domingo, 3 de abril de 2011

GRES Reino Unido da Liberdade - Carnaval 2005


Enredo: A Energia da Luz me conduz ao Reino Unido que me seduz

A cobrança dos brincantes do GRES Reino Unido por um título que a escola não conquistava há seis anos (a última vitória tinha sido com “Armando Brasileiro”, em 1999) fez com que o presidente Ricardo Cabral partisse para a radicalização.

Engenheiro civil, ele foi buscar no campo das ciências exatas a matéria-prima do novo carnaval: contar a história da eletricidade através dos séculos e sua importância na cidade de Manaus, uma das primeiras cidades do país a contar com luz elétrica, graças ao período áureo da borracha.

Era a primeira vez que um enredo desse tipo seria abordado por uma escola de samba, na história do carnaval amazonense.

Dependendo do desenvolvimento do tema e da concepção das alegorias e fantasias, seria a redenção gloriosa (em face do fraco desempenho no desfile anterior) ou a condenação definitiva da escola ao inferno.

A Comissão de Carnaval começou a trabalhar no enredo “A energia da luz me conduz ao Reino Unido que me seduz” a partir de agosto de 2004.


Conforme dizem os livros sobre o assunto, a eletricidade foi descoberta por um filósofo grego chamado Tales de Mileto que, ao esfregar um âmbar a um pedaço de pele de carneiro, observou que pedaços de palhas e fragmentos de madeira começaram a ser atraídas pelo próprio âmbar.

Do âmbar (“élektron”, em grego) surgiu o nome eletricidade.

No século 17 foram iniciados estudos sistemáticos sobre a eletrificação por atrito, graças a Otto von Guericke.

Em 1672, Otto inventa uma máquina geradora de cargas elétricas onde uma esfera de enxofre gira constantemente atritando-se em terra seca.

Meio século depois, Stephen Gray faz a primeira distinção entre condutores e isolantes elétricos.

Durante o século 18 as máquinas elétricas evoluem até chegar a um disco rotativo de vidro que é atritado a um isolante adequado.

Uma descoberta importante foi o condensador, descoberto independentemente por Ewald Georg von Kleist e por Petrus van Musschenbroek.

O condensador consistia em uma máquina armazenadora de cargas elétricas. Eram dois corpos condutores separados por um isolante delgado.


Outra invenção importante, e de uso prático imediato, foi o pára-raios, feito por Benjamin Franklin.

Ele descobriu que a eletrização de dois corpos atritados era a falta de um dos dois tipos de eletricidade em um dos corpos.

Esses dois tipos de eletricidade eram chamados de eletricidade resinosa e vítrea.

Ainda no século 18 foi feita a famosa experiência de Luigi Aloisio Galvani em que potenciais elétricos produziam contrações na perna de uma rã morta.

Ao repetir essa experiência, Alexandre Volta acabou inventando a pilha voltaica.

Ela consistia em uma série de discos de cobre e zinco alterados, separados por pedaços de papelão embebidos por água salgada.

Com essa invenção, obteve-se pela primeira vez uma fonte de corrente elétrica estável.


Em 1831, Michael Faraday descobre que a variação na intensidade da corrente elétrica que percorre um circuito fechado induz uma corrente em uma bobina próxima.

Uma corrente induzida também é observada ao se introduzir um ímã nessa bobina. Essa indução magnética teve uma imediata aplicação na geração de correntes elétricas.

Uma bobina próxima a um imã que gira é um exemplo de um gerador de corrente elétrica alternada.

Os geradores foram se aperfeiçoando até se tornarem as principais fontes de suprimento de eletricidade empregada principalmente na iluminação.

A publicação do tratado sobre eletricidade e magnetismo, de James Clerk Maxwell, em 1873, representa um enorme avanço no estudo do eletromagnetismo.

A luz passa a ser entendida como onda eletromagnética, uma onde que consiste de campos elétricos e magnéticos perpendiculares à direção de sua propagação.


Heinrich Hertz, em suas experiências realizadas a partir de 1885, estuda as propriedades das ondas eletromagnéticas geradas por uma bobina de indução.

Nessas experiências, observa que elas podem ser refletidas, refratadas e polarizadas, do mesmo modo que a luz.

Com o trabalho de Hertz fica demonstrado que as ondas de rádio e as de luz são ondas eletromagnéticas, desse modo confirmando as teorias de Maxwell: as ondas de rádio e as ondas luminosas diferem apenas na sua freqüência.

Hertz não explorou as possibilidades práticas abertas por suas experiências.


Mais de dez anos se passaram, até Guglielmo Marconi utilizar as ondas de rádio no seu telégrafo sem fio.

A primeira mensagem de rádio é transmitida através do Atlântico em 1901.

Em 1905, um obscuro físico de 26 anos, dividindo seu tempo entre a filha recém-nascida e um emprego como examinador de patentes de terceira classe em Berna, na Suíça, publicou uma série de artigos que revolucionaram a física.


Em um deles, Albert Einstein apresenta sua famosa fórmula E=mc², ou seja, matéria contém energia (e muita, devido à enorme velocidade da luz, o c da fórmula) e energia pode gerar matéria.

Uma conseqüência disso é que processos nucleares podem converter matéria em quantidades enormes de energia.

Esse é o princípio da geração de energia do Sol ou da fissão nuclear das bombas atômica.

Todas essas experiências vieram abrir novos caminhos para a progressiva utilização dos fenômenos elétricos em praticamente todas as atividades do homem.

Para abordar esse tema aparentemente inóspito, a Comissão de Carnaval dividiu o desfile em oito setores.


No primeiro setor, “Deuses da Escuridão”, era abordado o medo que os relâmpagos provocavam nos homens das cavernas.

No segundo setor, “Os Estudiosos”, eram contadas desde as primeiras experiências com a eletricidade realizada pelos filósofos gregos até a descoberta de que massa era a energia condensada, feita por Albert Einstein.

O terceiro setor, “A luz em Manaus”, abordava a implantação da primeira usina elétrica (Manaos Electric Lighting Company) na capital amazonense, quando as velas, candeeiros e lampiões a gás foram substituídos pelo arco voltaico.


O quarto setor, “Bondes, boemia e cabarés”, mostrava as mudanças ocorridas na cidade após o advento da luz elétrica.

O setor cinco, “Balbina”, abordava a hidrelétrica de mesmo nome, localizada no município de Presidente Figueiredo e responsável pelo fornecimento de 70% da energia consumida em Manaus.

O setor seis, “Luzes da cidade”, mostrava a pujança do Pólo Industrial de Manaus, com suas centenas de fábricas movidas a eletricidade.

O setor sete, “Nave espacial”, sinalizava para futuras explorações no espaço, utilizando-se artefatos movidos a energia nuclear.


Finalmente, no oitavo setor, “Luz no Reino Unido”, a escola mostrava que o samba de raiz, marca registrada dos meninos do Morro, era responsável por iluminar a cidade.

Os compositores se esmeraram para criar um samba-enredo fiel ao tema proposto.

Samba-enredo: “A energia da luz me conduz ao Reino Unido que me seduz

Compositores: Maurício, Madureira, Ivan Mendonça, J. Varela e Marcão

Intérprete: Marcelo Buiú

Energia
Mãe natureza risca o céu
Com o seu clarão de luz
Desce o Morro da Liberdade
Do Reino Unido que nos seduz
Tem mistério e magia
Essa fonte de energia
Dos deuses da escuridão
Que marcou na pré-história
E hoje brilha na memória
Deixando nosso mundo mais bonito
Apague o lampião, ô Maria!
Aperte o botão tem energia
Viva os inventores da eletricidade
A luz é fonte de prosperidade
Em Manaus...
Chegou o bonde, pioneiro do transporte
Balbina como força hidrelétrica
Para iluminar toda a cidade
A energia nuclear fez o homem viajar
Numa nave espacial essa luz que nos fascina
E o esplendor que ilumina
O nosso carnaval
Esta noite eu vou zoar
Nesta avenida
E o Morro aqui está
Feliz da vida
E a luz do meu Reino
É realidade
Vamos meu povo sacudir
Esta cidade


Quarta escola do Grupo Especial a entrar na avenida, a Reino Unido iniciou seu desfile por volta das 2h da madrugada de domingo, disposta a apagar a péssima impressão deixada no desfile do ano anterior.

Sob o comando do puxador Marcelo Buiú, a bateria mostrou o que tem de melhor: garra, determinação e força, que deságuam em um ritmo contagiante, pra não deixar ninguém ficar parado.

Embora os adversários dissessem que o enredo se tratava, na verdade, de uma homenagem indireta à concessionária Manaus Energia, o presidente Ricardo Cabral afirmou que a escola havia fugido do enredo-merchandising largamente utilizado por outras escolas e que seu carnaval tinha sido totalmente financiado pela própria comunidade, sem outra ajuda externa que não as verbas oficiais repassadas pela Prefeitura e pelo governo do Estado.

O GRES Reino Unido levou para os 600 metros de passarela do Sambódromo quatro carros alegóricos, 27 alas e 4.100 brincantes.

A empolgação da escola foi prejudicada pelo excesso de alas de fora da comunidade, com componentes que não costumam freqüentar os ensaios da escola.

O destaque da apresentação foi mais uma vez a performance inacreditável dos 258 ritmistas da bateria, que levantaram as arquibancadas com suas “paradinhas” espetaculares.

As alegorias que chamaram mais atenção, pela sua beleza e criatividade, foram o terceiro e quarto carro, que representavam, respectivamente, a possibilidade das viagens espaciais interplanetárias com o advento da energia nuclear, e o samba que vem do Morro para iluminar a cidade.

A arquibancada G, onde estavam concentrados os torcedores da escola, estremecia, eletrizada, cada vez que entoava o refrão “Apaga o lampião ô Maria!/ Aperte o botão tem energia”.

Apesar de alguns contratempos (na parte final do desfile foi preciso algumas alas “correrem” para não estourar o tempo máximo permitido), a Reino Unido fez um bom desfile, porém marcado pela discrepância de conceitos entre fantasias e alegorias.

As alas nada tinham a ver com os carros alegóricos, que estavam muito bem feitos, com destaque para o já citado carro da Nave Espacial.

“Nós estamos fazendo um desfile bonito, mas que ainda não está à altura da gloriosa história da Reino Unido”, avisou o ex-vereador Bosco Saraiva, que assistiu ao desfile de um dos camarotes.

Quando as notas oficiais dos jurados foram abertas, foi difícil esconder a decepção: a Reino Unido havia ficado em 6º lugar, a pior classificação de sua história em desfiles de carnavais, desde a época em que era um simples bloco de empolgação.

Em primeiro lugar ficou A Grande Família (179,1), seguida da Aparecida (179,0) e da Unidos da Alvorada (175,6).

A péssima colocação da escola foi fatal para as aspirações do presidente Ricardo Cabral de fazer seu sucessor.

Em maio, a velha guarda da Reino Unido, tendo como candidatos Jairo Beira-mar e Hélio da Luz, derrotou a chapa da situação, encabeçada por Gil da Liberdade e Antonio Queiroz, numa eleição bastante acirrada, com troca de acusações de “compra de votos” de ambos os lados.

“Vamos resgatar o lado social e cultural da escola, que foi relegado ao segundo plano nos últimos dois anos”, anunciou Ivan de Oliveira, diretor de Comunicação da chapa vitoriosa.

A partir de junho, com a posse da nova diretoria, foi dado início ao projeto “Belo Morro”, que consistiu em pintar as fachadas das residências no entorno da escola com as cores da Reino Unido, sem qualquer ônus para os proprietários.

O projeto, fruto de uma parceria com empresas privadas, como Koncretos, Hiper DB, Comodonto, Brasil.Com, Mister Jumar e Andrade Gutierrez, contribuiu para humanizar e embelezar ainda mais a comunidade.


No começo de julho, uma notícia triste pegou os meninos do Morro de surpresa: o sambista Carlinhos de Pilares, um dos primeiros puxadores de samba da Reino Unido, faleceu, aos 63 anos, no Rio de Janeiro.

O velório aconteceu na quadra da Caprichosos de Pilares e ele foi sepultado no Cemitério de Inhaúma. Um dos seus grandes sucessos foi "E por falar em saudade", do carnaval de 1985.

Há um ano, o sambista descobriu que possuía um tumor maligno no pulmão direito. Ainda assim, doente, chegou a puxar o samba-enredo da Acadêmicos da Rocinha em 2004, em homenagem ao carnavalesco Joãosinho Trinta.

Carlinhos de Pilares defendeu ainda Portela, Unidos da Tijuca, Santa Cruz, Jacarezinho, Lins e Dendê.

Além de Manaus, o sambista também participou dos carnavais de São Paulo e Porto Alegre.

Em dezembro, finalmente, uma boa notícia levantou o astral do GRES Reino Unido.


Por sugestão do ex-vereador Bosco Saraiva, o governador Eduardo Braga batizou oficialmente de “Morada do Samba Luizinho Sá” ao complexo de oito galpões, construído ao lado do Sambódromo, que servirão de barracões para as escolas de samba do Grupo Especial.

Na solenidade de inauguração, estiveram presentes 50 ritimistas de cada uma das escolas, além dos intérpretes oficiais.

A bateria gigante – 400 batuqueiros com uma só camisa representando as 8 escolas de samba com a foto de Eduardo bem ao centro – acompanhou Agnaldo do Samba no samba-enredo da Unidos da Alvorada, de 2003, quando e escola homenageou o governador.

Cada um dos oito galpões mede 40 metros de fundos por 30 de largura, sendo que na parte de trás, na forma de mezanino, há diversas salas para hospedar os artistas que trabalharão no galpão, além de banheiros e salas para reuniões.

A altura de cada um barracão, que, em engenharia, se chama de “pé direito”, é da ordem de 10 metros.

Todos os galpões têm na fachada, a pintura do símbolo de cada Escola.

“É uma obra enxuta e inteligente”, vibrou Erimar Cunha, presidente da Ageesma. “Trata-se de uma verdadeira apoteose. É o samba de Manaus, com certeza, continuando a ser um dos melhores do Brasil.”

Um comentário:

  1. Dá para vc conseguir fotos dos ensaios e desfiles de eliminatórias de rainha e 1ª princesa de Bateria da Reino Unido de 2004 e 2005? Por favor?!

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