terça-feira, 19 de abril de 2011

Folclore dos Meninos do Morro (13)


Tetê, a viúva do saudoso Luzinho Sá

Ex-presidente da Reino Unido, o sambista Luizinho Sá havia sido eleito diretor de Relações Publicas da Associação do Grupo Especial de Escolas de Samba (Ageesma) quando recebeu uma incumbência inusitada: ficar como cicerone de Priscila Pantera, uma mulata de quatrocentos talheres que havia sido eleita 1.ª Princesa do Carnaval.

Cabia a ele levar a mocinha para os programas de rádio e televisão, entrevistas em jornais, aparições públicas em bandas carnavalescas, camarotes de bailes de carnaval e por aí afora.

Além de bonita, a mulata tinha um corpo estilo violão (os avantajados músculos glúteos eram um convite obsceno a luxúrias inconfessáveis) e – pecados dos pecados! – sua voz era rouquenha, dengosa, meio infantil, como se a mocinha estivesse sempre à beira de um orgasmo espetacular.

A princesinha de dezoito anos ficou logo amiga do sambista e o relacionamento deles era como se tivessem sidos amigos desde o jardim de infância.

Luizinho era uma espécie de personal trainer da princesa para assuntos de moda, maquiagem e outras bobagens do gênero.

Determinado dia, Luizinho foi apanhar a menina em casa para mais uma de suas (dela) badalações usuais e resolveu levar junto a esposa, Tetê, com outras duas amigas.

Mal a princesinha entrou no carro, toda emperiquitada, já começou a retocar o batom nos lábios carnudos, se olhando num pequeno espelho.

Enquanto guardava as tranqueiras na bolsa, caprichou na voz dengosa e sensual e disparou:

– Lulu, você acha que aquele biquíni douradinho está muito indecente? Se você quiser, eu troco por aquele prateado com apliquinhos de strass...

Luizinho fingiu que não ouviu. Tetê se mexeu esquisita na cadeira ao lado.

Cinco minutos depois, a princesa caprichou mais uma vez na voz dengosa e sensual e disparou:

– Lulu, aquela sandalinha prateada machucou o meu pezinho. Ele está cheio de calinho, depois te mostro. Dói que só, Lulu, dói que só...

Luizinho fingiu que não ouviu. Tetê deu uma tossida esquisita e começou a se abanar com um leque, apesar do ar-condicionado do carro estar ligado.

Cinco minutos depois, a princesinha caprichou mais uma vez na voz dengosa e sensual, e aí, quase gemendo, disparou:

– Lulu, será que dava pra gente aumentar um pouco a abertura daquela tiara? Sabe, Lulu, ela está muito apertada e minha cabecinha está doendo, doendo...

Luizinho fingiu que não ouviu. Tetê começou a procurar no porta-luvas do carro pelo vidro de Lexotan.

Cinco minutos depois, a princesinha caprichou mais uma vez na voz dengosa e sensual, e aí, como se estivesse arfando perigosamente à beira de um orgasmo múltiplo, gemeu num arrulho rouco:

– Lulu...

Ela nem conseguiu completar a frase.

Virando-se para o banco de trás, Tetê se ajoelhou sobre o assento dianteiro e liberou todo o ódio acumulado:

– Lulu é minha buceta, caralho! Vai foder pica, sua puta sirigaita! O nome do meu marido é Luizinho, vagabunda! Lulu é a puta que te pariu!

Antes que Tetê tirasse o sapato de salto agulha e fizesse um estrago na cabeça da princesinha, Luizinho estacionou o carro, tirou a mulata sestrosa de dentro, parou um táxi e despachou a menina para um lugar incerto e não sabido.

Ficou três meses sem colocar os pés na Ageesma.

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