O jornalista Hiel Levy havia sido contratado pelo GRES Reino Unido como assessor de imprensa e relações-públicas.
Para mostrar serviço, ele levou para a quadra da escola, pela primeira vez, o jornalista Sérgio Bártholo, que sempre gostou de pagode.
Se tudo desse certo, Sérgio poderia fazer um comentário simpático sobre a escola de samba no jornal em que trabalhava.
Os dois chegaram ao Bar do Lateral, começaram a biritar numa mesa e resolveram discutir amigavelmente sobre os estrupícios do mundo.
Depois de quase meia hora de conversa, se aproximaram dois ex-presidentes da Reino Unido, Jairo Beira-mar e Niceias Magalhães, que resolveram fazer companhia aos jornalistas. Uma questão de diplomacia.
Sem saber de quem se tratava, Serginho estava empolgado com o próprio discurso (as origens das desigualdades sociais) e resolveu ser categórico:
– Se essa nossa polícia não fosse tão corrupta, tão mesquinha, tão bandida, tão safada e tão covarde na hora de enfrentar as oligarquias e o crime organizado, a história seria outra, Hiel, a história seria outra! Eu digo isso porque conheço um monte de policiais e todos eles são ladrões! Nessa nossa polícia só tem filho da puta, Hiel, só tem filho da puta!
Serginho disse isso, sorveu um gole de cerveja, e só então foi apertar na mão dos ilustres cidadãos, que haviam se abancado na mesa:
– Prazer, Sérgio Bártholo, jornalista.
– O prazer é meu. Eu sou o Niceias Magalhães, policial civil.
Serginho ficou meio sem jeito e estendeu a mão para Jairo Beira-mar.
– Prazer, Sérgio Bártholo, jornalista.
– Muito prazer, seu Sérgio Bártholo. Meu nome é Jairo Beira-mar, e eu também sou policial civil.
Serginho quase teve uma síncope cardíaca.
Dois policiais civis na mesa, no momento em que ele acabara de sacanear com a polícia. Aquilo devia ser um pesadelo.
Hiel apressou-se em explicar que os dois eram ex-presidentes da Reino Unido.
Os quatro ficaram calados, se analisando, por quase dez minutos.
O investigador Jairo Beira-mar, com a tranquilidade de sempre, quebrou o silêncio constrangedor:
– O senhor tem razão, seu Sérgio, mas só em parte. A história não é bem assim.
E pôs-se a falar do trabalho (digno e meritório, diga-se de passagem) deles dois, no papel de investigadores da Polícia Civil.
Serginho, depois do puta susto, ficou travado.
A cerveja esquentando no copo e ele procurando um bueiro para se esconder.
Sabedor de que nunca há uma segunda oportunidade para se causar uma primeira boa impressão, Serginho começou a elogiar a Polícia Civil.
E seu discurso foi tão eloquente, brilhante e elucidativo, que até hoje Jairo e Niceias pensam que a Polícia Civil é dez vezes melhor do que eles próprios acreditam.
Ninguém pode confiar em jornalistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário