei a montar a primeira gibiteca pública da cidade, que vai funcionar na quadra do GRES Andanças de Ciganos, na Cachoeirinha.
Mestre Pinheiro pegou sua parte na bufunfa e se mandou para a Ilha de Itamaracá (PE), provavelmente acreditando que encontraria no local algum genérico da esfuziante Maria Batalhão, dona da mais animada boutique de carne do centro antigo de Manaus, localizada estrategicamente na rua Itamaracá, a cem metros da sede da Prefeitura.
Ele foi levar seu filho Leonardo Pinheiro, formado em Ciências Sociais, para apreender in loco suas antigas experiências com as borboletas da cidade.
Gastaram cerca de 50 mil dólares na presepada e, pelos meus modestos cálculos sobre o assunto, devem ter colocado na rede pelo menos umas 500 borboletas.
O gente fina Edu do Banjo pegou sua parte da grana e começou a gravar o primeiro CD do Duduzinho do Samba, seu moleque caçula, que tem como padrinhos Monarco, da Velha Guarda da Portela, e Zeca Pagodinho.
Aos 12 anos, Duduzinho do Samba toca banjo, cavaquinho, violão de sete cordas (ensinado pelo tio, Caio do Cavaco), teclados, piano, canta afinadinho e ainda se defende na percussão.
Durante a quizumba do ano passado, era Duduzinho quem abria as portas de rádios e tevês para a divulgação da marchinha da BICA nos meios de comunicação.
Edu do Banjo já gastou no primeiro CD do Duduzinho do Samba cerca de 40 mil dólares e esse novo trabalho terá seu pré-lançamento no Sábado de Aleluia, em abril, na quadra do GRES Mocidade de Aparecida.
Com a parte da bolada que ganhou pela execução de nossas marchinhas, Mário Adolfo resolveu matar suas saudades de Paris e embarcou pra lá, em novembro do ano passado, com sua nova paixão, a minha queridíssima Maria Mestrinho.
Em 45 dias, os dois pombinhos estouraram por lá a merreca de 75 mil dólares.
O português Armando tem razão em ficar puto com o nosso súbito enriquecimento supostamente ilícito.
Ele e quem se interessar que preste queixa na Receita Federal (no Ministério Público não, que o Chicão Cruz vai jogar a denúncia na cesta de lixo assim que colocar as mãos).
O certo é que eu e Mário Adolfo estamos mais preocupados em colocar o portal do Candiru na internet do que em colocar azeitona na empada da BICA.
No próximo ano, quem sabe, talvez a gente volte a compor uma nova marchinha. Ou não.
No dia 24 de julho de 2008, o jornal Diário do Amazonas publicou uma matéria intitulada “Belarmino Lins, mulher e filhos custavam R$ 1,6 milhões”:
O deputado Belarmino Lins, o ‘Belão’, a mulher e os filhos dele custavam anualmente cerca de R$ 1,6 milhão à Assembléia Legislativa do Estado (ALE).
Somando salário e benefícios, o deputado custa aproximadamente R$ 88 mil. A mulher e três dos quatro filhos demitidos esta semana recebiam, sem trabalhar, salário de R$ 9,6 mil.
O quarto filho, que tinha salário de assessor de diretoria, recebia R$ 15 mil por mês.
Luciana Maria Monteiro Lins de Albuquerque, mulher de ‘Belão’, e três filhos, Alfredo Monteiro Lins de Albuquerque, Marcus Vinícius Monteiro Lins de Albuquerque, George Augusto Monteiro Lins de Albuquerque ocupavam cargos comissionados representados pela simbologia “APC-13”.
A escala dos cargos vai de “APC-1” a “APC-13”, cujos salários somados às gratificações variam de R$ 1.660 a R$ 9.600.
O quarto filho de ‘Belão’, Victor Vinícius Lins de Albuquerque, ocupava o cargo de assessor de diretoria “CC-4”, com salário de R$ 15 mil.
Belarmino Lins demitiu, na última segunda-feira (21), a mulher, Luciana e o filho Alfredo. Na última terça-feira foi a vez dos outros três filhos: Marcus Vinícius, George Augusto e Victor Vinícius.
Parentes
No último dia 8, o jornal Diário do Amazonas publicou que o presidente da ALE deu emprego para a mãe, de mais de 80 anos, a mulher, filhos e outros parentes em cargos comissionados e utilizou dinheiro público para pagar viagens de lazer para ele e seus familiares.
Numa lista oficial com o nome de todos os servidores com cargos comissionados da ALE, aparecem os nomes de outras 33 pessoas com os sobrenomes Lins e Albuquerque.
‘Belão’ afirmou que mantinha como funcionários do parlamento, entre 12 e 15 parentes, incluindo a mulher, filhos, primos e outros.
Disse também que só iria demiti-los quando houvesse uma lei proibindo o nepotismo.
Segundo ele, nem todos os funcionários com sobrenome Lins e Albuquerque pertencem “à família do presidente” da ALE.
O promotor de Justiça de Proteção e Defesa dos Direitos Constitucionais do Cidadão, Edílson Queiroz Martins pediu no último dia 14, que a ALE apresente a relação de parentes dos deputados, até terceiro grau, empregados no parlamento.
O prazo para a ALE encaminhar a lista termina na próxima semana.
Batman e Robin: o deputado federal Átila Lins e o deputado estadual Belarmino Lins
No dia 26 de junho de 2010, o jornal Diário do Amazonas publicou uma matéria intitulada “Família de ‘Belão’ usou idoso como ‘laranja’”:
Em julho de 2008, o Diário do Amazonas publicou matéria informando que a família do presidente da Assembléia Legislativa do Amazonas (ALE), Belarmino Lins de Albuquerque (PMDB), o ‘Belão’, utilizou, um homem que hoje tem 80 anos, Paulo dos Santos, como ‘laranja’ entre os sócios da Demac Construtora Ltda., empresa que recebeu R$ 22,2 milhões do Estado, durante o governo de Eduardo Braga por obras muitas vezes não realizadas, no interior e na capital do Amazonas.
Paulo dos Santos não sabia que era ‘sócio’ da empresa.
No contrato social da Demac, Paulo dos Santos aparece como ‘sócio’ da empresa, junto com Márcio Lins Magalhães, sobrinho de ‘Belão’. Cada um detém 1,5 mil cotas no valor de R$ 1,5 milhão.
Lins Magalhães comprou a parte de Agenor Arce Rio Branco Filho, no dia 4 de dezembro de 2007, conforme o documento da 8ª Alteração Contratual, registrada na Junta Comercial do Amazonas, em 12 de dezembro de 2007, sob o número 321979. Paulo é ‘sócio’ há 14 anos.
Paulo dos Santos, foi localizado no mesmo endereço da Demac, na rua Chaves Ribeiro, 44, Bairro São Geraldo, zona Centro-Sul de Manaus.
No contrato social da empresa consta que ele nasceu no município do Careiro (AM), é empresário e morava no bairro de classe média alta de Aldeoata, em Fortaleza (CE), na avenida Rui Barbosa, 2160, apartamento 703, edifício Kamayurá.
O ‘laranja’ disse que nunca esteve em Fortaleza e não era sócio da Demac. “Não sou não. Nunca fui”, revelou.
Paulo dos Santos, que anda apoiado numa bengala, morava nos fundos do terreno compartilhado pela Demac e pela casa que, segundo os vizinhos, é da mãe de ‘Belão’, Naíde Lins de Albuquerque, ex-funcionária ‘fantasma’ da ALE.
“Moro aí atrás junto com o dono da firma e a mãe dele”, afirmou. Ele não disse a quem se referia como “dono da firma”. Ao ser indagado se era o sócio milionário da Demac, Paulo respondeu: “Não sei. Ele não me disse nada não. Por que?”.
O sócio ‘laranja’ nem sabia porque os Lins tinham colocado o nome dele na sociedade. “Não sei não... Ave Maria. Quem dera que fosse... Eu não sei de nada não”.
De acordo com o dicionário Aurélio, ‘laranja’ é um indivíduo que, ciente ou não, tem seu nome e registro legais usados para fazer transações ilícitas, em benefício de terceiro, cuja identidade fica oculta.
Paulo dos Santos disse que trabalhou na Demac, mas negou ser sócio. “Não sou nada não. Eu trabalhava mas passei uns dez anos parado. Aí eu saí e não tinha mais nenhum ganho. E agora tô assim”, afirmou.
Na época, o ‘sócio’, que possui metade da empresa, sobrevive de um salário-mínimo da aposentadoria, R$ 415.
A Demac foi fundada em 1994 e já teve vários sócios, mas sempre orbita em torno de alguém com o sobrenome Lins. Tinha como sócios Agenor Arce Rio Branco Filho e Paulo dos Santos.
Em dezembro de 2007, Agenor Arce passou a sociedade para Márcio Lins. Uma vizinha que pediu para não ser identificada disse que Paulo dos Santos mora em uma pequena construção atrás da casa da mãe de ‘Belão’.
Segundo ela, Paulo sempre foi empregado dos Lins. “É um senhor idoso, me parece que é até índio, mas não sei bem. Ele é muito humilde e inocente. Acho até que ele nem sabe que o nome dele saiu no jornal”, afirmou.
O sócio ‘laranja’ da Demac afirmou que, na verdade, nasceu no município amazonense de Fonte Boa, fugiu de casa quando tinha uns dez anos e que foi criado pelos pais de ‘Belão’.
De acordo com o contrato social da empresa, Paulo dos Santos irá completar no dia 20 de setembro deste ano, 81 anos. Mas, ele nem sabe qual a sua idade verdadeira. “Tenho mais de 70 e poucos”. Indagado sobre o seu nome verdadeiro, ele disse que só lembra o primeiro nome.
“Meu nome verdadeiro era Joaquim, mas não sei mais o resto. Lá em Fonte Boa fizeram meu registro e colocaram meu nome de Paulo Izidoro dos Santos. Quando viemos para cá, lá roubaram minha maleta no porto de São Raimundo. Aí a dona Terezinha (irmã de ‘Belão’) tirou de novo os documentos pra mim. Mas o de lá de Fonte Boa era falso também (risos)... Não sei nem o dia que nasci”, afirmou.
Paulo dos Santos informou que nunca freqüentou a escola. Ele disse que apenas sabia desenhar o nome e que, por conta de dificuldades de visão, agora não pode mais. “Eu sabia escrever só o meu nome, mas aí eu fiquei com a vista ruim e não deu para assinar mais nada”, afirmou.
No dia 3 de dezembro de 2010, o jornal Diário do Amazonas publicou uma matéria intitulada “PF prende parente de deputado sacando R$ 2,6 mi”:
A Polícia Federal prendeu, nesta quinta-feira, um homem identificado como George Lins, depois de ele ter sacado R$ 2,6 milhões na agência do Banco do Brasil da Avenida Guilherme Moreira, no Centro de Manaus, por suspeita de lavagem de dinheiro.
Segundo a PF, George é parente do presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE), Belarmino Lins (PMDB).
‘Belão’, como é mais conhecido o deputado, tem um irmão e um filho com nome de George Lins.
O titular da delegacia de Combate ao Crime Organizado da PF, Caio Pelin, disse que George foi preso depois de uma denúncia de saque de dinheiro oriundo de verbas federais.
George foi ouvido na sede da Superintendência da Polícia Federal, no bairro Dom Pedro, na zona centro-oeste, e liberado no início da noite.
O deputado Belarmino Lins compareceu à sede da PF no final da tarde.
Segundo o delegado, ele foi apenas ajudar o parente, sem participar de depoimentos.
O delegado Caio Pelin não soube afirmar se tratava-se do irmão ou do filho do deputado estadual. “Ele disse que é parente. Não sei qual o grau de parentesco”, afirmou.
Segundo Pelin, George vai responder a três inquéritos, sendo um deles por suspeita de lavagem de dinheiro. O delegado federal não quis revelar o enquadramento dos outros inquéritos.
Demac
O Ministério Público do Estado (MPE) investiga a empresa Demac, ligada a família Lins, por irregularidades na construção de obras públicas.
Irmãos e sobrinhos de Belarmino Lins são sócios da Demac, empresa que recebeu R$ 22 milhões durante a gestão do ex-governador Eduardo Braga (PMDB).
O irmão de Belão identificado como George Lins é um dos sócios da empresa.
Só em 2008, a Demac recebeu R$ 10,5 milhões do governo do Estado por obras não executadas na estrada do Cambixe, no município Careiro da Várzea.
Há, ainda, a suspeita de um idoso de 80 anos ter sido usado como ‘laranja’ para a realização dos contratos da Demac com o governo.
Paulo dos Santos concedeu entrevista ao Diário do Amazonas em 2007 dizendo que nunca foi dono de nenhuma empresa.
No contrato da Demac, ele aparecia como sócio majoritário.
A investigação tramita na 78ª Promotoria Especializada na Proteção do Patrimônio Público, do MPE.
No dia 6 de dezembro de 2010, o jorna A Crítica publicou uma matéria intitulada “Polícia Federal pede quebra de sigilo bancário de irmão de Belarmino Lins”, de autoria da jornalista Tereza Teófilo:
A Polícia Federal pediu nesta segunda-feira (6) a quebra de sigilo bancário do empresário George Lins, irmão do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM), Belarmino Lins (PMDB), e de dois engenheiros que respondem pela construtora Land Engenharia Ltda.
A iniciativa se dá porque, na última quinta-feira (2), George Lins foi detido por agentes da Polícia Federal quando tentava sacar R$ 2,6 milhões em uma agência bancária do Banco do Brasil, no Centro de Manaus.
O dinheiro foi repassado à construtora pela Prefeitura de Tefé (município distante 520 quilômetros de Manaus ) e o repasse, conforme afirmou o prefeito da cidade Sidônio Gonçalves, é referente a 1ª parcela do convênio firmado com a Land Ltda. cujo objetivo é a realização de obras de infraestrutura na Orla de Tefé.
Os recursos foram assegurados pelo governo federal por meio do Ministério das Cidades, a partir de uma emenda proposta pelo irmão de George, o deputado federal Átila Lins (PMDB), que também é irmão de Belarmino.
A informação sobre o saque chegou até a Polícia Federal por meio de uma denúncia feita por uma pessoa que estava em Tefé.
"Recebemos a informação um dia antes do saque e foi aí que montamos a operação durante toda a noite de quarta (1) e madrugada de quinta (2). Pela manhã conseguimos confirmar o saque. Tivemos que agir rápido", disse o delegado federal Eduardo Moreno Izéu, que coordenou a operação.
Segundo a PF, dos R$ 2,6 milhões, os agentes conseguiram apreender na quinta-feira (2), R$ 2,3 milhões.
O restante do valor, R$ 300 mil, teriam sido usados por George Lins para adquirir 'produtos' (títulos e investimentos) do Banco do Brasil.
De acordo com a Polícia, George se apresentou como preposto da empresa (uma espécie de representante, procurador da construtora). "Ele (George) foi lá para buscar o dinheiro", disse o delegado Eduardo Moreno Izéu.
Devassa
Na sexta-feira (3), agentes da Polícia Federal cumpriram mandados de busca e apreensão na sede da Prefeitura de Tefé, na Secretaria de Finanças e no escritório de contabilidade que faz serviços para a Prefeitura do município.
Os mandados foram expedidos pelo juiz federal Dimmis da Costa Braga, a pedido da PF.
"Estivemos lá para buscar toda a documentação referente ao contrato da obra que a Land tem com a Prefeitura de Tefé. A empresa recebeu dinheiro antes de iniciar a obra. Guardadas as devidas proporções, ninguém paga um pedreiro antes dele começar uma obra", exemplificou o delegado.
Todo o material como computadores e documentação apreendidos em Tefé já estão em Manaus e passarão por uma perícia.
O laudo fará parte do inquérito federal instaurado com a finalidade de apurar suposta lavagem de dinheiro.
Izéu disse que tanto o prefeito Sidônio como George e os dois engenheiros da empreiteira serão chamados para prestar novos depoimentos.
A PF não revelou o nomes dos sócios da empresa, mas o delegado confirmou que nenhum dos nomes possui o sobrenome "Lins".
Consulta feita por acritica.com ao sistema CREA-AM na web, revela que a Land Engenharia tem sede no Millenium Center, 12º andar, bloco B.
O senhor Hidetoshi Murai aparece como responsável técnico da empresa.
Ajuda
No dia 2 último, quando George Lins foi levado à PF para prestar esclarecimentos sobre o saque, o deputado Belarmino Lins esteve na sede da Superintendência da PF, no bairro D. Pedro, a fim de acompanhar o depoimento do irmão.
Além de Belão, outro irmão de George, o também empresário Wellington Lins, esteve na PF para prestar solidariedade ao irmão.
No dia 30 de dezembro de 2010, o jornal Diário do Amazonas publicou uma matéria intitulada “Belarmino Lins será o tema de novo samba da Banda da Bica”:
Integrantes da Banda Independente da Confraria do Armando (Bica) revelaram o samba-enredo para 2011: "No Reino do Belão, Todo Mundo é Ladrão".
O tema é baseado no escândalo da obra do governo federal paga e não executada, por empreiteira da família do deputado estadual Berlarmino Lins e prisão de seu irmão.
A informação foi publicada pelo Blog da Floresta.
Belarmino Lins foi o deputado estadual mais votado no Amazonas, na eleição realizada em outubro.
Belão, como é mais conhecido, é presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas há seis anos.
Como já aconteceu em outros anos, para evitar represálias, os autores do samba-enredo serão identificados como ex-integrantes da Bica, já falecidos.
No dia 26 de janeiro de 2010, o jornal A Crítica publicou uma matéria intitulada “Deputados beneficiaram parentes com bolsas de estudo”, de autoria da jornalista Audrey Bezerra:
A CRÍTICA teve acesso à "lista secreta" dos beneficiários de bolsas pagas pela Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE-AM) que mostra uma relação de parentes de deputados e ex-deputados estaduais recebendo o benefício nos últimos cinco anos.
Alguns parentes, como é o caso do filho do presidente da ALE-AM, deputado Belarmino Lins (PMDB), George Lins, chegou a receber valor de até R$ 4.115,16 como bolsa de estudo.
De acordo com a relação, os deputados Wanderley Dallas (PMDB), Carlos Alberto Almeida (PMN), David Almeida (PMN) e o ex-deputado Evilázio Pereira Nascimento (PR) também utilizaram o benefício - criado para bancar os estudos dos servidores. Os valores das bolsas, de acordo com o documento, eram de R$ 902,65; R$ 402,50, R$ 644,20 e R$ 1.207,31, respectivamente.
Entre os deputados - identificados pela reportagem - que utilizavam o benefício para bancar os estudos dos seus familiares estão: Francisco Souza (PSC), Vicente Lopes (PMDB), Conceição Sampaio (PP), Wilson Lisboa (PCdoB), além de Belarmino Lins, Dallas e David Almeida.
Dos ex-deputados que também aproveitaram o benefício estão: Nelson Azedo (PMDB), Wallace Souza (já falecido), Miguel Carrate (PMN), Francisco Balieiro (PCdoB), Lino Chíxaro (sem partido), Edilson Gurgel (PRP) e Walzenir Falcão (PMN).
Nos últimos cinco anos, o parlamento estadual gastou R$ 11,460 milhões com a concessão de bolsas de estudo destinadas aos servidores de cargos efetivos e comissionados da ALE-AM.
A relação dos nomes dos bolsistas só passou a ser divulgada pelo parlamento após o 2º semestre de 2010. Antes desse período, o parlamento escondia informações sobre os bolsistas.
Uma década
O benefício de bolsa de estudo foi criado há dez anos durante a gestão do ex-deputado estadual Lupércio Ramos (PMDB) à frente da ALE-AM.
Pelos relatórios disponíveis no site do parlamento (www.aleam.gov.br) foram gastos em 2006 R$ 2.744.196,88, em 2007, R$ 2.172.245,75, em 2008, R$ 2.199.762,28, em 2009, R$ 2.175.888,79 e até novembro de 2010 foram gastos R$ 2.168.664,79.
Os valores divulgados pela ALE-AM referem-se ao período de 2006 a novembro de 2010.
De acordo com a resolução legislativa 359/2004, a bolsa parcial de 50% é destinada aos funcionários que ganham acima de seis salários-mínimos (corresponde a R$ 3.240).
Os que ganham abaixo de seis salários recebem bolsa integral.
Por mês, a ALE-AM destina uma cota de R$ 7 mil para concessão da bolsa aos servidores de gabinete.
Os deputados não recebem o valor da cota, eles indicam os nomes dos beneficiados e o acompanhamento das despesas é feito pela gerência de controle de bolsas de estudo.
Em média, são gastos por mês R$ 200 mil, de acordo com a direção-geral da Casa, com o pagamento das bolsas.
Ajuda concedidas para os filhos
Pelo menos três dos deputados e ex-deputados usaram o benefício público para bancar os cursos de ensino superior dos filhos. Três filhos do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Belarmino Lins, George, Marcos e Vitor Lins de Albuquerque, foram beneficiados.
De acordo com a relação de 2005, Vitor recebia bolsa de R$ 1.325,00; o cunhado de Belão, Douglas Galvão Monteiro, ganhava bolsa de R$ 357,76.
O benefício foi concedido a Douglas até 2008. No 1º semestre de 2006, George Lins recebeu bolsa de R$ 2.791,15, e, no segundo semestre, de R$ 4.115,16.
Vitor Lins recebeu ainda em 2006 uma bolsa de R$ 1.932,34 e Marcos R$ 1.562,57.
Já em 2007, George recebeu uma bolsa de R$ 2.033,76, e Vitor, R$ 1.968,15.
Douglas recebia uma bolsa de R$ 450,86 e Willian Lins de Albuquerque, sobrinho de Belão, recebeu uma bolsa de R$ 420,00.
Em 2008, Marcos e Vitor receberam uma bolsa de estudo no valor de R$ 2.449,75, cada um.
Naquele ano, passou a vigorar a súmula vinculante nº. 13 do Supremo Tribunal Federal (STF) que proíbe o nepotismo em todas as esferas dos três poderes.
Com a publicação da súmula, vários parentes de deputados foram exonerados do parlamento estadual.
Na relação de 2009 e 2010, os filhos de Belão não aparecem mais nas listas.
Os três filhos do deputado Wanderley Dallas utilizaram as bolsas de estudo da ALE.
Dallas Muniz Dias recebia bolsa de R$ 1.046,34; Daniel Jaime Muniz Dias, de R$ 965,85, e Douglas Muniz Dias, de R$ 3.101,28, em 2006.
Em 2007, ele passou a receber R$ 1.867,84 do benefício e, em 2008, R$ 1.796,00.
O ex-deputado Miguel Carrate destinou o benefício para filhos e parentes.
Mishelly Carrate recebeu entre 2005 a 2007 bolsa de R$ 600, 00; Paulo Roberto Carrate, de R$ 750,00; Cynthia de Oliveira Carrate, de R$ 1.088,00 e Anycleide de O. Carrate, de R$ 691,38.
No dia 28 de janeiro de 2001, o jornal A Crítica publicou uma matéria intitulada “Escândalos marcaram a gestão de Belarmino Lins na assembleia”, de autoria da jornalista Audrey Bezerra:
Nas duas últimas décadas, o deputado estadual Belarmino Lins já esteve envolvido em vários escândalos, entre eles, na compra de 180 passagens aéreas para 16 membros da família - não vinculados à atividade parlamentar - e na manobra-mudança no Regimento Interno da Casa, para ser reconduzido ao terceiro mandato como presidente daquela Casa.
Nepotismo
Em 2008, o parlamentar Belarmino Lins também admitiu que empregou a própria mãe, de mais de 80 anos, e a mulher, filhos e outros parentes em cargos comissionados.
Empregados na Assembleia Legislativa, eles receberam salários pagos com dinheiro público, sem trabalhar.
Viagens
Em 2006, ele utilizou a cota-transporte para comprar passagens aéreas a nada menos do que 16 membros da família.
As compras das passagens, o correspondente a R$ 138 mil, foram feitas entre janeiro e julho.
Entre 2005 a 2008, ele também utilizou a cota de bolsas de estudos no valor de R$ 7 mil para bancar os estudos dos seus próprios filhos.
Em 1992, o jornal A CRÍTICA noticiou o escândalo que ficou conhecido como “Tribulins”, com base em um levantamento feito pelo então deputado estadual Sebastião Nunes (PT).
O dossiê elaborado por aquele parlamentar comprovou a existência de pelo menos 35 membros da família Lins empregados no extinto Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).
Na época, Belarmino Lins empregou cunhados, sobrinhas, filhos e a mulher naquele tribunal.
O presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas é também procurador aposentado do TCM.
No dia 16 de janeiro de 2011, o jornal A Crítica publicou uma matéria assinada por Jony Clay Borges intitulada “Bandas tradicionais da cidade em documentário”:
Duas das mais tradicionais folias de rua de Manaus, a Banda Independente Confraria do Armando – mais conhecida como Banda da BICA – e a Banda do Boulevard e a ganharão novos registros em documentário este ano.
A primeira será tema do curta-metragem “Nessa cidade todo mundo já bebeu na BICA”, a ser dirigido por Keila Serruya.
Já a festa boulevardiana será enfocada num média-metragem ainda sem nome que terá direção de Angelita Feijó.
Ambas as produções estão previstas para ficar prontas entre o final deste ano e o começo de 2012.
Em seu documentário, Angelita pretende enfocar o envolvimento da comunidade do Boulevard com a banda, apresentando o cotidiano de ritmistas, brincantes e organizadores nos preparativos para a festa, além da família Chaves, que ajudou a fundar a folia em 1987.
A nova produção complementa “Banda do Boulevard”, curta de 20 minutos que Angelita produziu em 2008, ao lado do cinegrafista Darlan Guedes, enfocando a história do evento, o recesso forçado de 1998 a 2005, a retomada em 2006 e as personalidades homenageadas ao longo do tempo.
“Neste segundo filme, queremos mostrar o dia a dia da comunidade na Banda do Boulevard”, explica Angelita.
Para a diretora, esses “bastidores” revelam a riqueza humana por trás do Carnaval boulevardiano.
“Há gente que faz loucuras o ano inteiro, e quando iniciam os ensaios, não bebe, não fuma mais, por conta das regras. Não querem deixar de participar”, exemplifica ela. “E há os ritmistas, muitos pessoas simples, às vezes autônomos ou desempregados, mas que têm uma expressão maravilhosa na música e exibem essa criatividade na banda. É isso que quero mostrar no filme”, complementa.
Angelita já tem parte do material para o filme pronta – gravações feitas em 2009 e 2010 – e deverá filmar mais este ano.
Ela prevê lançar a produção oficialmente na Banda do Boulevard de 2012.
Para a realização do documentário, ela conta com apoio da família Chaves, além de parceiros do segmento audiovisual.
Na BICA
Em “Nessa cidade todo mundo já bebeu na BICA”, Keila pretende destacar o humor anárquico que é a marca registrada da folia.
“O ponto principal da Banda da BICA é a irreverência. Esse bom humor é o que quero mostrar no curta- metragem”, ressalta a diretora e integrante do Coletivo Difusão.
Na fase de pré-produção, ela se preocupa com a realização do evento, considerando os problemas de saúde de Armando Soares, dono do bar que leva seu nome.
“Tenho de chegar de forma mais delicada, se vai ter BICA este ano, e se não tiver, como vou registrar isso”.
Preocupações à parte, Keila diz que pretende fugir à formalidade dos documentários históricos.
“Quando se trata de história, as pessoas em geral têm uma proposta meio careta, mas a minha é a de usar animação, usar uma linguagem mais jovial”, diz.
Para a produção, ela conta com recursos do Programa de Apoio às Artes – Cinema e Vídeo (Proarte) de R$ 12 mil (valor bruto).
No filme, que deverá ter até 10 minutos, Keila vai exibir entrevistas com figuras importantes, filmagens de ensaios e da banda, além de material de arquivo.
Foi justamente a ideia do registro audiovisual, conta a diretora, que fez surgir a iniciativa.
“É um evento muito importante e que marca a história da cidade, mas simplesmente não vejo muitos registros sobre ele. Vi um vídeo na Universidade, mas pouco divulgado, e há um livro sobre a banda. Pensei que seria legal um video mostrando essa banda que é tão importante“.
Também no mesmo dia 16 de janeiro, a jornalista Clarice Manhãs, do jornal Diário do Amazonas, publicou uma matéria intitulada “Políticos são alvo do bom humor no Carnaval de Manaus“:
Com a proximidade do carnaval, a tradição de ilustrar humorísticamente a conduta de políticos da cidade ganha maior evidência. Neste período, os escandâlos que durante o ano foram noticiados pela imprensa e ilustrados em charges, chegam às ruas na forma de marchinhas.
Constantemente retratado nas charges do Diário, o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (ALE), deputado Berlamino Lins (PMDB), o “Belão”, disse que não se incomoda com as sátiras, desde que não tenha sua honra desrespeitada.
“Eu faço é rir, principalmente quando sou colocado excessivamente gordo ao lado do Sinésio (Campos) bem pequenino”. Em 16 anos de vida pública, “Belão” já perdeu as contas de quantas vezes foi alvo do bom humor. Neste ano, ele inspirou o tema da Banda da BICA: “No reino do Belão, todo mundo mete a mão” .
Companheiro certo de Belarmino nas charges do Diário, o deputado Sinésio Campos (PT), disse que vê com bom humor quando é retrado, mas avalia que suas características físicas são alteradas nas ilustrações. “Não tenho esse topete que sempre aparece, mas fico bonito. Acho engraçado que me colocam ao lado do ‘Belão’ até quando eu nem tenho nada com o assunto”.
O governador Omar Aziz disse que nunca se sentiu desrespeitado em charges ou marchinhas de carnaval e avaliou que é favorável às homenagens quando não há ofensa pessoal. “Eu gosto de humor, já fui presidente de escola de samba, e acho que quando se é querido não há risco de virar piada de mal gosto”.
O secretário de Cultura do Estado, Robério Braga, foi tema de marchinhas de Carnaval diversas vezes, e afirma que este tipo de música faz parte da tradição de todo País. Ele ressalta que os autores devem ter cuidado para não ridicularizar os homenageados.
O ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa, recomenda levar as críticas bem humoradas “na esportiva”. Ele, que teve a paternidade do filho de uma enfermeira envolvida numa marchinha da Banda da BICA, disse que nunca se ofendeu com as músicas. “Acho absolutamente normal que agentes públicos sejam tema de brincadeiras”.
Pesquisa
Para o professor Thiago Rocha de Queiroz, pesquisador do Laboratório de História da Imprensa no Amazonas, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), entre 1964 e 1978, as charges criticavam principalmente os hábitos da sociedade local, em razão da censura imposta pelo regime militar. A pesquisa do professor está focada na obra do chargista João Miranda de Queiroz, mais conhecido como Miranda, que durante 47 anos ilustrou a política e costumes manauara em jornais da cidade.
“Foi depois de 1979 que ele (Miranda) passou a retratar políticos como Arthur Neto (PSDB) e o ex-governador Gilberto Mestrinho, depois da abertura política”. Thiago avalia que as charges daquele período tinham caráter mais informativo, com traços simples, em comparação com as atuais, que ele analisa como caricaturadas.
Banda de rua investe em temas políticos
O Carnaval de rua em Manaus geralmente utiliza fatos políticos como temática. Em 2009, por exemplo, um esquema de corrupção na gestão do ex-governador Eduardo Braga, noticiado pelo Diário, foi alvo da Banda da BICA, que parte do Bar do Armando, no Centro de Manaus, com o título “Renata Ingrata”.
Para o carnaval de 2011, a direção da confraria informou que o tema será “No reinado do Belão, todo mundo mete a mão”, inspirado nas várias reportagens sobre os benefícios dos deputados na Assembleia Legislativa.
O jornalista e escritor Mário Adolfo, compositor de oito marchinhas de carnaval da Banda da BICA, conta que já sofreu ameaças por satirizar alguns políticos em suas composições, entre outras represálias.
Ele lembra que a primeira canção com tema político que escreveu, há quase dez anos, ironizou a declaração do hoje senador eleito Eduardo Braga (PMDB), num debate na televisão, onde ele afirmou que o então adversário na disputa pelo Governo do Amazonas, Alfredo Nascimento (PR), levava tucumã ao gabinete de Amazonino Mendes. “A linha que separa o humor e o chulo é de uma miligrama, muito tênue, prefiro não ofender e não acusar ninguém”.
O chargista do Diário, Júnior Lima, disse que escolhe o tema das ilustrações com base nos acontecimentos cotidianos de maior destaque e busca ressaltar características físicas dos políticos com bom humor. “O mais difícil é traduzir a situação numa imagem simples de entender, que não gere muitas interpretações diferentes”, afirmou.
No dia 23 de janeiro, no caderno Elenco, do jornal Amazonas em Tempo, a jornalista Chris Reis publicou uma matéria intitulada “Tradição e irreverência”:
Irreverência aliada a um apurado senso crítico com a trilha sonora composta de marchas de Carnaval dão o tom da Banda Independente Confraria do Armando (BICA), criada no final de 1986 por um grupo de jornalistas e intelectuais de esquerda que se inspiraram nos tradicionais blocos do Carnaval carioca que tocavam marchinhas.
A ideia surgiu num dos muitos happy hour que aconteciam no bar do português armando, lugar onde a nata da intelectualidade da época se reunia para discutir temas ligados à política e à censura.
“No bar do Armando se reunia a elite intelectual da cidade e começou daí a ideia de fazermos algo parecido com um bloco de jornalistas que existia em Brasília que fazia crítica social. Em Manaus só existia a banda do Mandy's Bar, mas que era muito elitizada. A adesão foi muito rápida e logo tínhamos muitos seguidores”, recorda Aldisio Filgueiras, um dos fundadores da banda, juntamente com os jornalistas Mário Adolfo, Deocleciano Bentes, Simão Pessoa, além de Manoel Corrêa, Manoel Borges, Glória Lopes, conhecida como Mona (a primeira rainha da bateria), Afonso Toscano, Jomar Mendes e o próprio Armando, entre outros que, para marcar a fundação da BICA compraram um livro tipo ata.
Porém, como Aldisio faz questão de deixar claro, isso foi feito apenas como ato simbólico, pois desde sempre todos evitaram as burocracias.
“Começamos com uma brincadeira de atirar pó e maizena nos outros, o que era uma característica de carnavais passados. Mas já tínhamos o espírito crítico”, completa Mário Adolfo. “Temas políticos e polêmicos nunca faltaram e não perdoamos nem o escândalo das carteirinhas da OAB que envolveu um parente do Armando”, orgulha-se o jornalista que compôs oito marchas ao longo dos anos.
Sem censura
Uma das características marcantes da BICA era que, para fugir da censura, as marchinhas eram assinadas por compositores mortos, explica Mário. Porém, ele já chegou a ouvir de pessoas do seu Aldo que eram responsáveis por músicas que tinham sido compostas por ele.
“Por isso, agora colocamos os nomes e no livro Amor de BICA, eu e Simão resgatamos os outros compositores”, diz.
Para colocar, literalmente, o bloco na rua naquele primeiro ano, os biqueiros arrecadaram doações em cerveja. Celito Chaves e Afonso Toscano compuseram a primeira marchinha da banda. Sergio Litaiff foi o responsável pela sugestão do nome e Celito sugeriu inserir a palavra independente, surgindo assim a BICA.
Mário Adolfo recorda que a letra da primeira marchinha já começava a dar o tom de como seria a BICA, sempre marcada pelo deboche: “Na Banda Independente da Confraria do Armando / Tá todo mundo dando / Tá todo mundo dando...”
No primeiro desfile, os biqueiros - como se auto-intitulam os frequentadores - estavam de cueca samba-canção e o estandarte (fazendo uma alusão ao próprio Armando e seu bar) tinha o desenho de uma cueca, cebola e mortadela.
“Diferentemente de outros blocos que ficavam parados, nós desfilávamos pelas principais ruas do centro da cidade”, explica Mário Adolfo.
Além disso, os biqueiros pediram ao artista plástico Paulo Mamulengo alguns bonecos semelhantes aos do carnaval de Recife, que fazem parte da banda até hoje.
Um dos símbolos da BICA é Dona Petronila, sua eterna rainha, que começou a desfilar por volta dos seus 70 anos e só parou há algum tempo por motivos de saúde.
“Para contradizer as outras bandas onde as rainhas eram as mais bonitas, escolhemos a senhora mais velha que frequentava o bar. A Petronila tinha cerca de 70 anos e quando saía da novena, entrava no bar, pedia uma cerveja e um sanduíche, bebia, comia e saía”, esclarece Mário Adolfo, que com essas e outras histórias escreveu o livro “Amor de BICA”, com Simão Pessoa, Orlando Farias e Marco Gomes, onde contam suas lembranças.
Para Aldisio, a essência da banda continua a mesma, mesmo depois de ter alcançado um tamanho muito maior do que os fundadores esperavam.
“Ainda mantemos a ideia de tocar apenas marchinhas e sambas de enredo”, diz.
Opinião diferente tem Mário Adolfo que defende que a banda seja tombada da mesma forma que a Banda de Ipanema, que é administrada atualmente pelo poder público.
“Uma das características era desfilar na rua. Porém, com o tempo, aconteceu o acúmulo de brincantes que se misturam aos vendedores ambulantes. Com isso, às 19h já começa a ficar impossível brincar”, critica, completando que fica difícil controlar 70 mil pessoas.
Outra crítica refere-se ao fato de que com o tempo terem aparecido vários “donos da BICA” e que, por conta dessa situação, muitas pessoas antigas estão se afastando.
Este ano o tema da BICA promete mais polêmica (o que não é novidade): “No Reino do Belão, Todo Mundo Mete a Mão”.
O tema é baseado no escândalo da suposta obra do governo federal paga e não executada. Essa é a BICA!
No dia 1º de fevereiro, no jornal A Crítica, o jornalista Jony Clay Borges assinava uma matéria intitulada “Humor e irreverência nas marchinhas!”:
Carnaval é assim: tudo se torna motivo para folia.
Bons exemplos disso são as marchinhas de algumas bandas carnavalescas de Manaus que, com bom humor e muita irreverência, conseguem transformar desde temas prosaicos, como traições amorosas, até episódios do noticiário político em mote de animadas canções para agitar o público folião da capital.
A banda da Toca do Chifre já denuncia no nome o seu maior tema para fazer troça: o corno, símbolo do homem traído.
Realizada desde 2006 na Vila da Prata, a folia este ano ganhou uma marchinha oficial, com o tema “Por isso é que tu pega!”, que revela diversos comportamentos comuns de quem é traído.
“Desconfiou que ela tinha um amante/ Prometeu fazer um escarcéu / Mas na hora de dar o flagrante/ Arregou na porta do motel/ Por isso é que tu pega”, avisa um trecho da marchinha (confira a letra na íntegra nesta página).
A letra, vale dizer, foi inspirada em casos reais, de acordo com o autor, o publicitário e músico Denilson Novo, de 31 anos.
Mesmo sendo novato na “confraria dos cornudos”, ele conta que embarcou no espírito de brincadeira do grupo – formado por jornalistas, repórteres fotográficos e outros profissionais do segmento da comunicação.
“Ao invés de ficar chorando, eles se juntam e ficam na bagunça. Um falando para o outro, ‘Ah, por isso é que tu pega!’, surgiu a proposta de fazer a marchinha para a banda. Peguei a ideia e, em cima das histórias que iam me contando, fui escrevendo. Ficou uma marchinha bacana”, comenta Novo, também integrante da banda Os Tucumanos.
Histórias
Embora a letra pareça contar a história de um homem só, cada estrofe na verdade corresponde a um caso diferente – nenhum deles autobiográfico, ele garante.
“Foi só uma grande brincadeira, a gente tirando onda um com o outro nesse meio jornalístico”, comenta ele. “Quem já faz parte da história e já levou uma ‘galhada’ se identifica mais”.
A música da canção-tema da banda da Toca do Chifre é assinada também por Novo, com arranjos de Paulo Marinho.
A marchinha oficial dos “cornudos” ainda deverá ser gravada nos estúdios de Marinho, tendo o cantor e compositor Nícolas Jr. nos vocais e as meninas do Dueto Amazônico, Anna Cláudia Ribeiro e Julieta Câmara, mais Rodrigo Brandão, da banda Por Amizade, nos backing vocals. A música promete agitar a folia, marcada para acontecer no dia 7 de março (veja o box).
Do noticiário
Completando 25 anos de irreverência no Carnaval de Manaus, a Banda Independente Confraria do Armando, a popular BICA, novamente tomou um assunto dos noticiários da cidade como seu tema para 2011.
Intitulada “No reinado do Belão, todo mundo mete a mão”, a marcha oficial da folia faz referência ao mandato de Belarmino Lins na presidência da Assembleia Legislativa, e a episódios das últimas eleições.
Como é tradição na Bica, a marchinha é atribuída a membros da confraria que já se foram: Celito Chaves e Carlinhos Genesino (música), Flavio Gerson e Jorge Mota (letra) e Maestro Carriço (arranjos).
Como a letra chega aos mortais?
Um irreverente integrante da diretoria explica: “Os autores são médiuns, recebem na mesa branca e sai a marchinha”.
‘Carnacorno’ acontece há seis anos
A banda da Toca do Chifre, ou Carnacorno de Manaus, foi realizada pela primeira vez em 2006.
A folia é organizada pela Toca do Chifre, uma confraria de “cornudos” fundada em outubro de 2004 pelos repórteres fotográficos Manoel Vaz e Altemar Alcântara, e seus amigos – tendo todos em comum a experiência da “chifrada”, que de vergonha passou a motivo de gozação e até orgulho.
Além de Vaz e Alcântara, fazem parte da diretoria da confraria hoje Clóvis Miranda, Robervaldo Zezinho, Rubem Santos e Ulysses Boca.
A primeira edição da banda da Toca do Chifre – que contou com a simpatia total da comunidade da Vila da Prata onde acontece – teve como tema “Chifre é que nem caixão, um dia você terá o seu”.
No ano seguinte, reunindo um público bem maior que o do anterior, a folia teve como tema “Chifre é como consórcio: quando menos espera você é contemplado”.
Desde então, o Carnacorno de Manaus vem ganhando mais adeptos e admiradores.
Os integrantes da diretoria da Toca do Chifre sonham em fazer da folia uma referência nacional, e garantem: “Ficará conhecido como o maior evento chifral do Brasil”.
Deocleciano Souza e Evelyn comandando o desfile
No Reinado do Belão Todo Mundo Mete a Mão
Música de Celito Chaves e Carlinhos Genesino
Letra de Carriço e Mota
No Reinado do Belão
A minha BICA vai entrar
Vai fazer mais um cordão
Pro Belão e sua turma rebolar
Rebola Belão aqui
Rebola Belão pra lá
Ô Belão seu rebolado
É bom pra BICA entrar (que reinado!)
Veja que reinado é esse
A babita tá correndo solta
O Dudu puxou o dindim pra fora
E encheu de voto
A urna da Vanessa
E a malandragem no reinado vai a mil
E dá-lhe BICA puta que o pariu!
Pau é pau
BICA é BICA
Não diga que protesto
É votar em tiriricas
Coitado do Arthur
Já era o nobre senador
Se lascou todo nesse fight
Só lhe resta o tatame do judô
A Lourdes disse e o Armando confirmou
De beleza nada tem esse Belão
Um gajo desse lá em Portugal
Vai se acabar na masmorra da prisão.
Pau é pau....
A galera de biqueiros descendo a avenida Getúlio Vargas
No dia 24 de fevereiro, o jornal A Crítica publicou uma matéria intitulada “Amor de BICA agora também é virtual”:
No próximo sábado, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA) desfila pelas ruas do centro da cidade pela 25ª vez.
Serão as “Bodas de Prata” da mais escrachada folia carnavalesca de Manaus.
Além dela, tem a Bhanda da Bhaixa da Hégua, que desfila no dia seguinte, pela 21ª vez, pelas ruas do bairro de Educandos.
Para comemorar as datas redondas das principais folias de rua da capital, o jornalista Simão Pessoa decidiu fazer o relançamento do livro “Amor de BICA” em versão virtual, no endereço www.amordebica.blospot.com.
Diferente dos e-books tradicionais, o título não é disponibilizado como um arquivo único, mas sim em postagens no blog.
A obra é escrita por Pessoa em co-autoria com Orlando Farias, Mário Adolfo e Marco Gomes.
Para festejar o evento, estou disponibilizando na web o livro “Amor de BICA”, feito a oito mãos por esse escriba, Orlando Farias, Mário Adolfo e Marco Gomes, que estava esgotado há cinco anos.
Diferente da edição impressa, a versão eletrônica do livro ganhou três novos capítulos falando sobre o nascimento da Banda do Mandy’s Bar, da Banda do Boulevard e da Bhanda da Bhaixa da Hégua, as agremiações pioneiras (junto com a BICA) na revitalização do carnaval de rua amazonense.
BICA
Mário Adolfo, um dos co-autores e fundador da banda, lamenta que o livro não tenha ganho uma nova edição e destaca o ótimo senso de oportunidade de Pessoa.
“É importante essa iniciativa do Simão, por que a Internet é uma coisa muito democrática e proporciona que as pessoas conheçam as histórias da BICA e das outras bandas que foram responsáveis pela revitalização do Carnaval de rua em Manaus, no fim dos anos 80. Além disso, a primeira edição esgotou muito rápido e pouca gente teve contato”.
Além de entusiasta do projeto de reedição do livro impresso, Mário Adolfo sugere uma forma de proteger a importância da BICA para a cultura da cidade.
“Penso que a BICA tenha que seguir o caminho da Banda de Ipanema, no Rio de Janeiro, e ser tombada como patrimônio público”.
Bar era ponto de ‘subversão’
O Bar do Armando entrou para o folclore da cidade no fim dos anos 70, principalmente por conta de ser próximo à antiga faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas e das redações dos principais jornais da época.
Era no bar que os universitários e intelectuais da cidade podiam discutir política livremente.
Os biqueiros retornando para a concentração no Largo São Sebastião
Mário Buriti e Afonso Toscano
A muvuca começando a pegar fogo
Torrado Partideiro, Marinho Saúba e Mestre Arnoldo
Marco Adolfs, Dondon, Gereba, Zé Picanço e Renda
Os biqueiros curtindo a bateria da Vitória Régia
Biafra, o eterno vocalista dos Demônios da Tasmânia
A turma do fundão do trio elétrico
Armando Soares e Amecy Souza
A jornalista Paula Andréa no meio do fuzuê
Armando sendo levado para o meio da galera
Ana Cláudia e Mestre Pinheiro
Os pagodeiros Carlos Lambreta e Dermilson da Bia
Maria Rita e Mestre Louro
Elisângela Popopô e a gaiola das popozudas
Biafra, Amecy Souza e Lourdes Soeiro
Amanda, Maria Eduarda e José Martins Rocha, o Rochinha
Luiz Lobão e Clovis Moreno
Anderson do Cavaco e Mara Rúbia
A sempre simpática Lucinha Cavalcanti
Adelaide do Sereno tomando todas
Fátima Aguiar e Socorro Papoula mandando um beijim
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