terça-feira, 19 de abril de 2011

Folclore dos Meninos do Morro (17)


Agosto de 1994. A convite da escola de samba Reino Unido, a cantora Jovelina Pérola Negra veio fazer um show, em Manaus, num boteco lá pras bandas do Vieiralves.

Ela aproveitou a manhã livre para fazer compras na Zona Franca: sapatos vermelhos de verniz e salto agulha, da marca italiana Arezzo, vendidos exclusivamente na sapataria Clark’s a preço de banana.

Jovelina comprou doze pares, cada um mais bonito do que o outro.

Uma hora antes de começar o show, ela começou a reclamar que o novo sapato estava lhe machucando. Ninguém deu bola.

Quando, meia hora depois, ela resolveu se livrar da tranqueira, seus pés estavam cheios de bolhas d’água e calos de sangue.

Foi um corre-corre danado em busca de uma sandália.

Todas, invariavelmente, ficavam na metade do pé da cantora.

Jovelina deu logo a decisão: ela não era João do Valle, para cantar descalça.

Ou arranjassem uma sandália ou cancelassem o show.

Novo corre-corre, dessa vez comandado pessoalmente por Bosco Saraiva, presidente de honra da escola de samba.

Cinco minutos antes de as luzes se acenderem, Jovelina experimentou uma sandália, que caiu como uma luva, e concordou em fazer o show usando a mesma, apesar de ter achado a cor “meio morta”.

O “mimo” era uma franciscana de couro bastante surrada, número 44, pertencente ao compositor Galúcio.

Que, infelizmente, assistiu ao show inteiro descalço, tentando não pisar nas baganas de cigarros que a ala de compositores do GRES Reino Unido teimava em jogar embaixo de sua mesa de pura sacanagem.

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