Na quinta-feira, dia 17 de agosto de 1999, o jornalista Mário Adolfo publicou a seguinte matéria no jornal Amazonas em Tempo:
Largo de São Sebastião (urgente) – O português Armando Soares, proprietário do Bar do Armando, o maior reduto de jornalistas, advogados, políticos, artistas, membros do GLS e outros bichos, foi preso ontem às 17 horas sob a acusação de estar vendendo quelônios, crime previsto na Lei n.º 9.605/98, que dispõe sobre as “sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao Meio-Ambiente”.
Alegando inocência, Armando foi conduzido pelos agentes ao camburão e a partir daí ninguém soube mais notícia de seu paradeiro, desencadeando uma onda de boatos, entre eles a de que Armando estava sendo expatriado para Portugal.
Uma comissão de resgate coordenada pelo juiz Jomar Fernandes e pelo advogado Alberto Simonetti foi organizada às pressas e, em menos de 15 minutos, um combio rumou em direção à Polícia Federal para soltar o Armando.
Ao chegar na portaria da PF, Jomar deu um carteiraço e sentenciou:
– Façam o favor de soltar o português se não quiserem que se instale uma crise entre os poderes!
Sem demonstrar o mínimo de preocupação com a autoridade do Jomar, o segurança da PF respondeu:
– O único português que está preso aqui, já se encontra na geladeira!
– Meu Deus, mataram o Armando! – gritou, entre lágrimas, o fotógrafo e relações-públicas do bar, Marquinhos Gomes.
Ao ouvir isso, Manuelzinho Batera começou logo a passar a sacolinha para recolher uma graninha e organizar um funeral digno para o Armando.
O promotor Chicão Cruz, mais cético, também puxou sua carteira:
– Vamos lá na geladeira identificar o corpo!
Chegando lá, o responsável pelo setor abriu a porta e um sopro congelado, acompanhado de um odor insuportável invadiu o ambiente lúgubre.
– Caralho, nem bem morreu e o português já está podre!
Ao notar que havia embrulhos no canto da geladeira, Chicão irritou-se.
– O que é isso, que português é esse?...
Paciente, o carcereiro respondeu.
– Bacalhau importado de Lisboa sem o pagamento do imposto, preso ontem à tarde.
Diante do mico, a comissão de resgate viu que Armando não estava lá e rumou para o Ibama (Instituto de Babacas Amigos dos Macacos e Araras) para soltar o português.
Chegando lá, foi o advogado Simonetti quem falou:
– Vocês querem ser culpados na mídia internacional de ter provocado o rompimento das relações Brasil-Portugal justamente nas comemorações dos 500 anos?
– Deus me livre e guarde! –, respondeu José Leiland, superintendente do Ibama, conduzindo o pessoal a uma sala onde Armando prestava depoimento.
As respostas do português já estavam irritando o delegado:
– Seu Armando, me responda de uma vez por todas, o senhor vende mesmo bicho de casco?...
– Vendo, mas com cascos nos pés, não é seu, doutore?
– Que bicho com cascos nos pés, sêo Armando?
– Porco, né doutore?
Para evitar mais desentendimentos, Simonetti propôs:
– Armando, conta a história desde o início!
– Não tem história nenhuma, rapaz. Eu estava comendo um ensopado de língua ao Arganil feita pela Lourdes quando chegaram dois camaradas e perguntaram se podiam guardar uns bichos de casco lá no meu tanque. Ora, sêo doutore, eu imaginei que era bodó e, sem levantar a vista do prato, autorizei.
Segundo Armando, meia hora depois chegaram os fiscais do Ibama.
Ninguém sabe quem dedou o português, mas suspeita-se de que tenha sido algum espião infiltrado no Partido Verde.
– Seu Armando, o senhor tem alguma coisa escondida lá no tanque?
– Além das minhas cuecas samba-canção, que a Lourdes botou de molho, tem um monte de bicho de casco!
Os fiscais foram lá e, ao meterem a cara dentro do tanque, contaram mais de 30 tartarugas, tracajás e iaçás. Armando tomou um susto:
– Ai, cairalho, como isso foi parar aí? Os sujeitos disseram que era bodó!...
Diante da saia justa, Armando ainda tentou seu explicar:
– Eu juro, seu delegado, que meu negócio é porco. Porco é permitido, não é?...
Mas não teve conversa. Ele foi logo algemado e empurrado para o camburão, no escândalo que ficou conhecido como “Operação Sarapatel”.
Depois de tudo explicado, Armando foi colocado em liberdade e jurou que nunca mais vai olhar pra tartaruga.
Quem não gostou nada do desfecho foi dona Lourdes que passou a noite atendendo aos trotes da canalha que freqüenta o boteco:
– Alô, é do Bar do Armando?
– É sim?
– Pode me informar qual o preço de uma tartaruga média?...
– Vai pra merda, seu f.d.p.! Por que não pergunta da vaca da tua mãe?!...
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