segunda-feira, 4 de abril de 2011

GRES Reino Unido da Liberdade - Carnaval 2001


Enredo: Um Orleans nas ruínas de Tabatinga (A volta que o Conde D'Eu)

No dia 13 de maio de 1888, uma senhora de 41 anos assinava um dos documentos mais importantes da História do Brasil - a Lei Áurea, que dava liberdade a todos os escravos.

Por detrás de sua assinatura havia o clamor de diversas pessoas, que lutaram junto com ela para que tal lei fosse implantada.

Através deste ato, seu nome ficaria definitivamente na História.

Mas quem era essa mulher que governou o Brasil por três vezes numa época em que os homens dominavam a política?


Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon nasceu no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 29 de julho de 1846.

Filha do imperador Pedro II e de Teresa Cristina, foi a terceira imperatriz do Brasil e se tornou herdeira do trono após o precoce falecimento de seus irmãos Afonso e Pedro.


Na condição de princesa imperial, título que cabia aos herdeiros do trono de acordo com a constituição do Império, a princesa Isabel cresceu em um lar muito saudável, onde imperava o respeito mútuo entre os pais.

Junto com sua irmã Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga, a jovem princesa recebeu educação condizente com sua condição de herdeira do império.

Como únicas herdeiras de D. Pedro II, as princesas precisavam se casar para assegurar logo a descendência imperial.

Para isso, D. Pedro pediu ajuda a parentes que viviam na Europa: suas irmãs Januária e Francisca, o cunhado D. Fernando, viúvo de sua irmã Maria II, rainha de Portugal, e a madrasta D. Amélia.

Primeiramente pensou-se no jovem Duque de Penthièvre, filho de D. Francisca.

Mas a escolha caiu sobre dois sobrinhos dela, Luís Augusto de Saxe-Coburgo Gotha, o Duque de Saxe, e Gastão de Orléans, o Conde d’Eu, ambos netos de Luís Filipe, rei da França.

A intenção do imperador era casar Isabel com Augusto e Leopoldina com Gastão. No entanto, contrariando um costume da época, as princesas puderam escolher seus noivos.

“A 2 de dezembro de 1864 chegaram ao Rio o Conde d’Eu e o Duque de Saxe. Meu pai pensava no Conde d’Eu para minha irmã e no Duque de Saxe para mim. Deus e os nossos corações decidiram diferente”, escrevia Isabel, no seu diário.

Em carta à irmã Margarida, o Conde d’Eu dava conta de suas preferências: “Isabel é mais simpática, mais alta. Mas as duas são ladies.”


Luís Filipe Maria Fernando Gastão de Orléans, o Conde d’Eu, nasceu no castelo de Neuilly, França, em 28 de abril de 1842.

Era filho de Luís de Orléans, Duque de Nemours, e da princesa Vitória de Saxe-Coburgo Gotha.

Com a vitória da segunda república, em 1848, foi exilado junto com a família real francesa e passou a viver no palácio de Claremont, perto de Londres.

Nomeado alferes de cavalaria pela rainha da Espanha, Isabel II, participou da campanha do Marrocos.

De volta, com atos de bravura registrados em sua fé de ofício, entrou para a Escola Militar de Segóvia, de onde saiu em 1863 com as patentes de capitão de cavalaria e tenente de artilharia.

Retornou então ao Reino Unido e no ano seguinte zarpou para o Brasil, para conhecer as duas princesas.

Naquele ano, o Brasil estava em guerra contra o Paraguai. Ao se casar com Isabel, o Conde d'Eu se tornou marechal do Exército.

O jovem estava ansioso para entrar em combate, porém, teve que coordenar as operações do Rio de Janeiro porque o Exército brasileiro não admitia o comando de um estrangeiro.

A doença do Duque de Caxias, em 1869, permitiu a Dom Pedro II colocar o genro à frente das tropas no campo de batalha, numa operação de guerra e campanha de propaganda para fortalecer o Império Brasileiro.


O Conde comandou os soldados nas vitórias decisivas de Peribebuí e Campo Grande, nas quais morreram mais de cinco mil paraguaios.

Em agosto de 1869, a Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) instalou em Assunção o governo provisório e fantoche do paraguaio Cirillo Antônio Rivarola.

Dois destacamentos foram enviados em perseguição ao presidente paraguaio Solano López, que fugira para o Norte do país, com 200 homens.

Em primeiro de março de 1870, as tropas do general José Antônio Correia da Câmara atacaram o último acampamento paraguaio em Cerro Corá, onde Solano López foi morto.


O Conde d'Eu voltou ao Rio de Janeiro com as honras de herói nacional e uma fama de comandante sanguinário.

Mas a frágil Monarquia brasileira não tinha futuro. Apesar de a família imperial simpatizar com políticos liberais, a entrada do regime republicano foi apenas questão de tempo.

O Conde d'Eu, em especial, não era visto com simpatia pelos brasileiros: acusaram-no de avarento, de aproveitador e de alheio aos interesses da nação.

Devido a uma surdez e ao forte sotaque, ele era mantido isolado e jamais chegou a ser admitido na sociedade brasileira, para a qual sempre foi, até o fim, “o intrujão francês”.


Compartilhava com a família imperial da mesma idéia a respeito da escravidão: “É difícil sonhar com país mais belo. Só há um aspecto negro, e bem negro, que é a natureza criminosa do trabalho que serve de base a toda essa opulência. Reformar esse ponto sem transformar em deserto os campos onde brilham os cafeeiros, eis o problema sobre o qual teria muito a dizer”

Para completar, o Conde d’Eu também era uma figura muito mal vista pelos políticos brasileiros, pois acreditavam que ele seria o verdadeiro poder por trás da esposa, caso a princesa Isabel se tornasse rainha.


Quando a princesa assinou a lei Áurea, as coisas começaram a se precipitar.

Os fazendeiros escravocratas, sustentáculos da política imperial, abandonaram o imperador após a abolição da escravidão e se juntaram aos republicanos.

O Clube Republicano do Amazonas foi criado em 29 de junho de 1889 e instalado logo em seguida, no dia 3 de julho, data coincidente com a chegada do Conde d’Eu a Manaus, em trânsito para Tabatinga.

Os momentos finais do império brasileiro aconteceram em um baile na Ilha Fiscal, na baía da Guanabara, em 9 de novembro de 1889.

A festa com três mil convidados, em que champanhe e vinho francês jorraram, era para comemorar oficiosamente as bodas de prata da princesa e do Conde.

A República foi proclamada seis dias depois. Junto com sua família, Isabel seguiu para o exílio.


“É com o coração partido de dor que me afasto de meus amigos, de todos os brasileiros e do país que tanto amei e amo, para cuja felicidade esforcei-me por contribuir e pela qual continuarei a fazer os mais ardentes votos. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889. Isabel, Condessa d’Eu”.

Ela morreria em 14 de novembro de 1921, no Castelo d’Eu, na França. “Com saudades de Petrópolis, de minha casa, do meu jardim e de minhas amigas...”. Mas seria sempre lembrada como Isabel, a redentora dos escravos.

Ainda no navio que a levava para o exílio, teria dito a Rebouças: “Senhor Rebouças, se houvesse ainda escravos no Brasil, nós voltaríamos para libertá-los”.

Já viúvo, o Conde retornou ao Brasil em 1921, para enterrar os restos do imperador e da imperatriz Tereza Cristina em um mausoléu em Petrópolis, Rio de Janeiro.

Ele morreu no ano seguinte, quando voltava ao Brasil para a celebração do primeiro centenário da Independência.

O carnavalesco Chico Cardoso desenvolveu o enredo da escola em cima da viagem feita pelo “intrujão francês” a Tabatinga, ressaltando o impacto que a flora, a fauna e as lendas amazônicas devem ter causado no ilustre militar europeu.



Samba-enredo: A volta que o Conde d’Eu

Compositores: Carlão, Aldenor Maciel, Hélio da Luz, Leonardo, Chico Bossa, William Pimentel, Cabeça e Kello

Meu reino navegando em nostalgia
Traz pra folia, uma viagem imperial
Sonho sonhado da nobreza confiante
Amazonas deslumbrante,
E o nobre Conde a navegar
Fez de Manaus o seu porto de partida
Em ilustre comitiva rio acima a desvendar
A fauna, a flora, rios, riachos e cascatas,
Lá no céu lua de prata, a luzir no rio-mar
E vem das matas o cantar do uirapuru (Ô, ô, ô, ô)
Melodia que fascina, no compasso da emoção,
E o pôr do sol, matizada aquarela,
Chega a noite e é tão bela,
E fez pulsar seu coração
Eu quero é cantar, zuar, sambar,
Fazer feliz minha cidade
O Morro desce em alegria
Com canto forte de Liberdade
Ouviu contar da Iara dos rios
Do boto brejeiro namorador
E da floresta Curupira, o guardião,
E o nobre guerreiro por Jacy se apaixonou,
Amanheceu, triste toque de clarim,
Imponente fortaleza, abandonada foi ao chão,
Virou ruínas, emudeceram seus canhões
E o olhar de sua alteza era só desilusão
O mesmo olhar que brilhou extasiado
Que ao partir levou saudades
Deste abençoado chão
Sacode bateria, faz meu povo delirar,
O meu Reino é só folia
Vem pro Morro pra sambar

O desfile da Reino Unido foi marcado por uma série de confusões e imprevistos.

Na concentração, surgiu o boato de que a escola não desfilaria oficialmente no Sambódromo.

Ela faria apenas um desfile burocrático de protesto porque, segundo uma fonte da diretoria, havia fortes indícios de que o título, mais uma vez, já estava previamente acordado para ser dado ao GRES Mocidade Independente de Aparecida.

O presidente de honra da escola, Bosco Saraiva, não confirmou nem desmentiu o boato, mas garantiu que a escola iria desfilar com muita garra e alegria, sem se importar com o que poderia acontecer.

“Vamos mostrar o nosso samba com muita garra e disposição e fazer jus à fama justificada de que somos o berço do samba”, afirmou ele.

O que se viu no Sambódromo foi um desfile descontraído e animado, que encantou a multidão presente no evento.

Dividido em 18 alas, com 4 mil brincantes, a histórica viagem do Conde d’Eu pelos rincões amazônicos foi retratada pelo carnavalesco Chico Cardoso nas cores verde e branco, balanceados com prata e ouro.

A Comissão de Frente, que representava a “Amazônia, o sonho da liberdade”, foi delirantemente aplaudida pela sua performance inusitada.

O carro abre-alas “Amazônia, uma viagem real e fantástica”, também causou muito impacto.

A animação dos foliões podia ser melhor observada nas deslumbrantes alas “Rio Solimões” e “Garças”, com seus passos coreografados.

A bateria da escola estava fantasiada de “Uirapuru, o pássaro de Deus” e era seguida pela coloridíssimas alas “Mistérios da Floresta”, “Um novo Universo” e “Flora e fauna”.

A Ala Show representava a lenda do boto namorador e as baianas estavam fantasiadas de Orquídeas.

O último carro alegórico da escola teve problemas com a barra de direção, que quebrou, e não entrou na avenida, deixando frustrados mais de dez destaques, incluindo os conhecidos personagens televisivos Raimundo (o ator Kid Mahal) e Maria (a atriz Rosa Malagueta), que fariam uma sátira do Conde d’Eu e da Princesa Isabel.

Auxiliados pelos diretores de Harmonia da escola, os destaques aproveitaram para desfilar no chão na Ala dos Convidados.

O casal de humoristas não perdeu o rebolado.

“Não importa se o carro quebrou, nós vamos mostrar assim mesmo o nosso carnaval debochado”, disse Maria.

Enquanto parte da escola estava chegando na área de dispersão, quem estava na arquibancada se dizia orgulhoso do desfile da Reino Unido, apesar de admitir que esperava um carnaval muito mais empolgante.

Foi o caso de Amélia Costa, moradora do bairro e torcedora fervorosa da Reino Unido.

“É a minha escola de coração, mas acredito que ela deveria ter sido melhor representada. O samba estava bom, mas não gostei das fantasias, estavam muito fracas!” -, avisou.

Os jurados oficiais devem ter achado a mesma coisa.

No Estandarte de Ouro, da Rede Calderaro de Comunicação, Reino Unido, Grande Família e Vitória Régia terminaram empatadas em 1º lugar.

No julgamento oficial da Ageesma, Aparecida, Balaku Blaku, Grande Família e Vitória Régia também acabaram empatadas em 1º lugar, já que todas obtiveram a pontuação máxima.

Como o regulamento não previa critérios de desempate para uma situação dessas, as quatro escolas foram declaradas campeãs.

A Reino Unido ficou em 2º lugar.

O Conde d’Eu havia dado uma volta nos meninos do Morro.


Em setembro daquele ano, durante a comemoração dos 20 anos da agremiação, os sambistas do Morro da Liberdade receberam de braços abertos o renomado cantor e compositor Paulo César Pinheiro.

Ele se apresentou no Botekão do Reino e na casa noturna Porão da Bossa, do empresário César Seixas.

Sua simplicidade, humildade e constante alegria contagiaram os meninos do Morro, que fizeram questão de levar antigos CDs para que o músico autografasse.

No Botekão do Reino, ele foi acompanhado pelos pagodeiros da Bateria Furiosa.

No Porão da Bossa, os músicos Kokó, Mestre Pajé, Casqueta e Caio do Cavaco fizeram a cama sonora, que ainda contou com a participação especial da cantora Simone Ávila.

O músico deixou a cidade em estado de graça depois de conferir a quantidade de pessoas que sabiam cantar suas letras de cor e salteado.

Dono de um currículo cascudo, Paulo César Pinheiro nasceu no Rio de Janeiro em 28 de abril de 1949.


Ele morava em Angra dos Reis quando fez seus primeiros versos, e foi nessa cidade que conheceu João de Aquino, seu parceiro nas primeiras musicas. Com ele, compôs Viagem, em 1964.

Um ano depois, Baden Powell, primo de João de Aquino, convidou-o para escrever letras para suas músicas.

Em 1968, compôs com Baden Powell o samba Lapinha, que venceu a I Bienal do Samba, da TV Record, de São Paulo SP, no mesmo ano, e foi gravado por Elis Regina em disco da gravadora Phonogram.

Ainda em 1968, Paulo César Pinheiro fez, com Francis Hime, A grande ausente, defendida por Taiguara no III FMPB, da TV Record, e classificada em sexto lugar, e participou do III FIC, da TV Globo, do Rio de Janeiro, com duas músicas – Sagarana (com João de Aquino), apresentada por Maria Odete, e Anunciação (com Francis Hime), interpretada pelo MPB-4.


Concorreu ao IV FIC, em 1969, com Sermão (com Baden Powell) e, no ano seguinte, fez uma temporada de 15 dias em Paris, França, ao lado de Baden Powell.

Em 1970 destacou-se com vários sucessos: Elis Regina gravou três musicas suas e de Baden Powell – Samba do perdão, Quaquaraquaquá e Aviso aos navegantes; e Elizeth Cardoso gravou Refém da solidão (com Baden Powell).

Ainda em 1970, compôs 12 músicas para a trilha sonora da novela O semideus, da TV Globo, fez a trilha sonora para o filme A vingança dos doze, de Marcos Farias, e foi o responsável por roteiros de shows de Baden Powell.

Em 1971, a música E lá se vão meus anéis (com Eduardo Gudin), defendida por Os Originais do Samba, venceu o IV Festival Universitário da Música Popular, da TV Tupi, do Rio de Janeiro.


Em 1972, participou do VII FIC, com Diálogo (com Baden Powell), música que ganhou festival na Espanha.

Em 1973, compôs musicas com Dori Caymmi para diversos filmes, entre eles Tati, a garota, de Bruno Barreto.

Compôs a musica da peça A teoria na prática é outra, de Antônio Pedro, apresentada no Teatro Princesa Isabel, no Rio de Janeiro, em 1973.


Em 1974, o grupo MPB-4 gravou Agora é Portela 74 (com Maurício Tapajós).

Ele fez ainda, nesse ano, a versão do musical Pippin, montado no Teatro Manchete, no Rio de Janeiro, e gravou seu primeiro LP, pela Odeon, apresentando-se como cantor.

Em 1975, Paulo César Pinheiro se casou com a cantora mineira Clara Nunes, que ao lado de Elizeth Cardoso e Elis Regina foi uma das mais importantes intérpretes de suas composições.

Em 1975 e 1976, ele participou, com Márcia e Eduardo Gudin, do show O importante é que nossa emoção sobreviva, levado no Teatro Oficina, que resultou num LP gravado ao vivo.


Em 1977, compôs músicas para a trilha sonora do filme A Batalha dos Guararapes, de Paulo Thiago.

Com Dori Caymmi, compôs Pedrinho e Jabuticaba, para a trilha do programa Sítio do Pica-pau Amarelo, da TV Globo.

Fez a trilha sonora do programa Ra-tim-bum, da TV Cultura, compondo cinco músicas em parceria com Edu Lobo.


Tem dois livros de poemas editados: Canto brasileiro (1976) e Viola morena (1982).

Alguns dos últimos CDs que foram lançados com letras do compositor são: Parceria, 1994, Velas, gravado ao vivo do show com João Nogueira, com 12 das parcerias dos dois; Aboio, 1995, Saci, CD do violonista e compositor Sérgio Santos, com 13 toadas, choros e sambas em parceria com este; Tudo o que mais nos uniu, 1996, Velas, CD gravado ao vivo do show com Eduardo Gudin e Márcia, no Sesc Pompéia de São Paulo, em comemoração aos 20 anos do outro show da trinca; O som sagrado de Wilson das Neves, 1997, CID, estréia como intérprete do baterista Wilson, com 14 músicas inéditas, das quais 13 são parcerias de ambos.

Escreveu mais de 1.300 letras, tendo mais de 700 sido gravadas ate 1997.








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