O engenheiro civil, compositor e parapsicólogo Carlão
Um dos grandes talentos do Morro da Liberdade, o compositor e designer gráfico Jorge Hallen, conhecido mundialmente como Chocolate, sempre teve uma vida amorosa atribulada.
Mulherengo desde a primeira infância, com 19 anos ele foi fisgado pela deidade de mau-caráter chamada Cupido, aquele filho bastardo de Vênus, a deusa do amor.
Chocolate ficou com os quatro pneus arriados por uma passista do Morro, que tinha uma padaria pra lá de excitante.
Namorou, noivou e casou em menos de seis meses.
Ele mesmo escolheu o terno para usar na cerimônia: um belíssimo paletó marrom (“cor de mel com areia”, segundo o poeta Gilsinho), com revestimento em seda chinesa e bolsos de pele de chinchila.
No dia do casamento, Chocolate estava mais alegre do que mosca em tampa de xarope.
A lua de mel, numa pousada incrementada no Paraná do Ramos, abaixo de Itacoatiara, durou mais de uma semana.
Menos de um ano depois, a distinta consorte resolveu pular a cerca.
Quando Chocolate descobriu que o novo inquilino da padaria de sua amada era o dono de uma panificadora, chegou a ter vontade de queimar a rosca, só pra sacanear com os dois.
Foi contido a tempo pelos amigos de sempre: Carlão, Gilsinho, Jairo, Ivan, Bosco, Luizinho.
Um ano depois, quando as lágrimas e as mágoas se acabaram, Chocolate descobriu que chifre é igual a consórcio: um dia, quando menos se espera, o sujeito é contemplado.
Competente e digno como sempre, ele foi à luta.
Depois de dois anos, uma nova passista do Morro lhe perturbou o juízo.
Amor à primeira vista.
Chocolate ficou com os quatro pneus, o estepe e o velocímetro desmantelados pelos lábios carnudos da guria.
Namorou, noivou e casou em menos de seis meses.
Ele mesmo escolheu o terno para usar na cerimônia: um belíssimo paletó marrom (“cor de mel com areia”, segundo o poeta Gilsinho), com revestimento em seda chinesa e bolsos de pele de chinchila.
No dia do casamento, Chocolate estava mais sério e concentrado do que cachorro andando de canoa.
A lua de mel, numa pousada incrementada no Lago do Limão, em Iranduba, durou mais de uma semana.
Menos de um ano depois, a distinta consorte resolveu pular a cerca.
Quando Chocolate descobriu que o novo inquilino dos lábios carnudos de sua amada era um violonista de bossa nova, teve vontade de quebrar seus LPs do João Gilberto, só pra sacanear com os dois.
Foi contido a tempo pelos amigos de sempre: Carlão, Gilsinho, Jairo, Ivan, Bosco, Luizinho.
Um ano depois, quando as lágrimas e as mágoas se acabaram, Chocolate descobriu que chifre é igual a sapato branco: só fica bonito nos outros.
Competente e digno como sempre, ele foi à luta.
Virou vegetariano e passou a só comer brotinhos.
Um dia, um amigo dele resolveu casar e o convidou para padrinho.
Solícito como sempre, Chocolate emprestou seu velho paletó para o compadre usar na cerimônia: aquele mesmo, o tal paletó marrom (“cor de mel com areia”, segundo o poeta Gilsinho), com revestimento em sede chinesa e bolsos de pele de chinchila.
No dia do casamento, o compadre estava mais eufórico do que vascaíno em dia de derrota do Mengo.
Seis meses depois, o compadre do Chocolate já era o mais novo membro da confraria de São Cornélio.
Estudante de parapsicologia, o engenheiro e pagodeiro Carlão pediu do Chocolate para ver as fotos oficiais do 1.º e do 2.º casamento.
Ele quase enfartou: com exceção do padre e dos dois coroinhas, todos os sujeitos que apareciam nas fotografias haviam sido corneados em condições inexplicáveis. Ali tinha coisa.
Depois de analisar a situação durante uma semana sem entender direito o que estava acontecendo, Carlão resolveu radicalizar e foi falar diretamente com a Mãe Zulmira, guia espiritual da Zona Sul e adjacências.
Ela colocou vidência, jogou os búzios, convocou os Orixás e foi na ferida: “Mande meu zifio jogar fora o paletó cor de mel com areia. Ele atrai coisas ruins. Mel com areia só dá melda!” (Claro que a doce Mãe Zulmira não usava esse linguajar. É só força de expressão!).
O enigma havia sido desvendado, mas foi um custo convencer Chocolate a se desfazer do tal paletó.
Enquanto Carlão o imobilizava com um “mata-leão” e Bosco Saraiava o segurava pelas duas pernas, Gilsinho e Ivan entraram na casa, localizaram o traste e o incendiaram no cruzamento das ruas São Pedro com Martins Santana, no meio de muita queima de pólvora, derramamento de cachaça e sacrifício de bodes e galinhas pretas.
O descarrego deu certo.
Alguns anos depois, Chocolate conheceu uma mulher maravilhosa, com quem vive até hoje.
Nunca mais ele sequer passou em frente de uma vitrine onde estivesse sendo exibido um paletó marrom.
Nenhum comentário:
Postar um comentário