terça-feira, 19 de abril de 2011

Folclore dos Meninos do Morro (15)


O jornalista Hiel Levy havia sido contratado pelo GRES Reino Unido como assessor de imprensa e relações-públicas.

Para mostrar serviço, ele levou para a quadra da escola, pela primeira vez, o jornalista Sérgio Bártholo, que sempre gostou de pagode.

Se tudo desse certo, Sérgio poderia fazer um comentário simpático sobre a escola de samba no jornal em que trabalhava.

Os dois chegaram ao Bar do Lateral, começaram a biritar numa mesa e resolveram discutir amigavelmente sobre os estrupícios do mundo.

Depois de quase meia hora de conversa, se aproximaram dois ex-presidentes da Reino Unido, Jairo Beira-mar e Niceias Magalhães, que resolveram fazer companhia aos jornalistas. Uma questão de diplomacia.

Sem saber de quem se tratava, Serginho estava empolgado com o próprio discurso (as origens das desigualdades sociais) e resolveu ser categórico:

– Se essa nossa polícia não fosse tão corrupta, tão mesquinha, tão bandida, tão safada e tão covarde na hora de enfrentar as oligarquias e o crime organizado, a história seria outra, Hiel, a história seria outra! Eu digo isso porque conheço um monte de policiais e todos eles são ladrões! Nessa nossa polícia só tem filho da puta, Hiel, só tem filho da puta!

Serginho disse isso, sorveu um gole de cerveja, e só então foi apertar na mão dos ilustres cidadãos, que haviam se abancado na mesa:

– Prazer, Sérgio Bártholo, jornalista.

– O prazer é meu. Eu sou o Niceias Magalhães, policial civil.

Serginho ficou meio sem jeito e estendeu a mão para Jairo Beira-mar.

– Prazer, Sérgio Bártholo, jornalista.

– Muito prazer, seu Sérgio Bártholo. Meu nome é Jairo Beira-mar, e eu também sou policial civil.

Serginho quase teve uma síncope cardíaca.

Dois policiais civis na mesa, no momento em que ele acabara de sacanear com a polícia. Aquilo devia ser um pesadelo.

Hiel apressou-se em explicar que os dois eram ex-presidentes da Reino Unido.

Os quatro ficaram calados, se analisando, por quase dez minutos.

O investigador Jairo Beira-mar, com a tranquilidade de sempre, quebrou o silêncio constrangedor:

– O senhor tem razão, seu Sérgio, mas só em parte. A história não é bem assim.

E pôs-se a falar do trabalho (digno e meritório, diga-se de passagem) deles dois, no papel de investigadores da Polícia Civil.

Serginho, depois do puta susto, ficou travado.

A cerveja esquentando no copo e ele procurando um bueiro para se esconder.

Sabedor de que nunca há uma segunda oportunidade para se causar uma primeira boa impressão, Serginho começou a elogiar a Polícia Civil.

E seu discurso foi tão eloquente, brilhante e elucidativo, que até hoje Jairo e Niceias pensam que a Polícia Civil é dez vezes melhor do que eles próprios acreditam.

Ninguém pode confiar em jornalistas.

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