Na sexta-feira, dia 30 de janeiro de 1987, a coluna Sim e Não, do jornal A Crítica, publicava a seguinte nota:
Banda da BICA
Não esqueça: é dia 31 o desfile pelas principais ruas do centro da “Banda da BICA”. A concentração acontecerá a partir das 12 horas, no Bar do Armando, na praça de São Sebastião e poderão participar artistas, músicos, políticos, boêmios, bêbados, católicos, ateus, pretos, brancos, jornalistas, enfim, todos estão convidados. O convite é feito pela porta-bandeira Petrolina e pelo mestre-sala Pitomba. Agora não confunda porque “BICA” significa “Banda Independente da Confraria do Armando”.
Maria da Glória Lopes, a Mona, fantasiada de coelhinha da Playboy no primeiro desfile da BICA
No sábado, 31 de janeiro, o jornal A Crítica publicava a seguinte matéria:
A Banda Independente da Confraria do Armando, a conhecida BICA, revive hoje o antigo e verdadeiro carnaval na avenida Eduardo Ribeiro.
A idéia de seus organizadores, antigos e novos freqüentadores do Bar do Armando, na Praça São Sebastião, é fazer um carnaval diferente que possa, com o passar dos tempos, tornar a BICA tradicional e símbolo de resistência contra “o carnaval multinacional das superescolas de samba S.A., que não passa de cartão-postal para turista ver”, afirma Celito, compositor de renome nacional e velho freqüentador da Confraria.
O Bar do Armando é um dos mais tradicionais de Manaus e reúne em porres homéricos artistas, jornalistas, poetas, compositores, juristas e estudantes universitários e, às vezes, até políticos.
A idéia de lançar a BICA não é nova. No ano passado se chegou a pensar em colocar a banda na rua, mas seus promotores, na euforia da organização, tomaram um porre na véspera e não apareceram no dia. Coisas do Bar do Armando.
Os compositores Celito, Afonso Toscano, o ator Bonates, o professor Amecy Souza e o cantor Américo Pajurá do Racha são alguns dos organizadores da BICA, que promete colocar mais de 700 pessoas na avenida.
– A BICA não precisa de organizadores. Todos procuram desorganizar como podem! –, diz, brincando, a apresentadora de televisão Ivone Andrade, do Canal 4.
A concentração vai começar a partir das 12 horas de hoje no Bar do Armando.
A partir das 9h, já poderão ser encontradas no bar as cuecas samba-canção, fantasia obrigatória da BICA.
Os estandartes serão feitos à base de lingüiças, ceroulas, cebolas e pernil, “tudo como manda uma casa portuguesa com certeza”, garante Glória Mona, a “Glorinha”, eleita por aclamação rainha da BICA.
A banda promete sair do bar às 15 horas, descer a avenida Eduardo Ribeiro e retornar ao boteco.
Uma orquestra já foi contratada, devendo levar como puxadores os cantores Maca, Reinaldo Buzzaglo, Américo e Celito.
No retorno ao bar, a festa fica por conta de um trio elétrico, também já contratado.
Até a noite de sexta-feira já estavam pagas, pelos adeptos da BICA, cerca de 600 garrafas de cerveja e 300 pernis assados por Dona Lourdes, mulher do Armando.
Tá todo mundo dando
Autores: Celito e Afonso Toscano
Na Banda Independente
Confraria do Armando
Tá todo mundo dando,
Tá todo mundo dando (bis)
Dando alegria para esse pessoal
Que quer fazer o verdadeiro carnaval
Não tem Baile de Gala
Nem tem Baile da Chica
Vem brincar na BICA,
Vem brincar na BICA!
De camiseta e samba-canção
Vamos dançandos ateu e cristão
Nosso estandarte é uma cueca
De cebola e mortadela
Será que é do Armando?
Será que é do Cancela?
Na segunda-feira, 2 de fevereiro, o jornal A Crítica publicava a seguinte matéria:
A Banda Independente Confraria do Armando – BICA – fez jus à sua letra. Deu alegria no último sábado, ao desfilar pela avenida Eduardo Ribeiro, revivendo os velhos carnavais.
A chuva que caiu não chegou a ameaçar o carnaval. Por volta das 15 horas, o Bar do Armando, que para os religiosos chama-se Bar Nossa Senhora de Nazaré (coisa de português), já estava completamente lotado e as 500 garrafas de cerveja, que a princípio seria um exagero, não deram nem para o começo.
Ao som das marchinhas de autoria dos compositores Afonso Toscano e Celito, a banda desceu a Getúlio Vargas, Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro.
Dois momentos marcaram o desfile carnavalesco. A parada em frente à banca de tacacá da Dona Hilda, na Getúlio Vargas, e uma homenagem ao Colégio Estadual do Amazonas (Pedro II), na Sete de Setembro.
Este ano não foi igual ao que passou, quando a banda do Bar do Armando ensaiou sair e no dia não apareceu ninguém. Os freqüentadores – aí se incluem poetas, jornalistas, escritores e bêbados chatos – resolveram fundar a BICA (Banda Independente da Confraria do Armando) e tentaram organizar uma desorganização que já existe naturalmente no bar.
Um dos maiores incentivadores para a BICA ir às ruas de Manaus foi, sem dúvida, o ex-ator Bonates, que travestido de bailarina foi o porta-estandarte da banda e animou o carnaval.
A musa do grande dia de folia foi a antiga freqüentadora do boteco, Petronila, que desfilou em carro aberto e ganhou muito carinho dos freqüentadores do Armando.
A banda desfilou ao som de uma orquestra e do trio elétrico que foi usado na propaganda política do novo governador Amazonino Mendes.
– A BICA não vai se limitar só ao carnaval! –, disse o baterista Manuelzinho, ex-Blue Birds. “Ela vai reviver, em Manaus, as antigas tradições, como malhação de Judas, festa junina e outros eventos tradicionais”.
A marchinha composta por Celito Chaves e Toscano diz que a BICA será eternamente um carnaval sem “baile de Gala nem baile da Chica, vem entrar na BICA, vem entrar na BICA”.
O traje obrigatório da banda – que para variar poucas pessoas obedeceram – foi a cueca samba-canção.
O prêmio de uma cerveja pela melhor cueca ficou para o jornalista Eduardo Gomes, que despiu a sua magreza e esnobou a roupa íntima ao preço de Cz$ 60,00, vendida diretamente no Bar do Armando.
Em pé, Ana Paula, Eduardo Gomes, Elaine Ramos, Heloísa, Bebeto, Claudia Avelino, Digão, Bonates, Maldonado e André. Agachados: Tadeuzinho, Estela, Celito, Cacá e Toscano
Sergio Litaiff, encarnando um guerrilheiro palestino, e Luiz Sampaio
A Ala das Escrotas foi a que mais arregimentou brincantes, mas nenhum fantasiado de mulher
Mesmo em cima do carro, a coelhinha Mona deixou o machario em polvorosa com suas ancas bem fornidas
A leveza e a graça do porta estandarte Bonates conquistou a platéia
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