terça-feira, 19 de abril de 2011

Folclore dos Meninos do Morro (1)


Chico Perneta, Pierre e Evandro Torres

Na metade dos anos 70, alguns pagodeiros do Morro da Liberdade – Bosco Saraiva, Jairo Beira-mar, Gilsinho Poeta, Nicéas Magalhães, Chocolate, Luizinho Sá, Chico Perneta e Ivan Oliveira, entre outros – se reuniam diariamente no meio da rua Dr. Martins Santana e faziam uma roda de samba bem informal.

O ritmo frenético dos surdos, tamborins e atabaques, entretanto, incomodava algumas pessoas.

Responsável pela dança regional “Milho Verde”, também na mesma rua, dona Sílvia era a mais incomodada de todas.

Segundo ela, a percussão sincopada do pagode atrapalhava o ensaio da dança regional, que tinha uma levada meio nordestina à base de sanfona, zabumba e pandeiro.

Certo dia, mais braba do que de costume, dona Sílvia ligou para a Polícia de Choque denunciando os baderneiros.

Com o país sob a égide da ditadura militar, a Polícia de Choque era famosa por não ouvir desculpas: os meganhas desciam do caminhão já distribuindo porrada em quem estivesse por perto, até não restar ninguém de pé. Depois de contar os mortos, iam embora.

Nesse dia, sabe-se lá por que, a moçada do pagode resolveu encerrar a roda de samba mais cedo do que de costume e foi se embriagar no Bar do Beto, ali perto.

Quando o caminhão da Polícia de Choque chegou ao local e ouviu a sanfona comendo no centro, os meganhas não tiveram dúvidas: encheram de porrada os brincantes da dança regional “Milho Verde”.

A carnificina foi tão violenta que dona Sílvia desmaiou.

Um dos coordenadores da dança era um sujeito bem baixinho chamado Brau, que apesar do defeito físico (uma imensa corcunda de camelo) era uma das pessoas mais animadas do pedaço.

Quando começou a pancadaria, Brau saiu correndo por uma viela, mas foi avistado por um meganha.

Tentando se safar, Brau se escondeu atrás de um poste, meio de lado, na pontinha dos pés.

O meganha sacou a arma e deu o ultimato:

– Sai de trás desse poste, porra, senão vou dar um tiro no meio da tua bunda!

Brau obedeceu.

Quando viu que a “bunda”, na realidade, era a “corcova” do rapaz, o meganha ficou todo errado.

Acabou mandando Brau ir pra casa e “não se meter mais com aquele bando de arruaceiros”.

Dona Sílvia nunca mais quis saber de chamar a polícia pra acabar com a roda de pagode da moçada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário