Enredo: O Centenário dos Aprendizes Artífices no Reino do Saber, do Samba e da Alegria
Na sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009, o portal do MEC publicava uma matéria intitulada “Educação profissional vai ao carnaval”:
Educação profissional virou samba-enredo. A proximidade de um instituto federal com a comunidade de um bairro de Manaus motivou a novidade.
No, sábado, 21, a história do que é hoje o Instituto Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica do Amazonas foi parar na avenida.
Do Morro da Liberdade, bairro de Manaus, para o Instituto Federal do Amazonas são três quilômetros.
A interação da comunidade com o instituto é tanta que o centenário da instituição virou tema de samba-enredo da escola de samba do Morro da Liberdade, a Reino Unido da Liberdade, uma das mais tradicionais de Manaus.
“Os meninos da bateria e até mesmo o presidente da escola de samba são ex-alunos do instituto”, conta o reitor da instituição, João Martins Dias.
A escola saiu com 5 mil brincantes na avenida. Terceira do grupo especial a desfilar, a Reino Unido da Liberdade reservou duas alas exclusivas para o Instituto Federal, uma para servidores e outra para egressos da instituição.
Desde que soube que ia desfilar, a professora Maria Guerreiro tomou aulas de dança, promovidas pelo próprio instituto. “Não quero fazer feio de jeito nenhum”, conta a professora, que foi criada no Morro da Liberdade.
Quando criança, a escola de samba passava em frente à sua casa, mas seus pais não a deixavam pular o carnaval. Este ano ela saiu pela primeira vez.
“Estou muito emocionada também porque trabalho no instituto há 15 anos”, relata.
O que hoje é o Instituto Federal do Amazonas começou como uma das primeiras escolas de educação profissional do país.
Criada em 1909 pelo ex-presidente Nilo Peçanha, a então “escola de aprendizes artífices” foi uma das 19 primeiras a serem instaladas no país.
O enredo “O centenário dos aprendizes artífices no reino do saber, do samba e da alegria” conta toda a história da instituição, amada pela comunidade manauara. Foi a própria escola de samba que propôs o enredo.
“Essa idéia não partiu aqui do instituto não. Eu não ia propor uma encrenca dessas. Tivemos que ensaiar um ano inteiro”, brinca o reitor João Dias.
Homem letrado, acostumado ao dia-a-dia de professor, este ano ele falou sobre a experiência no carnaval. “Tô um pouco sem jeito, mas muito orgulhoso também”, disse.
A diretoria da escola de samba desfilou junto com a diretoria do instituto, em mais uma prova da interação da comunidade com o instituto federal.
No enredo, a história da escola e da revolução tecnológica dos últimos 100 anos.
Samba-enredo: O Centenário dos Aprendizes Artífices no Reino do Saber, do Samba e da Alegria
Autores: Marquinhos Negritude, Marcão do Reino, Herlom e Ney Butica
Intérprete: Wilsinho de Cima
O Morro é cultura
Expressão de liberdade
Aqui se faz educação
Mostrando que é vitrine pra cidade
100 anos do portal do saber
Reino Unido vem contar
A divina missão de ensinar
Um novo dia raiou, pra realizar o sonho
Vamos cantar na passarela
A renovação da educação
Surgiam aprendizes artífices
Trazendo um novo tempo pra esse chão
Bate forte o tambor!
Quanta emoção!
No esporte e na vida, sou campeão
Coração acelera, tanto carinho
Tariano na Dança do Cacetinho
Hoje sou folião e sou criança
Sem esquecer a importância
Eterna fonte de sabedoria
Escola de vida, forma o cidadão
Com amor e tecnologia
Vou jogar serpentina e confete
Na avenida exaltando o CEFET
No concurso realizado na quadra da escola para a escolha da Rainha de Bateria, Layana Pampolha foi eleita quase por aclamação, depois de dar um verdadeiro show de simpatia, exuberância e samba no pé.
Layana disputou o posto com outras nove fortes candidatas, tendo conquistado 116 pontos de 120 possíveis.
Até desfilando em traje de noite, a candidata arrancou suspiros da fila do gargarejo.
Uma autêntica mulata de 400 talheres disposta a fazer bonito na avenida.
Mas as grande emoções na comunidade do GRES Reino Unido estavam apenas começando.
No dia 16 de janeiro, sexta feira, a Ageesma promoveu no Sambódromo a escolha do Rei Momo, Rainha do Carnaval e Sambista de Ouro.
Como Rei Momo foi escolhido Rodolfo Herculano, do GRES Grande Família, que derrotou quatro candidatos.
O título de Sambista de Ouro foi para a estudante Fabiana Klésia, de apenas 17 anos, também do GRES A Grande Família, que derrotou cinco candidatas.
O título de Rainha do Carnaval ficou com Helaine Vasconcelos, do GRES Reino Unido da Liberdade, que derrotou 13 candidatas.
A exuberante Helaine já havia ganho o mesmo título em 2003, quando fazia parte da Ala Show do GRES A Grande Família.
Empolgados pela conquista do título da Rainha do Carnaval, os 4.500 componentes do GRES Reino Unido evoluíram no Sambódromo com muita garra e determinação para recuperar o título que há dez anos a escola não conquistava.
Mesmo com o número alto de foliões, a agremiação conseguiu desfilar dentro do horário determinado.
A bateria entrou representando a fanfarra da CEFET.
Nas cores da instituição (branco, azul e vermelho), a bateria da escola formou um verdadeiro tapete azul na pista do Sambódromo.
As Alas fizeram um passeio pelos cursos oferecidos pelo Centro de Educação e destacaram ainda algumas modalidades esportivas oferecidas pela escola e compositores do Amazonas.
O primeiro carro da escola “O Pensamento e Expansão” trouxe um cérebro representado o conhecimento.
O segundo carro “Campeão dos Esportes do Amazonas”, mostrou esportistas, fazendo a ligação de esporte com saúde.
Já o terceiro carro da agremiação “Edificando o Amanhã” trouxe interatividade para a avenida.
Os componentes vestidos de índios desciam da alegoria em coreográfica sincronizadas e retornavam ao carro, dando movimento de cores ao carro.
O carro alegórico “Edificando o amanhã” veio para mostrar a história da arquitetura mundial como a torre Eiffel, em Paris, e o Taj Mahal, na Índia. O conhecimento foi o grande destaque do desfile.
O casal de Mestre Sala e Porta Bandeira representaram as engrenagens da mecânica, presentes na saia da porta bandeira, em cores prata e preto.
A CEFET também se destacou nos festivais folclóricos da cidade e, por isso, a “Dança dos Tarianos”, mais conhecida pela população como “Dança do Cacetinho”, foi apresentada ao público.
A “Ala Sincronizada do Cacetinho” tentou recriar na passarela a manifestação cultural baseada em uma antiga dança indígena praticada pelos Tarianos.
Um dos pontos altos do desfile foi a apresentação do reitor da CEFET, que dançou, a todo o momento, sob o som do enredo da escola.
A Escola de Samba Reino Unido da Liberdade, do bairro Morro da Liberdade, contou com cinco carros alegóricos, um tripé e 27 alas.
No dia 22 de fevereiro, no Portal Terra, o jornalista Arnoldo Santos publicou uma matéria intitulada “Carnaval de Manaus leva 120 mil pessoas ao sambódromo”:
Depois de uma semana tensa, marcada pela indefinição de datas, horários e sequência de apresentações, agravada ainda por uma disputa judicial entre as agremiações, as escolas de samba do grupo especial fizeram seu desfile no centro de convenções de Manaus, o sambódromo.
Pela estimativa da polícia militar, 120 mil pessoas lotaram as arquibancadas do sambódromo para ver os desfiles.
A festa começou por volta das 18h de ontem e só terminou às 6h30 deste domingo. Oito escolas fazem parte do grupo Especial (duas a mais eram convidadas).
Os enredos foram diversos e encheram o sambódromo de cores e formas de interpretação. Começando pela Balaku-Blaku que levou o enredo “Nem Ouro nem Prata, o Eldorado existe e é verde – Amazônia”, que contou a história da lenda de Akator, a cidade construída toda em ouro, sonho que levou diversos aventureiros à morte.
O sobrenatural comandou o enredo da Unidos do Alvorada. A escola desenvolveu o tema “De Exu a Oxalá, com as bênçãos do criador, tudo pode mudar”, uma alusão ao sincretismo religioso brasileiro.
A comissão de frente representava Exu, a figura do candomblé que “quebra as correntes e abre os caminhos”, como definiu Antônio Aleixo, um dos coreógrafos da escola. A chuva caiu desde do início do desfile até por volta da meia-noite, mas não tirou a animação dos presentes no sambódromo.
A escola Sem Compromisso falou de romantismo e paixão no enredo “Amor - a quanto obrigas, mas se não viver, como sabê-lo?”, de autoria do presidente da escola, Getúlio Lobo e do poeta amazonense Aníbal Beça.
A comissão de frente trouxe um casal de bailarinos representando Adão e Eva, acompanhados de anjos.
Os bailarinos Camila Barbosa e Branco Netro executaram na passarela do samba passos típicos do balé.
“Pra falar de amor provamos que clássico combina sim com o popular”, disse Branco Neto ao sair da pista, emocionado.
A escola Reino Unido, representante do bairro Morro da Liberdade, localizado na zona Sul de Manaus, apresentou o enredo “O Centenário dos Aprendizes Artifices, no Reino do Saber, do Samba e da Alegria”, homenagem aos 100 anos do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas), antiga escola técnica federal.
A pesquisa de novas tecnologias foi retratada em um grande carro alegórico construído em forma de engrenagens.
Uma viagem pelo extremo Norte do Brasil foi a proposta da escola Mocidade Independente de Presidente Vargas.
A escola levou à avenida o enredo Roraima do extremo norte do País.
“É uma emoção muito grande ver minha terra sendo homenageada. Por isso eu vim torcer pela Presidente Vargas”, disse o administrador Paulo Ferreira, natural de Boa Vista (RR), que levou a mulher e a filha para o sambódromo.
A escola Vitória Régia, do tradicional bairro da Praça 14, também falou de Roraima, mas na figura do ex-governador do Estado, Ottomar Pinto.
O enredo “Ottomar, do nordeste decolou, no coração de Roraima” pousou empolgou a torcida pelas paradas da bateria no meio da pista.
A escola de samba Mocidade Independente de Aparecida foi a penúltima do grupo especial a entrar no sambódromo por volta das 4h10.
Por ser uma das mais tradicionais do Carnaval de Manaus tinha uma das maiores torcidas nas arquibancadas.
O enredo “Por mares dantes navegados” aludiu a pirataria feita de todas as formas.
O carro abre alas mostrava um polvo gigante envolvendo um veleiro.
Um dos destaques eram os componentes fantasiados de seres marinhos que estavam com enfeites de cabeça feitos de copos plásticos reciclados.
A escola A Grande Família, representante da zona leste da cidade, fechou o desfile do grupo especial.
O enredo “Venezuela: de Bolivar, o libertador, ao petróleo que move o mundo” homenageou o país vizinho com os seus principais aspectos, da cultura à política.
Uma tartaruga gigante mostrou a fauna marinha do litoral venezuelano, uma das riquezas naturais daquele país.
Várias bandeiras da Venezuela deram um colorido a mais às arquibancadas.
Quando as notas foram computadas, o GRES A Grande Família se tornou o grande campeão do Grupo Especial do Carnaval de Manaus derrotando a Reino Unido por apenas um décimo.
A vitória foi anunciada após a apuração do desempenho das escolas de samba, que ocorreu na manhã de quarta-feira, 25, no Centro de Convenções Sambódromo.
Com a homenagem à Venezuela, A Grande Família acarretou, ao todo, 270 pontos e saiu na frente das demais escolas.
O segundo lugar ficou com a Reino Unido da Liberdade (269,90 pontos) e o terceiro com a Mocidade Independente de Aparecida (267,40).
O presidente da Grande Família, Luiz Gilberto, comemorou a vitória.
“Este é o maior reconhecimento do nosso trabalho. Temos uma superstição de que o título é nosso todos os anos ímpares e esse ano não foi diferente”, brincou o carnavalesco.
Pontuação
A Grande Família: 270,0
Reino Unido da Liberdade: 269,90
Mocidade Independente de Aparecida: 267,40
Unidos da Alvorada: 266,89
Vitória Régia: 266,85
Sem Compromisso: 265,22
Balaku-Blaku: 264,63
Presidente Vargas: 262,93
Mocidade Independente do Coroado: 262,42
Andanças de Ciganos: 262,07
Wilsinho de Cima soltando a voz na quadra da escola
Em depoimento exclusivo ao Sovaco de Cobra, a escritora e pesquisadora paraense Conceição Campos nos conta os bastidores e o longo processo referentes à construção do livro:
“Pra valer mesmo esse livro começou em 2007, quando consegui o patrocínio da Petrobras, que permitiu que eu me dedicasse exclusivamente a escrever e que o livro hoje estivesse pronto, impresso.
Mas nos bastidores ele começou há mais de dez anos quando eu fui apresentada ao Paulo César Pinheiro pelo Pedro Amorim – parceiro dele, bandolinista com quem eu tinha acabado de me casar.
A partir desse contato, eu passei a ser tomada por um conjunto de sustos e descobertas sucessivas nas quais letras dele e etapas da minha vida pessoal se relacionavam intimamente.
Desde o tema do Pedrinho (dele com Dori Caymmi) que eu via no Sítio do Picapau Amarelo, passando por Pesadelo, da época da ditadura (com Maurício Tapajós), pelas parcerias com o Baden Powell (Quaquaraquaquá, Cai dentro, Lapinha), depois os sambas antológicos com João Nogueira (Eu hein Rosa, O poder da criação), com Mauro Duarte (O Canto das três raças), com Moacyr Luz (Saudades da Guanabara, que eu ouvia quando morei em SP) quer dizer, a trilha sonora da minha casa tinha sido conduzida pelas suas palavras sem que eu tivesse consciência disso.
Intrigada com essa invisibilidade do letrista pra mim, um dia pedi a ele a indicação de um livro onde eu pudesse saber mais sobre a sua obra.
Como ele disse que esse livro não existia, eu resolvi que então faria um.
Ele sorriu me prevenindo: É muita coisa…
Em pouco tempo, perdida entre as estantes empoeiradas dos sebos de vinil, das discotecas de rádios (a Rádio Nacional no Rio, a Rádio Cultura de São Paulo), discotecas particulares, eu entendi do que exatamente é que ele estava falando. Era muita coisa mesmo.
No livro estão contabilizadas mais de duas mil letras, metade gravada por 500 intérpretes, desde Elis Regina, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, Nana Caymmi, MPB-4, Roberto Ribeiro, Amélia Rabello, Paulinho da Viola, Elba Ramalho, até Renato Braz, Mônica Salmaso e a lista é interminável, porque está sempre crescendo.
Durante muitos anos fui coletando informações em mais de mil lps, cds, dvds, pegando eles com a mão, só passando a usar algumas poucas informações de internet muito recentemente.
Devagarinho também fui fazendo muitas entrevistas com seus amigos de infância, alguns parceiros, intérpretes, familiares.
Fui, principalmente, lendo e ouvindo tudo o que podia de seus poemas e letras de música.
Com o convívio eu fui tendo a chance e o privilégio de ouvir músicas recém-nascidas, e de estilos bem variados.
Umas lindas, líricas, emocionantes. Outras divertidas, malandras, bem cariocas.
E foi me chamando atenção a presença da cultura popular do país em um número considerável de suas letras, muitas delas ainda inéditas e feitas com parceiros mineiros, baianos, pernambucanos, alagoanos, acreanos, paraenses, alguns muito jovens, outros pouco conhecidos no eixo Rio-São Paulo, mas tudo muito bonito, muito forte.
Eu conto no livro que tive a sensação de que devia montar num cavalo e sair em disparada pra conhecer aquelas coisas todas.
Embora não tenha feito exatamente isso – não tinha pernas pra tanto! – a verdade é que eu comecei a aproveitar qualquer chance de deslocamento pra estabelecer contato com aqueles temas da cultura popular brasileira dos quais Paulo César Pinheiro falava tanto.
Eu também ficava cismada vendo ele falar com tanta desenvoltura sobre a cultura de lugares que não eram seus. Será que ele realmente conhecia aquilo tudo?
Intrigada, eu comecei a buscar por essas pistas que ele deixava, começando por coisas do Rio de Janeiro que eu, moradora daqui há tantos anos, ainda não conhecia.
Aproveitando a companhia do Pedro, que era da área, passei a prestar mais atenção no samba e no choro.
Depois, seguindo as indicações contidas em vários versos do letrista, subi o Morro da Serrinha, berço do jongo, no bairro de Madureira.
Descobri também a Folia de Reis na região de Vassouras, fui até a Enseada da Japuíba, em Angra dos Reis, pra conhecer o lugar do seu avô pescador, lugar onde ele despertou, ainda bem menino, para a poesia.
Pra descobrir o roteiro boêmio da juventude dele, acabei descobrindo um Rio de Janeiro encantador, assim como bairro de São Cristóvão, de onde ele só saiu já adulto.
Mas até aí, tudo bem, a capital carioca era a área dele, a cidade dele e, de certa maneira, também a minha, o que se configurara numa busca razoavelmente acessível.
Mas e o resto?
Eu fiquei realmente encrencada foi quando comecei a ouvir e a me encantar pelas letras que ele fazia para cirandas e caboclinhos do Lenine (que é pernambucano), ou para os reizados do grande violonista João Lyra (que é alagoano), para os congados do compositor Sérgio Santos (que é mineiro), para os sambas de roda d o Roque Ferreira, para os ijexás do também baiano Edil Pacheco e assim por diante.
Aí danou-se, porque, embora me sentisse absolutamente identificada e atraída por aquelas parcerias, por aqueles versos e melodias e por tudo o que vinha em seu bojo, eu não fazia muita idéia do que fosse aquilo tudo – mulungu, catopé, catira, lundu, marujada, retumbão…
Me senti fazendo um inventário etnomusical e eu ainda não estava capacitada pra isso.
Foi quando eu procurei por vários desses parceiros, que começaram a me contar de que forma essas manifestações musicais e culturais tinham se entranhado na sua forma de compor, geralmente desde a infância.
E isso, como um mapa do tesouro, acabou me conduzindo também no rumo da minha própria origem. Eu passei a aproveitar qualquer chance de viagem, abrindo uma antena pra esses universos.
Numas férias parti pra Pernambuco, pra ver e ouvir de perto o maracatu rural, o maracatu nação, o caboclinho, o cavalo marinho.
Depois, a minha forma de olhar pras coisas da minha terra também foi mudando.
A minha família começou a achar graça porque eu chegava em Belém querendo me enfurnar no interior pra assistir marujada, retumbão, ver arrastão de boi na quadra junina.
Na época em que ele estava escrevendo o livro de poemas Atabaques, violas e bambus, toda a parte indígena do livro (depois musicado pelo compositor paraense Paulo André Barata) me fez pensar na minha própria árvore genealógica, entrevistar meu avô, queria saber de que povo indígena a gente tinha vindo (e ele sequer admitia essa possibilidade!).
Eu estava movida por uma profunda vontade de entender a emoção que eu sentia diante daquele Brasil que o Paulo César Pinheiro desenhava com seus versos, e percebia que aquelas influências eram a alma e o sustento de uma arte muito forte e original que, como um contador de histórias, ele criava e recriava sem parar.
Eu sempre digo que não gosto muito de ser chamada de biógrafa, ou de biógrafa do Paulo César Pinheiro porque, embora eu tenha de fato contado e registrado fatos importantes da sua vida e da sua obra, (e muito me orgulho dessa empreitada) eu também estive, o tempo todo, em busca da minha própria história.
E é essa a minha postura de parceria com o leitor: a de alguém que percebe que, ao contrário do que muitas vezes se pensa, a palavra e a poesia exercem um poder e uma influência fortes na vida das pessoas, a poesia marca e muda a vida das pessoas. Ainda mais quando vem montada na música.
O Paulo César Pinheiro, com a força da sua arte, tem esse poder de mexer com a gente e essa foi uma das coisas que eu quis passar no livro.”
O livro terá lançamento oficial, em São Paulo, nesta terça-feira, dia dia 09 de junho na Livraria da Vila, com a presença da autora e de Paulo César Pinheiro, e pocket-show com grupo Samba de Fato (Pedro Amorim, Pedro Miranda, Alfredo Del Penho e Paulino Dias) cantando repertório do compositor e seus parceiros.
Serviço
Lançamento do livro “A Letra Brasileira de Paulo César Pinheiro” – Livraria da Vila.
Rua Fradique Coutinho, 915 (Vila Madalena) São Paulo. Tel: 3814-5811.
Dia 09 de junho, às 18h30.
Entrada gratuita.
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