terça-feira, 19 de abril de 2011

Folclore dos Meninos do Morro (2)


Professor Almeida, Ivan de Oliveira e o radialista Costinha

Outro sujeito que vivia incomodado com a roda de pagode dos meninos do Morro da Liberdade era o empresário Franciner, pai do Clemilton, que muitos anos depois seria diretor de bateria da Mocidade Independente de Aparecida.

Dono de uma conhecida padaria na rua Dr. Martins Santana, “seo” Franciner cismou que a barulheira dos pagodeiros estava afastando os clientes do seu ponto comercial.

Certo dia, mais puto do que de costume, ele ligou para a Polícia Militar e denunciou que a baderna dos meninos já estava passando dos limites.

Nesse dia, por incrível que pareça, começou a cair uma chuva torrencial e os pagodeiros, para não deixar o samba morrer, compraram uma caixa de Caninha 51.

A “mardita” era servida em um único copo, daqueles reaproveitados de embalagem de azeitonas, e o sujeito tirava gosto com careta.

Era aquilo ou morrer de frio.

O pagode estava ficando mais quente do que nunca.

De repente, chega um “fusquinha” da Rádio Patrulha.

O soldado-motorista baixou um pouco o vidro, para não se molhar, e começou a chamar um dos pagodeiros.

Eles não deram nem confiança.

Um segundo soldado começou a fazer coro com o primeiro.

Os pagodeiros, nem aí.

Maior autoridade dentro do carro, o cabo arrumou a arma no coldre, saiu do veículo, enfrentou o vendaval e foi lá, conversar com os baderneiros.

Ele nem chegou a abrir a boca:

– Êi, pessoal, esse aqui é o cabo Macaxeira, o rei da caixinha de guerra. Traz logo uma aqui pra ele mostrar seu talento! Aproveita e capricha também numa dose de pinga, que ele é um dos nossos! –, avisou Jairo Beira-mar.

Apanhado no contrapé, o cabo sorveu a pinga de uma só lapada, pegou a caixinha de guerra e começou a estraçalhar.

Cinco doses de pinga depois, já meio grogue, Macaxeira foi lá no carro da Rádio Patrulha e deu a ordem:

– Avisa pro comando que já resolvemos a situação! Depois, desliguem o rádio e vamos cair na farra que todo mundo aqui é sangue-bom!

Os dois outros soldados nem titubearam.

Em dois minutos completamente encharcados, os três militares estavam participando da mais animada roda de pagode daquele sábado chuvoso.

“Seo” Franciner nunca mais confiou na polícia.

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