Ana Lúcia, Armando, Praciano, Dona Lourdes e Ana Cláudia, na Câmara Municipal de Manaus
No dia 15 de dezembro de 1998, o jornalista Mário Adolfo escreveu este texto no jornal Amazonas em Tempo, para saudar o mais novo manauense do Amazonas:
Português de Arganil, distrito de Coimbra, o comerciante Armando Dias Soares viu o seu trabalho coroado ontem, pela manhã, quando foi homenageado pela Câmara Municipal de Manaus, com a comenda Adolpho Valle, tributo de honra aos cidadãos que se destacaram na área cultural.
A iniciativa para homenagear Armando foi do vereador Francisco Praciano, do PT, mas ganhou a unanimidade de todos os partidos.
– Estou feliz por estar homenageando um homem cujo currículo é fácil de defender, mas difícil de conseguir. Estou homenageando o senhor Armando Soares cujo currículo poderia se resumir numa forma simples: trabalho, trabalho, trabalho! –, afirmou Praciano.
Armando Soares chegou à Câmara às 9h45 em companhia de sua mulher, Lourdes Soares e das filhas Ana Cláudia e Ana Lúcia.
Antes de o comerciante chegar, os freqüentadores do bar, jornalistas, juízes e artistas, já haviam colocado à porta da Câmara o boneco mamulengo que desfila à frente da BICA – Banda Independente da Confraria do Armando – , que há 12 anos sai no sábado magro de carnaval.
Além do vereador Praciano, que abriu a sessão, homenagearam Armando o vereador Messias Sampaio e o secretário de Justiça e Cidadania, Félix Valois, e o ex-vereador Serafim Corrêa, citado pela Mesa como um “vereador luso”.
Representando a classe de boêmios, intelectuais, artistas e jornalistas que freqüentam o bar, falou o jornalista e professor da Universidade do Amazonas Deocleciano Souza. O jornalista foi buscar inspiração no poeta português Fernando Pessoa para homenagear o filho de Arganil.
– Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso. Viver não é preciso.” Assim é Armando um verdadeiro argonauta, a comandar veladores em tormentas agitadas em vendavais de cervejas.
O presidente da Câmara, Bosco Saraiva, destacou que em 27 anos, Armando transformou o bar da Praça São Sebastião no maior espaço democrático para debater políticos. “Ali é permitido debater tudo, trocar qualquer tipo de idéias, seja de arte, cultura, política ou de jornalismo”.
O presidente da Câmara lembrou que as duas filhas de Armando, Ana Cláudia e Ana Lúcia, estavam se formando em Pedagogia e Letras, a “maior prova de que seus laços estavam fincados em Manaus”.
As galerias e o plenário ficaram lotados na homenagem ao português. Nas cadeiras da frente, podiam ser vistos, além da família de Armando, vários freqüentadores do bar.
A Mesa Diretora foi formada pelo ex-vereador Serafim Corrêa, os juízes Jomar Fernandes e Anselmo Chíxaro, o secretário de Justiça e Cidadania, Félix Valois, o subsecretário Francisco Cruz e o jornalista Mário Adolfo.
O secretário Félix Valois, que não estava no cerimonial, foi “intimado” a falar pelo presidente da Casa, Bosco Saraiva. “Ninguém poderia se privar de ouvir, nesta manhã, a palavra inteligente de Félix Valois”, convidou Saraiva.
Valois citou o poeta Luiz Vaz de Camões para homenagear o amigo. “O mar salgado muito do pranto deramado: Portugal. Aqui em Manaus, muito desse sal, do próprio Portugal, foi derramado pelos amazonenses”.
– No fundo o que marca, nos corações dos freqüentadores do Bar do Armando é a sua presença fraternal. Todos nós somos filhos e irmãos do Armando! –, disse Valois.
O vereador Messias Sampaio lembrou que a sua turma de Filosofia, integrada por nomes como o falecido professor Rosendo Lima, além de Amecy Souza e José Alfaia, foi uma das primeiras a freqüentar o Bar do Armando, quando ele ainda era na rua Monsenhor Coutinho.
Serafim Corrêa, descendente de portugueses, disse que a homenagem comovia muito seu coração. “Eu conversava com o jornalista Arlindo Porto sobre o problema de que Manaus aos poucos ia perdendo suas tradições. Esta homenagem da Câmara resgata um pouco dessas tradições”.
O jornalista Deocleciano Souza citou que nas duas mesas de madeiras, revestidas de alumínio, que ainda existem até hoje no Bar do Armando, passaram grandes nomes da arte, da literatura, da música, da poesia, do jornalismo, do direito e da política.
– Nos anos de chumbo da ditadura, a Mercearia Nossa Senhora de Nazaré (o nome comercial do bar), localizada no mais belo sítio histórico de Manaus, funcionava mesmo como mercearia, e era o único espaço que tínhamos para discutir as mazelas que os militares faziam com o povo brasileiro. Era o espaço que nós tínhamos no ambiente acadêmico! –, disse Deco.
No fim da homenagem, a Câmara suspendeu os trabalhos e todos os políticos, freqüentadores do bar e jornalistas, foram direto para o Bar do Armando, em meio à cerveja gelada, sanduba de pernil e “bola” de sardinha feita por dona Lourdes, transformaram a segunda-feira num feriado municipal: O Dia do Português.
Em seu discurso, Armando disse que saiu ainda jovem de sua terra, no distante Arganil, Distrito de Coimbra, para se dedicar intensamente ao trabalho. “Troquei Portugal pelo Brasil e, especialmente por Manaus”.
E foi em Manaus que ele fez amigos, construiu família, teve duas filhas e continuou trabalhando, contribuindo para manter viva as mais caras tradições culturais de Manaus.
– O título que hoje recebo, votado pelos membros desta Casa, representa para mim um orgulho de ter sido reconhecido pelos representantes do povo. Reconhecido como filho desta terra, pelo esforço que faço para entender a criatividade de cada cidadão desta cidade.
Para Armando, a melhor maneira para conhecer as pessoas é justamente deixá-las livres. “E é assim que agem os freqüentadores de meu estabelecimento comercial, com total liberdade”.
– Tanta liberdade que hoje me encontro aqui nesta Casa do Povo, bastante nervoso, para agradecer de todo o coração esta homenagem que toca fundo em meu coração e no de minha família! –, disse emocionado.
Serafim Corrêa, Mário Adolfo, Armando e Praciano
Dona Lourdes, emocionadíssima, e Armando pensando em quem havia ficado com a chave do bar
Ana Lúcia, Armando, Dona Lourdes e Ana Cláudia posando para a posteridade
Leonel Feitoza, Bosco Saraiva, Simão Pessoa, Carlos Dias, Jomar Fernandes, Praciano, Mário Adolfo, Rogelio Casado e Carlos Castro na bodega do Armando
Em pé: Dinari, Estelinha, Carlos Castro, Kledson, Marco Gomes, Rogelio Casado, Osmir Medeiros, Armando, Porrada, José Anchieta, Anselmo Chíxaro, Dudu, Pedro Paulo, Lucio Carril e Jackson. Sentados: Lucia Antony, Simão Pessoa, Deocleciano Souza, Jomar Fernandes, Mário Adolfo, Mestre Louro, José Klein e Davi Almeida
Bosco Saraiva, presidente da CMM, Armando Soares e Serafim Corrêa
Ana Lúcia, Armando, Vanessa Grazziotin, Dona Lourdes, Ana Cláudia e Lucia Antony
Os biqueiros vigários cantando o Hino Nacional
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