No dia 5 maio de 1999, a Agência Senado divulgou uma matéria intitulada “Advogado denuncia desembargador por venda de alvará de soltura”, que foi repercutida em vários jornais locais:
Um esquema de venda de alvarás de soltura no Amazonas foi denunciado nesta quarta-feira (dia 5), à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura irregularidades no Poder Judiciário, pelo advogado Abdalla Isaac Sahdo Júnior.
Ele acusou o desembargador Daniel Ferreira da Silva, do Tribunal de Justiça do estado, de estar por trás do esquema. Para o advogado, trata-se de “um desembargador corrupto”.
O advogado afirmou que um cliente seu, o traficante Firmino Vicente Caldas, tentou intermediar a soltura de dois traficantes colombianos, Carlos Escobar e Ramiro Arango. A intermediação teria ocorrido porque ambos não falavam bem o português.
Segundo Abdalla, Firmino orientou-os a pagar R$ 30 mil ao chefe da Divisão Judiciária do TJ/AM, Antonio Carlos Santos Reis.
Conforme o relato do advogado, o dinheiro foi pago, mas o alvará saiu em nome de outro preso, o também traficante Altamiro Câmara Filho, motivo pelo qual Firmino é agora cobrado pelos traficantes.
Sempre de acordo com seu relato, o dinheiro foi entregue a Santos Reis pela irmã de Firmino, Gerita Carvalho Caldas.
Abdalla ressaltou que o alvará foi expedido em 22 de abril de 1998. Menos de duas semanas depois, porém, o desembargador expediu mandato de prisão contra o mesmo Altamiro, a quem mandara soltar pouco antes.
Segundo o advogado, Daniel Ferreira da Silva acusou Santos Reis de ter falsificado sua assinatura, acusação desqualificada através de exame grafotécnico.
De acordo com o advogado, todos os alvarás foram expedidos por solicitação da advogada Maria José Menescal, esposa do juiz da 4ª Vara Criminal de Manaus, José Carlos Menescal. Todos foram concedidos apesar do parecer contrário do Ministério Público.
Abdalla citou também a carta do traficante Charles Rodrigues, endereçada, mas nunca entregue (por motivos que não especificou), ao chefe da Procuradoria da República no Amazonas, Sérgio Lauria. Conforme o advogado, o preso relata que a advogada lhe cobrou R$ 21 mil por sua liberdade.
Segundo Abdalla, a esposa e a tia do preso foram, no carro da advogada, até a casa do desembargador, de onde saíram com o alvará, posteriormente cassado pelo tribunal.
Outros alvarás, de acordo com o advogado, foram concedidos pelo desembargador Daniel aos traficantes Edmilson Cruz e José Juraci Lucas.
Abdalla afirmou que, em relação a este último, o alvará foi concedido três dias antes do pedido para a soltura do preso.
O advogado relatou ainda o caso de um açougueiro que tentou três habeas corpus. Os dois primeiros, feitos por um advogado de Manaus e outro de São Paulo, foram negados.
O terceiro, impetrado por Maria José Menescal, foi atendido pelo desembargador Daniel.
“O único fato novo foi o de ter sido defendido pela advogada Maria José”, afirmou Abdalla.
Em agosto daquele ano, os jornais A Crítica, Diário do Amazonas e Amazonas em Tempo tiveram acesso a um relatório do Ministério Público Federal, que denunciava o desembargador de envolvimento na venda de alvarás de soltura e liberação, em benefício principalmente de presos por tráfico internacional de drogas, e produziram várias matéria sobre o assunto.
No geral, o desembargador Daniel Ferreira da Silva havia sido notificado pelo Superior Tribunal de Justiça a apresentar sua defesa num prazo de 15 dias.
Ele foi denunciado pela prática de crimes de concussão (extorsão praticada por funcionário público) e prevaricação (omissão para obtenção e vantagem) em inquérito conduzido pelo ministro do STJ, Sálvio de Figueiredo.
O ministro mandou notificar também a advogada Maria José Rodrigues Menescal de Vasconcellos e o servidor do Tribunal de Justiça do Amazonas, Antonio Carlos Santos Reis, acusados de agir em conjunto com o desembargador na liberação de traficantes.
O inquérito foi aberto em maio pelo STJ atendendo solicitação do Ministério Público, que apresentou a denúncia formal contra o desembargador e ex-corrgedor geral de Justiça do TJ/AM.
Na denúncia, a subprocuradora-geral da República, Yedda de Lourdes Pereira, afirma que o desembargador Daniel Ferreira e a advogada Maria José Menescal acertaram um esquema de venda de alvarás de soltura, através de habeas-corpus e correições parciais para progressão do regime fechado para o aberto, para atendimento, em grande parte, de traficantes, mediante pagamento de quantias que variavam de R$ 20 mil a R$ 40 mil.
A advogada Maria José Menescal é denunciada por concussão e exploração de prestígio, pelo fato de ter atuado junto ao desembargador na obtenção, em 1998, de alvarás de soltura de 16 presos, brasileiros, colombianos e peruanos, a maioria sob jurisdição federal, respondendo por tráfico internacional de Drogas.
O funcionário do TJ/AM Antonio Carlos Santos Reis, então chefe da Divisão Judiciária do Tribunal, é acusado de estelionato, falsidade ideológica e falsificação de documento público também para liberar presos em penitenciárias amazonenses, acusados de tráfico de entorpecentes.
A denúncia do Ministério Público ressalva, em relação ao funcionário, que uma perícia afastou sua autoria na falsificação de documentos. Mas salienta: Há toda evidência de que Antonio Carlos Santos Reis sabia do esquema e dele se aproveitou, embora rechaçado por Daniel Ferreira da Silva, logo no início, o que não exclui sua participação nos fatos.
Com base nas peças do inquérito relatado pelo ministro Sálvio de Figueiredo, a denúncia do Ministério Público sugere o enquadramento do desembargador Daniel Ferreira da Silva nos artigos 316 (concussão) e 319 (prevaricação) do Código Penal.
No primeiro caso (art. 316), que pune os crimes de extorsão ou exigência de vantagem ilícita por funcionário público, a pena prevista é reclusão de dois a oito anos, e multa.
No que se refere ao artigo 319, a pena prevista é detenção de três meses a um ano, e multa, quando é configurada a prática de omissão para obtenção de vantagem indevida.
A subprocuradora-geral da República Yedda de Lourdes Pereira pede também o indiciamento da advogada Maria José Menescal por crimes de concussão (art. 316) e exploração de prestígio (art. 357).
Por exploração de prestígio, entende-se o fato de a advogada ter sido autora das solicitações dos habeas-corpus a traficantes brasileiros e colombianos presos no Amazonas, em conluio com o desembargador.
A pena prevista nesse caso pelo Código Penal varia de um a cinco anos, e multa.
Para o funcionário Antonio Carlos Santos Reis, o Ministério Público pede a aplicação do artigo 171 do Código Penal, que pune a fraude e o estelionato com penas de um a cinco anos.
Não se sabe como, mas o certo é que o desembargador Daniel Ferreira da Silva conseguiu obter no Tribunal de Justiça do Amazonas uma liminar para que seu nome não fosse citado em nenhum dos jornais locais.
A pena para quem desobedecesse a liminar seria a punição com a prisão dos diretores de jornais e multa diária de R$ 100 mil.
Em termos práticos, era uma censura prévia e os jornais ficaram amordaçados.
A BICA não ia deixar barato a presepada e escolheu seu tema para o carnaval de 2000: “Alvará pra Imprensa, Mordaça pra Corrupção”.
No dia 24 de fevereiro de 2000, o poeta Simão Pessoa escreveu no Amazonas em Tempo o seguinte texto:
Nesta quinta-feira, a partir das 20 horas, a Banda Independente Confraria do Armando (BICA) realiza no Bar do Armando, ali na praça São Sebastião, o seu aguardado ensaio geral para o portentoso e monumental carnaval de rua que vai rolar no próximo sábado, no centro da cidade.
Rompendo uma tradição de 12 anos, a banda vai ocupar as ruas da cidade com a cara e a coragem.
Explica-se: o José do Patrocínio da BICA (um moreno alto, bonito e sensual, chamado Odilon Andrade), ex-diretor da Cervejaria Antarctica, tirou o time de campo e hoje se dedica a criar cadornas em Tabatinga, no alto Solimões.
Os atuais diretores da empresa, simplesmente, odeiam carnaval e cortaram todas as cotas de patrocínio.
Entre os biqueiros, a sensação é que, de uma hora para outra, a banda ficou órfã de pai e mãe.
“A falta de sensibilidade dos atuais diretores da cervejaria tira qualquer um do sério”, reclama Francisco Cruz, atual comandante-chefe da BICA, depois que o presidente Jomar Fernandes solicitou seu afastamento por ter contraído malária.
“O Bar do Armando é, disparado, o maior vendedor de cervejas Antarctica do centro da cidade e a BICA faz um carnaval de graça para quase 20 mil foliões. Nada mais lógico do que a cervejaria investir uma parte do lucro auferido durante o ano nesse único dia de folia”.
Os custos para colocar uma banda na rua estão estimados em R$ 15 mil.
Até o ano passado, um terço desse valor vinha do “direito de arena” ou da “exclusividade de patrocínio” da cervejaria escolhida.
Outro terço, era oriundo da venda de camisas e CDs, e o restante das contribuições voluntárias no Livro de Ouro.
O fim das cotas de patrocínio abriu um “rombo” nas finanças das bandas.
Das quase setenta, que desfilaram ano passado, apenas dez estão confirmadas este ano: a BICA, a Difusora, a Cuiu-Cuiu, a Bhaixa da Hégua, a do Jacaré, a das Piranhas, a do Clube Hype, a do Cinco Estrelas, a da Caixa Econômica e a da Jovem Pan. As demais tomaram chá de sumiço.
Especula-se no Bar do Armando que essa pisada de bola das cervejarias seja reflexo das garrafadas que estão sendo trocadas entre a AmBev, nascida da fusão de Brahma e Antarctica, e a Kaiser.
“O dinheiro que seria gasto com as bandas está sendo desviado para compra de votos dos integrantes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que deverá dar sua palavra a respeito da criação da AmBev até o final do mês, podendo sacramentar ou inviabilizar a fusão”, dispara Deocleciano Souza, atual presidente do Sindicato dos Jornalistas do Amazonas.
O jornalista parece ter razão. Segundo a revista Veja desta semana, as empresas resolveram jogar pesado para fazer a cabeça da população e influenciar a decisão dos burocratas.
“Reservamos 3,6 milhões de reais só para a campanha”, diz Pandolpho, da Kaiser.
“Já autorizamos uma verba publicitária extra de 5 milhões de reais. Até onde eles forem, nós vamos”, contra-ataca Marcel Talles, co-presidente da AmBev.
Quer dizer, só com a dinheirama que está sendo gasta nesta troca de ofensas diária entre as duas cervejarias daria para patrocinar 2 mil bandas do tamanho da BICA.
Apesar dos pesares, a banda promete um carnaval inesquecível.
O grupo Demônios da Tasmânia, formado por experimentados músicos da banda da Polícia Militar, resolveu aceitar um cachê simbólico para participar da fuzarca.
A bateria da escola de samba Reino Unido também vai estar presente na folia, assim como os grupos de pagode Toco Cru Pegando Fogo, Só Preto Com Preconceito e Academia do Samba do Crioulo Doido.
As novidades ficam por conta dos músicos Abílio Farias, Nunes Filho e Teixeira de Manaus, que vão fazer uma participação especial cantando músicas-brega em ritmo de carnaval, e do “combo” multimídia Dente de Dragão, que acaba de chegar de uma excursão vitoriosa pelas praias do Caribe.
As camisas da BICA estão sendo vendidas no Bar do Armando ao preço de R$ 10 e o CD com a marchinha “Alvará pra Imprensa, Mordaça pra Corrupção” pode ser encontrado em qualquer banca de camelô ao preço simbólico de R$ 5.
Sob a acusação de que tinha um “traço muito acadêmico”, o artista plástico Jorge Palheta foi deletado da comissão artística da banda e não assina a camiseta deste ano.
É outra tradição que também foi pras cucuias. Ô raça !
Dona Lourdes e Armando querendo saber qual é o pó....
Na sexta-feira, 25 de fevereiro a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, publicou a seguinte nota:
BICA
Admirador da irreverência da Banda da BICA, o secretário estadual de Segurança Pública, Klinger Costa, espera que ele não tenha de cumprir nenhuma ordem para proibir o mais tradicional grupo de carnaval de Manaus. “É bem melhor que a policia vá a praça São Sebastião apenas para manter a segurança dos cidadãos”, diz ele.
No sábado, 26 de fevereiro, o jornalista Mário Adolfo escreveu o seguinte texto no Amazonas em Tempo:
Um sábado sem lei. É o que promete a diretoria da Banda Independente da Confraria do Armando, a escrachada BICA, que sai neste Sábado Magro, garantindo colocar 30 mil malucos no território do boteco mais famoso da cidade, tendo como testemunha o Teatro Amazonas e como santo protetor São Sebastião (que ninguém se lembre de casar nesse dia).
De fato, a BICA vai precisar de proteção. Seu enredo ironiza até mesmo o dono do bar, o português Armando, que foi chamado às falas no ano passado, porque resolveu conceder asilo a algumas tartarugas e não soube explicar ao Ibama o que as bichinhas estavam fazendo lá no seu tanque.
“Armando! Meu querido português/ Vende x-porco e quelônio pro freguês/ A banda não que ser presa, caspite/ Aqui na BICA todo mundo cheira vick”, diz a bem-humorada letra da marchinha, que este ano foi composta por Tim Maia, Rosendo Lima, Celeste Pereira e Silvério Tundis e psicografada por nada menos que Dr. Fritz, com revisão de Paulo Graça.
Com o enredo “Alvará pra Imprensa, Mordaça pra Corrupção”, o Núcleo de Criação do Bar do Armando encontrou dificuldade para explicar a alguns de seus membros que a BICA não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também.
A idéia é criticar a situação do País que foi bombardeado de CPIs, entre elas a do Judiciário.
Por conta disso, muito juiz que costuma sair na BICA resolveu pegar febre amarela, dengue, malária e outras pragas tropicais para tirar o dele da reta, já que quando o assunto é banda todos são iguais perante a BICA.
Esta semana o português Armando recebeu a visita de um oficial de Justiça para explicar o refrão da marchinha: “Alvará, alvará/ A minha BICA dessa vez vai levantar!”
– O senhor quer insinuar o quê, sêo Armando?...
O português que estava cortando o pernil para fazer um sanduba, coçou as costas com a faca e saiu pela tangente:
– Seu doutore, me desculpe, mas esses meninos que se metem a fazer música na BICA são um bando de analfabeto. Na verdade, o enredo é uma homenagem a Álvara, irmã gêmea do Álvaro, que faleceu no carnaval passado. Só que na hora de escrever o nome, os burros em vez de acentuar o primeiro “A”, acentuaram o segundo. Ai, Jisus!!!
O oficial de Justiça tentou falar alguma coisa e Armando tascou uma fulepa de pernil na boca do cidadão, calando-o para sempre.
Dois dias depois, passou lá o fiscal do Ibama querendo saber mais sobre a letra, que tem dado um trabalhão danado.
– Sêo Armando, o senhor pode me explicar o que significa “Armando!/ Meu querido português/ Vende x-porco e quelônio pro freguês”... Que história é essa de quelônio?...
– Seu doutore, um pilantra chegou comigo e solicitou: “Posso guardar uns quelônios lá no teu tanque?” Como era terça-feira e eu só lavo minhas cuecas na quinta, eu deixei. Mas doutore, eu lhe juro, eles brincaram com a minha boa-fé. Quando que eu ia imaginar que quelônio e tartaruga são a mesma coisa. Ô língua!
E logo em seguida, como tinha outras pessoas que precisavam ser atendidas, solicitou ao fiscal do Ibama:
– Dá pro senhor entrar na bicha?...
– O quê?!! – berrou indignado o homem.
– Calma, doutore... Bicha lá em Portugal é fila. Ô língua!
A BICA começa a se concentrar a partir das 13 horas. Às 15, a diretoria recepciona Petronila, a venerada senhora que, mesmo aos 83 anos, carrega o pau (da bandeira) da BICA até o final do desfile.
O boneco do Armando, que em 97 foi seqüestrado, permanecerá algemado por todo o desfile no pé do palanque.
Frei Fulgêncio já avisou que este ano não casa ninguém no Sábado Magro de carnaval e já mandou até passar a tranca na porta da igreja.
Na última vez que um casal maluco resolveu casar no dia da saída da BICA foi um deus-nos-acuda.
O coronel Orleilson Guimarães, que era o comandante da PM à época, foi lá conversar com os anarco-cachaceiros do Armando.
Com o vozeirão de Kirk Douglas e aqueles olhos de Tony Curtis, o oficial falou:
– Dá pra vocês beberem daqui pra lá e deixar a área da entrada da igreja livre? – sugeriu.
– Que dá, dá! – concordou Armando. “Agora tente explicar isso pra mais de 10 mil malucos, com mais de uma grade de cerveja na cabeça, coronel...”.
O dia do casamento foi um vexame. Os biqueiros esqueceram por uns minutos que estavam ali para brincar carnaval e passaram a fazer torcida para o casamento.
Quando surgiu o noivo a canalha começou a cantar:
– E dá-lhe noivo! E dá-lhe noivo! Olé, olé, olá!!!
O noivo apressou o passo e por pouco não entrou na sacristia pra se esconder.
Quando surgiu a noiva, então, foi um deus-nos-acuda.
O coro de biqueiros não perdoou:
– A noiva é esquisita/ Vai entrar na BICA!/ A noiva é esquisita/ Vai entrar na BICA!
A noivinha corou de vergonha e dizem que naquela noite não quis entrar na BICA de jeito nenhum.
A grande polêmica deste ano ficou por conta do qüiproquó armado pelo editor do Maskate, Miguel Mourão, que depois de sofrer um atentado queria que a BICA saísse com um boneco mamulengo em sua homenagem.
Armando não topou porque só para encenar o sangue na cabeça do maskateiro seriam mais de cinco vidros de catchup.
– Tá louco, gajo! Desse jeito eu vou falir! –, explicou.
Mourão não gostou da falta de solidariedade e a manchete do Maskate esta semana foi assim: “Porco do Armando entra em Manaus sem pagar ICMS”. Égua do Mourão!
Simão Pessoa, Mário Adolfo e Simas Pessoa
Tô com a toga solta
Autores: Tim Maia, Rosendo Lima, Celeste Pereira, Silvério Tundis e Antonio Paulo Graça, psicografada por Dr. Fritz
Médiuns: Mário Adolfo, Afonso Toscano e Paulo Mamulengo
Eu hoje tô com a toga solta
Nem CPIada vai me segurar
Tô vendendo hábeas-corpus
Que compra cinco
Tem de graça um alvará
Alvará, alvará!...
A minha BICA dessa vez
Vai levantar! (Bis)
Doutora, ai, doutora!
O seu diploma foi roubado
Em Portugal
O preço do alvará tá muito alto
“Não, tá bom! Não, tá bom!”
Segue a tabela ou vou direto
Pro Procon
Alvará, alvará!...
A minha BICA dessa vez
Vai levantar! (Bis)
Armando!
Meu querido português
Vende x-porco
E quelônio pro freguês
A banda não quer
Ser presa, caspite,
Na BICA todo mundo
Cheira vick
Alvará, alvará!...
A minha BICA dessa vez
Vai levantar! (Bis)
Baretta, Davi Almeida, Mário Adolfo, Simão Pessoa, Amecy Souza, Rogelio Casado e Fredinho
No domingo, 27 de fevereiro, a coluna “Claro e Escuro”, do jornal Diário do Amazonas, publicou as seguintes notas:
Sem greve (1)
O presidente da Associação dos Magistrados do Amazonas, Jomar Fernandes, garante que os juízes do Estado não aderirão à greve que os juízes federais estão convocando. Motivo: a situação aqui é muito diferente e até mais confortável para os magistrados.
Sem greve (2)
O próprio Jomar acredita que a greve será evitada com uma atitude do governo federal, que pode anunciar alguma medida que esfrie os ânimos entre os magistrados federais, que realmente ganham muito pouco para tamanha responsabilidade.
Tô fora (1)
Ainda falando de Jomar Fernandes, ele se afastou este ano da Banda da BICA, da qual é um dos expoentes. Tudo porque a irreverente banda resolveu brincar com o desembargador Daniel Ferreira da Silva, que é tema este ano.
Tô fora (2)
Jomar explica que não ficaria bem para ele, presidente da Associação que congrega todos os magistrados, inclusive Daniel, ironizar uma situação que envolve um associado. O presidente não critica, entretanto, os integrantes da BICA, até porque conhece a filosofia e a democracia que reina na banda.
Simão Pessoa, Gracionei Medeiros, Davi Almeida e Rogelio Casado
Na terça-feira, 29 de fevereiro, o poeta Simão Pessoa escreveu o seguinte texto no Amazonas em Tempo:
As duas bandas mais animadas da Zona Centro-Sul (a Banda Independente da Confraria do Armando, no sábado, e a Banda da Bhaixa da Hégua, no domingo) mantiveram a tradição, firmada nos últimos anos, de arrastar milhares de pessoas atrás de si e realizaram um carnaval pra ninguém botar defeito.
O carioca Antônio Sérgio De Mello, atual superintendente da Suframa, era um dos mais empolgados. Ele dividiu uma mesa no camarote VIP da BICA com a jornalista Menga Junqueira, diretora do Em Tempo, e com o advogado Félix Valois, secretário de Estado de Cidadania e Justiça.
“No próximo ano vou exigir que a Suframa patrocine o carnaval de rua de Manaus”, avisou.
Patrocínio, aliás, é uma palavra que a banda mais polêmica do planeta quer esconjurar.
No sábado, depois de observar os quase 30 mil foliões dançando sem parar na praça de São Sebastião, o presidente em exercício da BICA, Francisco Cruz, desabafou:
“Nunca mais a BICA vai aceitar o patrocínio de cervejaria ou fábrica de refrigerantes. Essas empresas agora são persona non grata na banda”, resumiu.
E para mostrar que não estava brincando, mandou jogar no lixo 20 caixas de cervejas em lata que a AmBev havia enviado graciosamente para o camarote VIP da banda, erguido ao lado do Bar do Armando.
As únicas bebidas toleradas no camarote VIP eram uísque escocês 18 anos, champanhe Dom Perignon, vinho do Porto e água mineral Perrier.
Proibido de beber por recomendação médica (estava com dengue), limitei-me a administrar o bufê de pratos quentes do camarote.
Os canapés, o fogareiro de fondue e os potinhos de caviar ficaram sob a guarda do empresário Armando Loureiro.
Dos quase dezoitos tipos de pratos diferentes patrocinados pelo juiz Jorge Álvaro (desconfio de que a grana saiu do fundo de greve dos juizes federais), pelo menos quatro estavam de se sentar no chão na posição de lótus e recitar mantras à sua Divina Graça, a Gula: o lagostim à Provençal, o guisado de cutia com feijão tropeiro, a cascata de camarões gigantes e a paca no leite de castanha.
O jornalista Mário Adolfo reclamou que haviam colocado alfavaca demais no sarapatel de tartaruga, mas não cheguei a confirmar.
Este ano, o enredo da BICA (“Alvará pra Imprensa, Mordaça pra Corrupção”) acabou provocando uma série de mal-entendidos.
O secretário de Finanças do município e ex-biqueiro Aloísio Braga, por exemplo, cismou que o enredo era com ele e convenceu o prefeito Alfredo Nascimento a dar um desconto de 90% em qualquer alvará do município que fosse pago antes do dia do desfile da banda.
O juiz Jomar Fernandes, atual presidente da Associação dos Magistrados do Amazonas, também achou que o enredo era com ele e passou duas semanas tomando banho de cacimba às seis horas da tarde num sitio da AM-10. Só sossegou o facho depois que foi picado por um mosquito anofelino e contraiu malária.
O diabo é que os sintomas da doença arrefeceram dois dias antes da saída da banda e o juiz teve encarar o desfile.
A música, produzida pela ala de compositores desencarnados da BICA, na verdade, ironizava a venda de tartarugas praticadas pelo português Armando Soares e miseravelmente descoberta pelos ficais do Ibama.
Desconfia-se de que a denúncia anônima tenha partido do compositor Américo Madrugada, magoado com a concorrência desleal do Armando. Até então, o compositor tinha exclusividade no fornecimento de quelônios para os freqüentadores do bar.
O general da banda, jornalista Deocleciano Souza, comandou o desfile da BICA pelas ruas da cidade, no trajeto 10 de Julho, Getúlio Vargas, Sete de Setembro e rua Barroso, apesar da forte chuva que caía.
Cerca de 500 pessoas participaram do desfile, que foi coreografado pelo badalado Carlinhos de Jesus, mas a banda não pôde subir a Eduardo Ribeiro porque, no mesmo horário, um grupo de boi estava ensaiando as toadas de Parintins, em frente ao edifício Palácio do Comércio, para uma platéia sonolenta estimada em quase trezentas pessoas.
“Deve ter sido retaliação do Pop da Selva, o tal de Arlindo Jr.”, avaliou Deocleciano. “Ele andou se oferecendo para cantar de graça na BICA, mas ninguém quis, daí ele resolveu atrapalhar o nosso desfile”.
Aliás, três coisas são terminantemente proibidas na BICA: execução de toadas de boi e de música baiana, e desfile de mulher feia.
“Esses ingredientes ficam para essas bandas BO, que querem imitar a BICA”, resumiu Afonso Toscano, da ala de compositores dos biqueiros.
“Anota aí que BO tanto pode ser ‘Bom pra Otário’ como ‘Baba-Ovo’”, esclareceu Davi Almeida, também da ala dos compositores, se referindo a Banda da Difusora, que mais uma vez atrapalhou o desfile da BICA.
A festa da BICA prosseguiu por todo o dia de ontem, com a celebração do aniversário do português Armando e farta distribuição de cervejas em lata para os transeuntes. No próximo ano tem mais.
Jô Almeida, Davi Almeida e Petronila
Petronila e Chicão Cruz
Joana Meireles, Simão Pessoa, Jomar Fernandes e Petronila
A zorra dos biqueiros no protesto contra a falta de liberdade de imprensa
Felix Valois e Simão Pessoa
Rogelio Casado em cena de assédio sexual explícito a Petronila, para espanto da Vera Macuxi
Caio Almeida, Nega Cleide, Edu do Banjo, Marcel Almeida, Davi Almeida, Simão Pessoa e Marco Gomes
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