No domingo, 23 de janeiro de 1994, a coluna “Bom Dia”, do Amazonas em Tempo, publicava a seguinte nota:
A Banda da BICA (Confraria do Armando) vai deflagrar uma campanha contra a fome.
Os freqüentadores do Bar do Armando pretendem arrecadar uma tonelada de alimentos não-perecíveis para serem distribuídos às famílias carentes de Manaus.
Conhecido como um bar eclético por causa do perfil de seus freqüentadores, entre os quais advogados, jornalistas e outros profissionais liberais, o Bar do Armando adere à luta contra a fome e, sem esquecer os pileques de fim de tarde e à noite, arregaça as mangas e entra com toda força na campanha.
A proposta foi lançada pelo poeta Simão Pessoa, os jornalistas Eduardo Gomes e Jersey Nazareno, e o promotor de Justiça Francisco Cruz.
Os alimentos serão repassados aos frades capuchinhos para serem distribuídos às famílias carentes.
É a primeira iniciativa do gênero em Manaus. Os donativos devem ser entregues diretamente ao Armando. Não vale o cheese-porco, tira-gosto tradicional do bar.
Cenas de um ensaio da BICA: Lino Chíxaro pede uma cerveja, Chicão Cruz observa o movimento e Lucio Carril permanece sentado no muro.
Na sexta-feira, 28 de janeiro a coluna “Sim & Não”, de A Crítica, repercutia o assunto:
A BICA, Banda Independente da Confraria do Bar do Armando, aderiu ao movimento nacional contra a miséria. Os participantes da banda, que sairá no dia 5 de fevereiro, levarão alimentos não-perecíveis que serão distribuídos à população carente através dos padres capuchinhos da Igreja de São Sebastião. Excelente idéia a do “Carnaval Sem Fome”, nome dado à campanha.
No sábado, 29 de janeiro, o jornal A Crítica publicou a seguinte matéria:
A Banda Independente Confraria do Armando (BICA) entrou no ritmo do combate à fome e elegeu como tema para este ano o “carnaval sem fome”.
Os organizadores vão colocar 450 camisetas para serem vendidas a partir de hoje a preços de Cr$ 1.000,00 e Cr$ 1.500,00.
Parte do dinheiro arrecadado – aproximadamente Cr$ 300 mil – será utilizada para contratar os músicos que irão animar o carnaval de rua mais tradicional de Manaus.
A outra parte será utilizada na compra de alimentos não-perecíveis, para serem doados aos padres capuchinhos da Igreja de São Sebastião, que irão fazer a distribuição para os carentes.
Os simpatizantes da banda também podem participar com doações de um quilo de alimento não-perecível (arroz, feijão, açúcar, macarrão, farinha) e assinando o Livro de Ouro.
Como em todos os anos, a BICA vai mostrar nas ruas a sua irreverência e crítica política.
A marcha-enredo deste ano fala da CPI do Orçamento e sua vedete amazonense: o deputado federal Ézio Ferreira, que está na lista dos 18 parlamentares que devem ter seus mandatos cassados em fevereiro. “Eu não sou Lézio” é o título da marchinha assinada por Toscano e Celito. Os juízes classistas também estão no enredo.
A BICA acontece tradicionalmente no sábado magro de carnaval.
Hoje os organizadores estão programando para o final da tarde (16 horas) um “esquenta tamborim”, no Bar do Armando. Uma espécie de ensaio para o que deve ocorrer no próximo sábado, 5 de fevereiro, na rua 10 de Julho.
Zé Pedro, Eliana, Petronila, Anchieta, Salignac, Mona e seu primeiro filhote, Gustavo, com o advogado Jackson Chaves
No domingo, 30 de janeiro, a colunista Elaine Ramos, do Amazonas em Tempo, e também biqueira, abordou o assunto na sua coluna:
Aplausos a Jomar Fernandes, Jorge Álvaro e Chicão Cruz. Dão folga às leis e fazem o “Carnaval sem Fome” na Banda da BICA. Habitués do Bar do Armando atendem a pedido e, além do Livro de Ouro, levam alimentos destinados a carentes atendidos pelos capuchinhos da Igreja São Sebastião. Essa folia tem alguma coisa a mais. Tem uma dessas estranhas manias do homem ainda ser solidário. Por conta disso, dia 5, os freis nem escutarão o barulho do trio elétrico. Amém.
No sábado, dia 5 de fevereiro, Elaine voltou a dar um toque:
Fome, só de alegria. A Banda da BICA abre às 12h em ponto deste sábado os portos do monumento da Praça São Sebastião para o “Carnaval Sem Fome”. Intelectualidade e veias existencialistas fazem páreo a Momo e como ninguém é Lézio, haja talco, pastas, espumas nas gerais. Vá mas não esqueça de levar um quilo de mantimento não-perecível, os capuchinhos agradecem. Armando, dona Lourdes e Petronila são o aval da boa vontade. Vamos?
Eu não sou Lézio
Autores: Ernesto Penafort e Teixeirinha
Médiuns: Afonso Toscano e Celito
Querem acabar com o juiz classista
Essa mamata já está dando na vista
Não tem bandido só tem artista
Essa boca-rica não há quem resista
E agora José?... Como fica João?...
O povo já não agüenta tanta corrupção
A CPI tem que mostrar a conclusão
Quem dança entra na BICA
Ou sai com a BICA na mão
PC fez aqui escola
E foi hóspede real
Não falou Tailandês
Foi lá que se deu mal
A Lourdes disse
O Armando confirmou
Que nessa terra
Tem muito ladrão doutor
Anão que acusa
Fiúza, Pinheiro,
Genebaldo e João
Eu não sou lézio
Eu sou normal
Tem mais bodó graúdo
Nesse lamaçal
E se faltar alguém
Eu canto noutro carnaval
A grande concentração de biqueiros começou a mudar o carnaval de rua da cidade
Na terça-feira, 8 de fevereiro, o Amazonas em Tempo publicava a seguinte matéria:
A concentração da Banda da BICA, no sábado à tarde, na praça São Sebastião, provou que o carnaval de rua voltou para ficar.
A praça ficou totalmente lotada e no Bar do Armando, reduto da banda, era quase impossível entrar.
Os organizadores apostaram na campanha “Carnaval sem Fome” e, segundo a diretoria da BICA, mas de 300 quilos de alimentos foram arrecadados no sábado.
A campanha não pára por aí. Todo o dinheiro arrecadado com a venda de camisetas será usado na compra de mais alimentos, que serão entregues aos capuchinhos da Igreja São Sebastião, para distribuição à população carente.
Nesta semana, a diretoria se reúne para definir a estratégia de manutenção de campanha, que a banda pretende levar adianta não só durante o carnaval, mas ao longo de todo o ano.
Campanha à parte, o folião queria saber mesmo era de folia. E foi o que não faltou.
Por volta das 16h, a praça estava totalmente tomada e os músicos da banda, a pedido dos foliões, saíram do Bar do Armando e comandaram o carnaval do palanque armado em frente ao bar.
Apesar do grande número de pessoas, o carnaval da BICA transcorreu sem maiores incidentes, ao som de músicas antigas e atuais de carnaval, sambas-enredo e, é claro, a marchinha da banda, “Eu não sou Lézio”.
A festa entrou pela noite e nem mesmo a chuva esfriou o ânimo da multidão, que não arredou o pé da praça, seguindo as evoluções da porta bandeira da banda, que apesar dos 82 anos esbanjava energia. “Todo ano parece que é a primeira vez. É uma festa maravilhosa”, disse Petronila.
Ela lembrou que o carnaval vai acabar, mas as pessoas não devem esquecer dos mais necessitados. A diretoria da banda estuda a idéia de lançar um carnê de contribuição.
O dinheiro arrecadado mensalmente seria depositado em caderneta de poupança e ficaria à disposição para novas campanhas de ajuda aos carentes.
Na sexta-feira, 11 de fevereiro, o jornal A Crítica publicava a seguinte matéria:
A coordenação da Banda Independente Confraria do Armando (BICA) entregou ontem cerca de duas toneladas de alimentos, comprados com o dinheiro arrecadado com a venda de camisetas do carnaval deste ano, ao frei Fulgêncio, pároco da Igreja de São Sebastião, que vai repassar para as pessoas carentes assistidas pelas suas obras de caridade.
A BICA foi às ruas no sábado passado reunindo mais de 5 mil pessoas na praça São Sebastião com o enredo “Carnaval Sem Fome”.
Todo o dinheiro do lucro com a venda de camisetas foi usado na compra de alimentos para a BICA entrar no movimento nacional contra a fome e a miséria, liderado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
O Frei Fulgêncio anunciou ontem que uma parte dos alimentos será doada para moradores do bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste de Manaus e a oura será doada para os moradores das margens dos igarapés do Centro da cidade.
Um dos coordenadores da BICA, o promotor de Justiça Francisco Cruz, disse ontem que no próximo ano a BICA deve repetir a dose. “É importante que esse movimento contra a fome seja feito sempre com alegria”.
O patrono da BICA, comerciante Armando Soares, disse que se sentia muito orgulhoso do seu tradicional bar servir para a alegria e para movimentos para o bem de pessoas pobres.
Manuelzinho, Jorge Álvaro, Dirley, Dudu, Durango Duarte, Lino Chíxaro, Simão Pessoa e Engels
Armando e seu duplo em pose para o fãs
De camisa polo vermelha, Lucio Carril em busca do tempo perdido
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