segunda-feira, 4 de abril de 2011

GRES Reino Unido da Liberdade - Carnaval 2004



O presidente do GRES Vitória Régia Didi Redman e sua comitiva na posse de Ricardo Cabral, novo presidente do GRES Reino Unido

Enredo: Te Vejo, Desejo, Te Beijo, Tudo é Carnaval

A ausência de títulos conquistados nos últimos anos provocou um movimento de renovação entre os simpatizantes do GRES Reino Unido, que se consolidou em uma chapa de oposição.

Em maio de 2003, o engenheiro civil Ricardo Cabral, encabeçando a chapa de oposição, foi eleito presidente da escola.

Decepcionados com a derrota, vários membros fundadores da escola abandonaram a Reino Unido e foram trabalhar voluntariamente em escolas do 1º e 2º Grupo, como Ipixuna e Andança de Ciganos.

Sem dar bola para o problema, Ricardo Cabral iniciou sua gestão formalizando a Cocar (“Comissão de Carnaval”), que passou a ser dirigida pelos irmãos Aldinei e Aldenor Maciel.

Depois de uma série de reuniões, a Cocar escolheu como tema contar a história do beijo.


O videomaker Anisio Jr., o artista plástico Rui Machado, Liduína Mendes e o poeta Anisio Mello

A publicitária e escritora Liduína Mendes foi convocada para auxiliar no desenvolvimento do enredo e atuar como carnavalesca.

Até então, Liduína fazia parte da Comissão de Artes do boi Garantido, de Parintins.

Na verdade, desde o sopro divino de Deus em Adão, passando pelo beijo de Judas em Cristo, até os beijos dos contos de fadas, o ato de beijar está presente em momentos marcantes da história, da arte e da literatura.

Mas não se sabe exatamente como surgiu o primeiro beijo da humanidade. Há quem diga que o beijo surgiu das lambidas que os homens das cavernas davam em seus companheiros em busca de sal.

Ou ainda uma variante de um gesto de carinho das mulheres das cavernas que mastigavam o alimento e o colocavam na boca de seus filhos pequenos.

As referências mais antigas aos beijos foram esculpidas por volta de 2.500 a.C. nas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia.

Na Suméria (região da antiga Mesopotâmia, hoje Ásia), as pessoas costumavam enviar beijos para os céus, endereçados aos deuses.

Na Antigüidade, o beijo materno, de mãe para filho, era bem comum.


Entre gregos e romanos, o beijo era observado entre todos os membros de uma família e entre amigos bastante íntimos ou entre guerreiros no retorno de um combate, muitas vezes, com conotação erótica.

Os gregos, aliás, adoravam beijar. No entanto foram os romanos que o difundiram.

Os romanos tinham três tipos de beijos: o basium, trocado entre conhecidos, o osculum, dado apenas em amigos íntimos, e o suavium, que era o beijo dos amantes.

Os imperadores romanos permitiam que os nobres mais influentes beijassem seus lábios, enquanto os menos importantes tinham de beijar suas mãos. Os súditos podiam beijar apenas seus pés.

Beijo na boca, entre cidadãos da mesma classe social, era uma saudação praticada pelos persas.

Heródoto, no século 5 a.C., listou todos os tipos de beijos e seus significados entre persas e árabes.


Na Idade Média, séculos 12 e 13, a saudação entre religiosos cristãos tornou-se o beijo de paz, que simbolizava a caridade e unia os cristãos durante a missa.

O beijo de paz também era utilizado pela Igreja nas cerimônias de ordenação, na recepção de noviços, na missa etc.

Neste mesmo período da história, a Igreja Católica proibiu o beijo caso este tivesse alguma conotação libidinosa.

O beijo, afirmavam os religiosos, não tinha de ter ligação com o prazer sexual.


Os fiéis passaram a beijar o osculatório e somente os clérigos mantiveram o costume do beijo nos lábios para as cerimônias.

O beijo na boca passou também a representar uma espécie de contrato entre o senhor feudal e o seu vassalo. Era algo como “dou minha palavra”.

Os burgueses adotaram o beijo na face como sinal de saudação. Os nobres usavam o beijo na boca para o mesmo fim.

No século 15, os nobres franceses podiam beijar qualquer mulher que quisessem.

Na Itália, entretanto, se um homem beijasse uma donzela em público naquela época era obrigado a se casar com ela imediatamente.

Na Escócia, o padre beijava os lábios da noiva no final da cerimônia de casamento. Dizia-se que a felicidade conjugal dependia dessa benção em forma de beijo.

Depois, na festa, a noiva deveria circular entre os convidados e beijar todos os homens na boca, que em troca lhe davam algum dinheiro.


Na linguagem dos esquimós, a palavra que designa beijar é a mesma que serve para dizer cheirar. Por isso, no chamado “beijo de esquimó”, eles esfregam os narizes.

No Nordeste brasileiro, também se usa a palavra “cheiro” no lugar de “beijo”.

Somente no século 17 os homens deram fim ao beijo na boca e o substituíram, então, pelo abraço cerimonial.

Paralelamente, os religiosos substituíram o beijo na boca pelo beijo nos pés, o beijo nas mãos, chegando ao aperto de mão e ao abraço da paz.

Na mesma época, Oliver Cromwell proibiu que fossem dados beijos aos domingos na Inglaterra. Os infratores eram condenados à prisão.

No século 19, o surgimento do Romantismo, que dava ênfase ao individualismo, lirismo, sensibilidade e fantasias, com o predomínio da poesia sobre a razão, favoreceu aos ardentes romances e tórridas paixões.

Conseqüentemente, os beijos ganharam tremendo espaço e popularidade.

Foi a época de ouro do beijo francês, aquele em que as línguas se entrelaçam, também conhecido como beijo de língua. A expressão foi criada por volta de 1920.


Boatos no final do século 19 atribuíam à estátua do soldado italiano Guidarello Guidarelli, obra do século 16 assinada por Tullio Lombardo, o poder de arranjar casamentos fabulosos a todas as mulheres que a beijassem.


Desde então, mais de 7 milhões de bocas já tocaram a escultura em Veneza.

No final do século 20, com o avanço do feminismo, a mulher, muito mais liberada, não tem mais vergonha de expor seus desejos.


A literatura oriunda desta época, os filmes produzidos em Hollywood (quem não se lembra da cena protagonizada por Vivian Leigh e Clark Gable em ...E o Vento Levou?), mudou hábitos tradicionais de vários povos, principalmente entre os negros, amarelos, povos árabes e indianos, entre os quais o beijo não fazia parte dos costumes.

Basta dizer que nos anos 50, por causa do chefe de polícia de Tóquio, que achava o ato de beijar sujo e indecoroso, foram apagados dos filmes norte-americanos mais de 243.840 metros de cenas de beijos.

Uma alusão a essa paranóia foi retratada no final do emocionante filme “Cinema Paradiso”, de Giuseppe Tornatore.

Mas beijar é tão bom, que a data oficial (13 de abril) merece ser comemorada todos os dias. Afinal beijar é saudável, faz bem ao coração, emagrece.


Estima-se que um beijo caprichado de 10 segundos possa queimar até 12 calorias, e movimente 12 músculos do lábio, 17 da língua e 9 do pescoço.

Ou seja: um delicioso beijo de 1 minuto pode te ajudar a queimar as calorias daquela bola de sorvete de morango que você devorou depois do almoço ou daqueles dois copos de chope no bar da esquina!

Nada mal para quem está querendo entrar num regime!

Um bom beijo faz o nosso coração disparar. A pulsação normal, que é de 60 a 80 batimentos cardíacos por minuto chega a 150!

Dependendo do beijo - e da pessoa beijada- a impressão que se tem é de ter o coração saindo pela boca!

Nessa hora, o organismo produz substâncias químicas que transmitem ao corpo a sensação de leveza física e emocional.

São substâncias liberadas pela hipófise, tálamo e hipotálamo, partes do cérebro. As pupilas dilatam-se.


Dizem os cientistas que o beijo também tem seu lado ruim.

Pesquisadores afirmam que, além da troca de água, sais e gorduras, cerca de 250 espécies de vírus e bactérias diferentes são transmitidas através dele.

Será que alguém pensa nisso na hora de beijar?!

Pois é, mas talvez essa seja a melhor forma de pegar um germe...


O certo é que a Reino Unido não deixou que estes microorganismos estragassem seu carnaval e fez um samba-enredo envolvente, saleroso, quente, excitante, exatamente como... um grande beijo.

Samba-enredo: Te Vejo, Desejo, Te Beijo, Tudo é Carnaval

Compositores: Magno da Vila, Paulo Onça e Mestre Arnoldo

Intérprete: Galo do Reino

Cem por cento é o nosso amor
Sou liberdade, explode coração
No afã da sedução
Beijo molhado
No escurinho do cinema
Lua cheia, ó mãe clareia
Viúva negra com o teu beijar
Olhar de desejos
Vampiros no ar
O beijo fez a princesa despertar
Teu beijo ao gosto de batom, meu amor
Viajo a rima da canção, coração
Beijo mentira é internet
Acessa ao site da ilusão
Primeiro amor beijo marcante
Tão excitante não dá pra esquecer
Me beija gostoso
Gostoso é beijar
Em teus braços vou sonhar
Tem beijo prafrente
Tem beijo de rei
De verde e branco eu te beijei
Te beijei com amor, eu sei
Te beijei com amor, amei
Meu beijo, teu beijo
No Reino do teu beijo amei


Dona Aurora, uma das mais tradicionais brincantes da Ala das Baianas do GRES Reino Unido

Para evitar a chiadeira das escolas de samba do 1º e 2º Grupo, que protestavam pelo fato de desfilarem na sexta-feira para uma platéia praticamente vazia, a Ageesma e a Liga das pequenas escolas de samba resolveram organizar um desfile misto.

Na sexta-feira, ficou acordado que desfilariam, pela ordem, as escolas Hawai, Barão Açu e Coophasa (2º Grupo), Presidente Vargas e Mocidade do Coroado (1º Grupo), Sem Compromisso, Reino Unido e Vitória Régia (Grupo Especial).

A Reino Unido começou a desfilar já na madrugada de sábado, por volta das 2h30.

Apesar da chuva torrencial que começou a cair no início de sua apresentação, a escola conseguiu evoluir bem e defender com galhardia o enredo em alusão ao beijo, tendo como intérprete o cantor Galo do Reino, auxiliado por Paulo Onça e Mestre Arnoldo.

A escola teve problemas com dois carros alegóricos, ainda na área da concentração, que estava completamente alagada por causa da chuva.

A informação era de que os carros estavam com os pneus furados, mas foi apenas um susto.

Devido o peso da água empoçada dentro dos carros, foi necessário recalibrar os pneus dos carros antes de colocá-los na avenida.

A coreografia da Comissão de Frente da escola, formada por aranhas do tipo “Viúva Negra”, mostrando o ritual de acasalamento entre machos e fêmeas, levantou a arquibancada, prenunciando um bonito desfile. E a Reino Unido não deixou por menos.

O carro abre-alas intitulado “Magia do Beijo”, trazia como destaques as figuras de príncipes e princesas dos contos de fadas, como a Bela Adormecida e Cinderela, sendo puxadas por uma grande carruagem em forma de abóbora.

Quando a cúpula da carruagem era aberta, surgia o nome da escola.

Fadas, duendes, bruxos e bruxas, Charles Chaplin, vampiros, dragões e cavalos marinhos se fizeram presentes no desfile apresentado pela escola.

Os cinco carros alegóricos, ricamente adornados e de excelente concepção cênica, conseguiram traduzir com maestria a intenção dos carnavalescos: transformar o desfile em um grande conto de fadas, com flashes da sétima arte, e emocionar o público.

Um dos carros mais aplaudidos pela platéia foi o do “Moulin Rouge”, a famosa casa de espetáculos de dança / bordel que subsiste até hoje, localizada no bairro de Montmartre, em Paris.

As lindas figurantes fantasiadas de cortesãs, os figurantes masculinos, de cartola e pincenê, se comportando como clientes do bordel, e o belo acabamento do carro, viraram alvo preferencial das filmagens de uma equipe de televisão espanhola, que estava na cidade produzindo o reality-show “La Selva”, no hotel Ariaú Tower.

Além da primorosa estética do desfile, evidenciado no bom gosto das fantasias e na alegria contagiante dos figurantes, era visível a preocupação da escola com o acabamento das fantasias e do pouco uso do pano TNT, muito comum nas demais escolas.

A carnavalesca Liduína Mendes optou por um carnaval mais sóbrio do que os que vinham sendo feitos pelo Morro da Liberdade, com poucos toques de ousadia como as alegorias humanas, mas extremamente colorido e luxuoso.

O desfile teve ótima recepção e confirmou o status dela como uma das cabeças pensantes do carnaval amazonense.

Na abertura das notas oficiais dos jurados, entretanto, veio uma nova decepção.

A Vitória Régia e Aparecida empataram em primeiro lugar com 180 pontos. O 2º lugar ficou com a Grande Família (179 pontos). A Reino Unido amargou um decepcionante 4º lugar (173 pontos).



Foi uma ducha de água fria sobre toda a diretoria e o presidente Ricardo Cabral foi à loucura.

Ele estava absolutamente convencido de que a escola havia feito um desfile impecável e não admitia ter perdido três pontos em Fantasias e Alegorias e três pontos em Evolução.

“Você nos roubaram, porra, vocês nos roubaram na mão grande!”, gritava ele, apoplético, para os dirigentes da Ageesma, logo após a proclamação do resultado oficial.

No final de setembro, uma nova tragédia se abate sobre a escola de samba.


Jair do Ases do Pagode, Buião, Simão Pessoa, Cafuringa e Junior Rodrigues, durante uma roda de pagode no barco da Comitiva do Samba, em Parintins

Na madrugada da quarta-feira, 29, o sambista Luizinho Sá, falece em São Paulo, vítima de complicações hepáticas.

O corpo do sambista foi enviado para Manaus no mesmo dia, tendo sido velado na Funerária Almir Neves e enterrado no Cemitério de São João Batista, sob a marcação cadenciada de um surdo da bateria da Reino Unido.

Os principais sambistas da cidade participaram de uma última homenagem a Luizinho Sá, fazendo uma roda de pagode em redor de sua sepultura.


As mãos de Jair do Ases do Pagode no atabaque, Junior Rodrigues no violão, Zé Picanço no xeque-xeque, João Thomé no tamborim e Luizinho Sá no agogô

Criador da “Comitiva do Samba”, uma delegação de sambistas que todo ano freta um barco para participar do Festival dos Bumbás de Parintins, Luizinho Sá foi uma figura de destaque na história recente do carnaval baré.

Ele começou como mestre de bateria da Batucada Samurai, tendo posteriormente se transferido para o GRES Em Cima da Hora, onde também foi mestre de bateria.

Durante 13 nos participou ativamente das atividades do GRES Reino Unido da Liberdade, sendo eleito presidente e comandado os carnavais de 1996 e 1997.

Afastado da Reino Unido desde a vitória da chapa de oposição, em 2003, ele estava exercendo o cargo de Relações Públicas do GRES Unidos do Alvorada e da Ageesma.

Conhecido por sua forma muito tranqüila de trabalhar, Luizinho era um pagodeiro nato, espirituoso, versátil, bem humorado, que soube transmitir aos três filhos, Luciano, Lucélia e Luana, todos ritmistas da bateria da Reino Unido, e à esposa Tetê, uma das baluartes da escola, sua eterna e verdadeira paixão pelo samba.

Tenho (temos) saudades.

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