sexta-feira, 1 de abril de 2011

GRES Reino Unido da Liberdade - Carnaval 2008


Enredo: Justa e Perfeita, a Libertação da Negra Raça no Amazonas

No carnaval de 2008, o GRES Reino Unido da Liberdade utilizou seu enredo para fazer o resgate de uma parte importante da história do Amazonas e da Liberdade: a importância da Maçonaria amazonense para a Abolição da Escravatura em nosso Estado.

“Faremos uma grande e merecida homenagem à Maçonaria, ainda que tardia, reconhecendo e agradecendo em nome do povo amazonense aos heróis anônimos que continuam a lutar pela igualdade social”, explicou o presidente Jairo Beira-mar logo após a escolha do enredo.


“Presente conosco, em espírito, estará Mãe Zulmira, a negra que esteve presente na festa da libertação, que passou a vida abençoando os filhos do Morro e que subiu para brilhar, como a mais nova estrela negra no céu do Brasil”, garantiu Ivan Oliveira, diretor de Comunicação da escola.

“Nosso enredo exalta a luta da Maçonaria pela libertação dos escravos antes mesmo da Lei Áurea”, avisou o diretor de Eventos da escola, João Mota. “O Amazonas foi o segundo estado brasileiro a libertar os escravos. Eles foram libertados em 10 de julho de 1884, enquanto a Lei Áurea só foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, daí a importância deste enredo”.


“Em um dos carros alegóricos vamos fazer uma homenagem à mãe Zulmira, falecida em março do ano passado. É uma homenagem justa, pois ela com seu terreiro de Candomblé, foi muito importante para nossa comunidade”, conta Mota.

A Reino Unido estava planejando descer a avenida com 4.500 foliões, divididos em 26 alas, seis carros alegóricos e 320 ritmistas na bateria.

A escola que foi campeã por seis vezes (1989, 1990, 1995, 1996, 1997,1999) estava confiante em ganhar o título daquele ano, com a ajuda do carnavalesco Shangai.

“O retorno de Shangai é muito importante para a Morro da Liberdade, pois com ele fomos campeões em 1989. Além disto, ele tem muita experiência em Carnaval, pois esteve por 20 anos à frente da Beija Flor de Nilópolis no Rio de Janeiro, com 18 títulos campeões para a escola de samba”, disse Mota.

As fantasias foram elaboradas pelo figurinista Erlenson Maia, um dos aderecistas mais conhecidos de Parintins.


Para orientar o enredo que havia sido sugerido por ele, o ex-vereador Bosco Saraiva preparou um pequeno texto introdutório:

Várias tribos negras viviam felizes no Litoral africano, mais precisamente em Guiné-Bissau e Angola, cultuando seus deuses, festejando a colheita, comemorando a vida em harmonia com a natureza, benzendo seus filhos, caçando e pescando, enfim, celebrando a liberdade e a divina alegria da união no seio das suas tribos.

Inesperadamente, surgiu o homem europeu com os mais variados tipos de abordagem, que iam desde a ilusão do escambo de quinquilharias até a criminosa destruição das aldeias, com a captura de adultos para servirem de escravos no Brasil.

Essa rotina se repetiria por mais de três séculos e muitos desses negros seguiriam para a Província do Amazonas.


No Brasil a história da escravatura dos negros africanos é bem conhecida: sofrimento e dor.

Porém, juntamente com o martírio há uma linda página de luta e de heróis que pelejaram de todas as formas para a reconquista da liberdade, entre eles Ganga Zumba, Zumbi, Chico Rei, Princesa Isabel, a Redentora, e a Maçonaria.

No Amazonas, a Maçonaria desempenhou um papel ímpar na luta pela libertação dos negros escravos conquistando, através de sua força e organização, a redenção da Província do Amazonas em 10 de julho de 1884, portanto quatro anos antes da Lei Áurea (13 de maio de 1888) ser assinada pela Princesa Isabel na cidade do Rio de Janeiro.

Foi Theodureto Souto, Mestre Maçom, que como Presidente da Província do Amazonas durante somente cinco meses (de 11 de março a 12 de julho de 1884), juntamente com as duas lojas maçônicas Esperança & Porvir e Amazonas, deu continuidade ao movimento abolicionista crescente vindo do governo de José Paranaguá e incentivou a criação e o fortalecimento das Sociedades Libertadoras bem como das Sociedades Emancipadoras que resultaram na Declaração de Igualdade Absoluta, em Manaus, em 24 de maio de 1884, e que desaguou nas Declarações de Inexistência de Escravos e da Igualdade de Direitos dos Habitantes do Amazonas em menos de dois meses depois.


Assim, ao meio-dia de 10 de julho de 1884, na Praça 28 de Setembro (atual Praça Heliodoro Balbi), o Presidente Theodureto Souto declarou: “(...) em homenagem à civilização e à Pátria, em nome do povo amazonense, que pela vontade soberana do mesmo povo e em virtude de suas leis, não existirem mais escravos no território desta Província, de norte a sul e de leste a oeste, ficando assim e de hoje para sempre abolida a escravidão e proclamada a Igualdade de Direito de todos os seus habitantes”.

E a cidade virou um grande salão de Carnaval!

Naquele dia quente, o espírito de Mãe Zulmira entrou na dança comemorando a libertação e os tambores de Santa Bárbara rufaram um som divino.

Novamente, em espírito, Mãe Zulmira, a rainha negra do Morro e da Liberdade vai voltar à avenida para benzer o chão da alegria e comemorar novamente junto aos seus filhos.


Samba enredo: Justa e Perfeita, a Libertação da Negra Raça no Amazonas

Compositores: Mingau, Pierre, Elvis de Paula e Daniel

Intérprete: Wilsinho de Cima

Clareia, Olorum, clareia
Abre os caminhos
A minha escola vai passar
Tem jongo, tem capoeira.
Da África de yorubá
“Justa e perfeita” é a saudação
Vou pedir licença aos orixás
E de encontro à nova pátria mãe gentil
Com o destino traçado o negro aqui chegou
No Amazonas, bem ao norte do Brasil
Ago ye Mãe África
Hoje vou tocar meu agogô
Ago ye um grito forte
No quilombo do tambor
É hora de liberdade
De igualdade e fraternidade
Nossos irmãos que alegria!
Quebraram as correntes graças a Maçonaria
Quatro anos antes deu-se a libertação
Pela vontade do povo
No Dez de Julho sagrado
O grão mestre consagrado com negro sorria!
Mãe Zulmira é samba, é luz e é felicidade.
Desce com o morro pra alegrar toda cidade.
Ô ô ô A Reino Unido vem cantar
Ô ô ô E linda historia revelar
Água de cheiro perfumando essa massa
Tem reza forte, hoje tem festa da raça.


No dia 31 de janeiro de 2008, quinta-feira, o Portal Amazônia publicou uma matéria intitulada “Programação dos desfiles das escolas de samba de Manaus”:

Os desfiles das escolas de samba de Manaus acontecem nesta sexta-feira, (1º ), com as escolas do 1º e 2º Grupo. No sábado (2) , será a vez das agremiações do grupo especial entrarem na avenida.

No sábado, o Carnaval amazonense inicia às 19h30 com a Balaku Blaku. Até às 20h40 a escola levará para a avenida a história do primeiro bailarino amazonense a fazer parte da Companhia de Dança Americana “American Ballet Theater”, Marcelo Mourão.

Por volta das 20h50 até às 22h, entra na avenida a Sem Compromisso com o enredo “Centenário da Imigração: uma epopéia japonesa nas terras do Brasil”, a história de 70 anos da vinda dos japoneses para a Amazônia.

Em seguida será a vez da Unidos da Alvorada, que desfilará às 22h10 até às 23h20, com o tema “Aquecimento Global”.


Das 23h30 às 00h40, a Reino Unido da Liberdade mostrará a história da libertação dos escravos no Amazonas.

A Grande Família desfilará das 01h50 às 2h. A escola homenageará o município de Borba no Carnaval 2008.

Já a verde e rosa Vitória-Régia, tem previsão para iniciar sua apresentação às 02h10 até às 3h20 do dia 3. A escola abordará a história do Mercado Adolpho Lisboa.

Às 03h30 até às 4h40, A Aparecida passará pelo sambódromo, com o enredo “Luz, câmera, ação! Aparecida apresenta uma história de paixão”, para apresentar a história do cinema na capital amazonense.

Às 04h50, a última escola passará pela pista do Sambódromo. A escola Presidente Vargas do bairro da Matinha, no centro de Manaus.


As confusões decorrentes dos julgamentos dos anos anteriores, que supostamente penalizavam o GRES Reino Unido, foram motivos de muito quiproquó na Associação do Grupo Especial de Escolas de Samba de Manaus (Ageesma).

Foi preciso a Secretaria Estadual de Cultura (SEC) intervir e ameaçar suspender os repasses do governo estadual para as escolas de samba se os dirigentes não chegassem a um consenso.

Depois de várias reuniões a porta fechadas, os representantes das escolas de samba fecharam um acordo que introduzia algumas mudanças no regulamento pela Ageesma.

Ficou estabelecido que seriam apenas nove os quesitos de julgamento do Carnaval de Manaus daquele ano.

No total seriam 36 jurados distribuídos em quatro blocos de nove quesitos cada, ficando sob a responsabilidade de um jurado o julgamento específico de um único item do Carnaval.

Todas as quatro notas deveriam ser computadas na apuração.

As notas atribuídas viriam de 7 a 10 pontos, podendo o julgador dar notas quebradas com até duas casas decimais, tais como 8,2; 7,65; 9,87; etc.

As notas consideradas “baixas” deveriam ser justificadas pelo jurado, para efeito de entendimento por parte das diretorias das escolas.


Os quesitos que seriam julgados no Carnaval de Manaus e suas respectivas exigências eram os seguintes:

Bateria: Sustenta a cadência indispensável aos movimentos dos conjuntos no desfile. Canto e dança se apóiam no ritmo da bateria. O julgador deverá observar a regularidade e sustentação da cadência; a marcação firme e precisa; o equilíbrio dos naipes do conjunto na composição instrumental; a perfeita conjugação dos sons emitidos pelos vários instrumentos. O ritmo variado e a diversificação dos breques e paradas e sua volta a cadencia, corretamente, evidenciará a versatilidade da bateria;

Samba-Enredo: Gira em torno do tema central do enredo que a escola apresenta. Possui estilo característico e versos apropriados à melodia e não deve ser julgado como peça literária. É o único quesito em que o julgador subdivide as notas, conferindo pontuações para letra e melodia. É fundamental que o componente cante o samba durante o período do desfile;

Harmonia: Exprime a unidade vital do desfile, do ponto de vista musical. Julga-se o comportamento da escola, o perfeito entrosamento, coordenação e sincronismo, entre canto e ritmo, como base musical para os movimentos coreográficos da escola. A continuidade e a inalterabilidade entre o canto e o ritmo (que repercute na dança) representam o ponto forte da harmonia. O fenômeno chamado de “atravessamento do samba” que acontece quando uma parcela dos componentes canta uma parte da letra, enquanto outra parcela, concomitantemente, canta outra parte da mesma letra, entoando outros versos caracteriza falta de harmonia;

Evolução: É o andamento da dança de acordo com o ritmo do samba que está sendo executado (com ritmo do samba-enredo e a cadência da bateria). Devem ser consideradas a fluência da apresentação, espontaneidade, criatividade, empolgação, vibração, agilidade e a vigor dos desfilantes. A abertura de claros (buracos) é penalizada com perdas de pontos;


Enredo: É o tema central do desfile, uma criação artística, em forma de construção narrativa e/ou descritiva de um tema ou conceito. Devem ser considerados pelos julgadores, dentre outros aspectos, o seu argumento e o roteiro, ou seja, o desenvolvimento seqüencial das diversas alas, alegorias, grupos etc, que irão possibilitar o entendimento do tema ou conceito proposto;

Alegorias e Adereços: Concepção plástica do enredo, quanto à originalidade, propriedade, movimento, cores e efeito. Estão em julgamento as alegorias, qualquer elemento cenográfico que esteja sobre rodas, e os adereços, quaisquer elementos cenográficos que não esteja sobre rodas. São observados principalmente a adequação das alegorias e dos adereços ao enredo, os quais com suas formas, devem cumprir a função de transmitir o conteúdo desse enredo. As fantasias dos destaques e figuras de composição são julgadas nesse quesito;

Fantasias: Criatividade, bom gosto, originalidade, colorido, efeito individual e conjunto de alas da escola, variedade e adequação aos personagens representados, são os pontos importantes que devem ser considerados. São julgadas nesse quesito as fantasias das alas, inclusive bateria e baianas;

Comissão de Frente: Tem a função primeira de saudar o público e apresentar a escola, a perfeita coordenação, e precisa sintonia de movimentos da exibição, além da indumentária são observadas no julgamento;

Mestre Sala e Porta Bandeira: Na exibição dos dois reside tradicionalmente à forma com que a escola homenageia o povo e amigos, apresentando-lhes suas bandeiras. No julgamento serão observados: postura, elegância, graça, leveza e majestade da Porta Bandeira; flexibilidade, variedade de passos, cortesia e proteção a Porta Bandeira por parte do Mestre – Sala, e coordenação dos movimentos do par;


Muito luxo e sambas-enredo empolgantes marcaram os desfiles da escola de samba de Manaus.

Como das outras vezes, o GRES Reino Unido fez um desfile impecável, com carros alegóricos luxuosos, fantasias extraordinárias, alegorias de apurado bom gosto e os brincantes cantando o samba do começo ao fim do desfile.

A disputa para saber quem seria a grande campeã do carnaval 2008 prometia ser muito acirrada, com Reino Unido, Vitória Régia e Aparecida sendo apontadas pelo público como as grandes favoritas.

No final da apuração, a Aparecida ganhou por quatro décimos da Vitória Régia, e a Reino Unido amargou uma terceira colocação.

Pontuação

Aparecida: 269,68
Vitória Régia: 269,28
Reino Unido: 268,65
Sem Compromisso: 266,6
A Grande Família: 267,8
Unidos do Alvorada: 268,1
Balaku Blaku: 266,5
Presidente Vargas: 263,7

































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