terça-feira, 19 de abril de 2011

Folclore dos Meninos do Morro (9)


Em 1997, Beth Carvalho tornou-se uma cantora interplanetária, quando a música “Coisinha do Pai”, grande sucesso de seu repertório, foi programa pela engenheira brasileira da Nasa, Jacqueline Lyra, para ativar um robô em Marte.

Mas dez anos antes de se tornar uma cantora interplanetária, a sambista foi contratada por Almerinho Botelho para abrilhantar um réveillon do Olímpico Clube, tendo no pré-show a “Bateria Furiosa” da Reino Unido.

A cantora exigiu 50% do cachê pago adiantado e 50% após o show. O presidente do Clube dos Cinco Aros concordou.

O réveillon cairia num sábado.

Beth Carvalho chegou à cidade por volta do meio-dia e ficou hospedada no Tropical Hotel, cujo réveillon seria abrilhantado pela cantora Eliana Pitman.

Por volta das 4 horas da tarde, ela ligou para o Almerinho.

Seus músicos haviam ficado encantados com os amplificadores Fender existentes na Importadora Mundial.

Será que o presidente do Olímpico não poderia antecipar o restante do cachê, para que os músicos comprassem aquelas maravilhas tecnológicas?

Almerinho concordou e pagou o restante.

Resolvido o problema, Beth Carvalho aboletou-se numa mesa do parque aquático do hotel e pôs-se a detonar lagostas de todos os tamanhos e garrafas e mais garrafas de uísque, em companhia do marido e empresário.

Onze horas da noite, Eliana Pitman subiu no palco do Tropical Hotel e começou seu show.

Beth continuava biritando.

No Olímpico, Almerinho Botelho e Tito Magnani começaram a ficar preocupados.

Meia-noite, queima de fogos de artifício em toda a cidade anunciando o Ano-Novo e nem sombra de Beth Carvalho.

A bateria da escola de samba Reino Unido, reforçada por Caio do Cavaco e Edu do Banjo, garantia a animação do carnaval.

A cada dez minutos, o radialista Paulo José subia no palco, pegava o microfone e anunciava:

– Dentro de mais alguns minutos, a grande Madrinha do Pagode Beeeth Carvaaaalhoooooo!

Por volta de uma hora da manhã, chega um micro-ônibus trazendo os músicos da banda da cantora.

Eles nem bem começaram a fazer a passagem de som, quando uma chuva fina começa a cair.

O empresário-marido da sambista, completamente zuruó de tanta birita, começa a sugerir que o show seja adiado:

– Olha, o palco está muito perto da piscina. Se essa chuva piorar, pode provocar um curto-circuito no microfone e eletrocutar a cantora. Acho melhor suspender o show...

– Nem pelo caralho! –, devolveu Almerinho. “Nós temos um contrato, essa multidão veio assistir aquela vigária, ela já recebeu o cachê adiantado e vai ter de vir cantar aqui, nem que seja com força policial!...”.

Três horas da manhã, nada.

Os instrumentistas da Reino Unidos já estavam com as mãos sangrando de tanto batucar.

Caio do Cavaco estava afônico de tanto se esgoelar como segunda voz de Tati do Reino e Mestre Arnoldo.

Edu do Banjo já tinha quebrado (e trocado) três cordas do instrumento.

Estavam putos com razão: haviam sidos contratados para fazer um pré-show de meia hora e já estavam no palco por mais de três horas.

Quatro horas da manhã, com a maioria dos foliões deixando as dependências do clube, Almerinho Botelho e Tito Magnani resolveram partir pro tudo ou nada.

Cada um colocou um três-oitão na cintura, entraram no carro e se mandaram para o Tropical Hotel.

Na portaria foram informados de que a cantora, morta de porre e vomitando abundantemente, havia sido embarcada às pressas para São Paulo por volta de meia-noite.

Além de biriteira, a maravilhosa “Madrinha do Pagode” também era uma tremenda “xexeira”.

Almerinho Botelho enfiou um processo nos cornos da cantora, que está rolando até hoje.

E Beth Carvalho nunca mais teve coragem de colocar os pés em Manaus.

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